O Que é Espiritualidade?



A empresa que pretenda desenvolver com seus colaboradores uma busca espiritual, deverá como em qualquer outra área, planejar e definir os objetivos que pretende alcançar. Daí que surgem algumas questões que devem ser debatidas antes de iniciar a investida, é como em qualquer outra área de trabalho, discutir o assunto, definir objetivos, métodos e processos.

Em primeiro lugar, é necessário entender o que é espiritualidade e o que ela pode trazer de bom para a empresa e seus colaboradores.

O que tenho observado, e talvez muitos concordem comigo, pois basta um gestor de RH tentar buscar informações sobre o assunto, seja na Internet ou em revistas especializadas, em geral de RH, para perceber que ninguém está sabendo bem com lidar com o assunto.

O que encontramos, são pessoas de diversas formações dando o seu palpite de boa vontade. Porquanto divergem em questões secundarias e em geral nem chegam a tocar nos pontos essenciais.

Isso quando não aparecem alguns adeptos de supostas espiritualidades alternativas totalmente esotéricas, que levam nada a lugar nenhum.

O que se encontra, é um monte de opiniões diversas sem base científica ou sem um mínimo de conhecimento sobre o assunto. Base científica, porque a quem cabe efetivamente tratar desse assunto senão a Teologia? É, teologia é uma ciência. E uma das mais antigas.

Não chamamos um engenheiro, para opinar em um assunto de medicina, por exemplo. Então porque não consultar um teólogo para assunto que lhe diz respeito e tão sério quanto a espiritualidade?

Lendo e pesquisando sobre o assunto, observei diversas opiniões de entendidos em gestão de RH, mais de dez, e de grandes corporações, e constatei que lidam com o assunto de forma meramente conceitual e superficial. Quando na verdade é mais do que isso, e o que as pessoas buscam e esperam também é muito mais profundo.

Alguns chegam a dizer que se deve buscar a espiritualidade, mas deixar religião de lado. Ora, só por isso, já se percebe que sequer sabem o que significa religião. E por conseguinte o que é espiritualidade. O que não significa que devemos implantar Igrejas dentro das empresas, nada disso.

Outro diz, que todos os caminhos levam a Deus e que por isso qualquer coisa que promova o bem é válido. Também contesto essa afirmativa. Por exemplo um traficante de drogas é tido pela comunidade em que vive como uma pessoa boa, em geral eles ajudam a sua vizinhança com recursos financeiros, sei de um que inclusive sustenta duas creches comunitárias. Está fazendo o bem? É claro que está, mas que por si só não o livra de ser um criminos, um destruidor de vidas pelo produto de seu crime, quando não mata efetivamente àqueles que se opõe a suas vontades. Logo, o mal social e as seqüelas que provoca são muito maiores que o bem que promove. Os meios não justificam os fins.

A busca e a pratica de uma espiritualidade séria e bem orientada, traz consigo conseqüências muito boas para o indivíduo, com reflexos diretos nos diversos meios em que se encontra, trabalho, família e sociedade em geral.

A espiritualidade, não é apenas a busca de um bem estar psico-emocional, individualista e momentâneo. É um processo de crescimento interno que vai fortalecendo os valores morais e éticos, a forma de ver as coisas ao seu redor, as relações interpessoais, em suma, vai desenvolvendo as virtudes humanas.

Uma pessoa se torna melhor pelo que ela é interiormente, não pelo que ela faz ou externaliza.

Alguém que se disponha a praticar ações de voluntariado por exemplo, em uma instituição, pode estar fazendo apenas por uma questão de modismo. Não porque isso faça parte do seu interior.

Hoje vivemos num mundo relativisado onde muitos já não sabem o sentido de sua própria vida, e nessa busca de sentido da vida, se criou um voluntariado meramente social. Por puro modismo, ou porque conta pontos para a empresa receber um troféu de qualidade. Senão, meramente para um consolo egocêntrico. Não é que não se deva praticar a caridade e investir em projetos sociais sérios. Mas, é totalmente diferente, quando a motivação para tal ação parte de seu interior emocional, com base numa fé exercitada por uma espiritualidade que lhe faz ver o próximo como alguém desprovido de atenção e necessita de cuidados.

Apoiado na espiritualidade e na esperança de um mudo melhor, pode propiciar um bem ou minimizar as dificuldades alheias, alcançando tal grau de amor ao próximo na prática da caridade sincera. Os frutos, são o gozo de partilhar alegria e esperança com quem temos compaixão.

Fui por dezoito anos diretor de uma instituição filantrópica que abriga crianças vítimas de maus tratos, na faixa etária de 0 à 6 anos, e pude constatar com muita clareza esse tipo de situação. Especialmente em épocas em que a mídia nos conduz ao consumismo desenfreado como Natal, Páscoa e Dia da Criança.

Verdadeiro pavor é administrar tanta oferta de atenção. Mas uma atenção sem a verdadeira consciência caridosa que provê as suas necessidades mais básicas como alimentação, calçados e o sustento das duas casas em que vivem estas mais de quarenta crianças, na sua maioria bebês.

Mas isso, parece não importar muito ao ego das pessoas que insistem em fazer entregas de presentes fantasiadas de papai-noel ou coelhinho.

Em média por ano, temos pelo menos quinze ofertas desse tipo de coisa, só na semana que antecede o Natal. Às vezes até duas por dia, nem as crianças agüentam.

Certa vez sem sequer combinar, chegou um caminhão enorme de brinquedos arrecadados por um grupo de funcionários de uma grande empresa, tivemos que distribuir em duas vilas de Porto Alegre, pois não havia espaço para guardar, tamanha a quantidade.

E chamam a isso de espírito de Natal.

Interessante é a reação quando tentamos explicar para estas pessoas o verdadeiro sentido do Natal, e que seria mais importante se cada um pudesse colaborar com um valor mínimo mensal para cobrir as despesas de suas necessidades no decorrer de todo o ano. Não poucas vezes, fomos destratados e recolheram seus brinquedos e seu papai-noel, e se retiraram.

Ora isso é praticar o amor? Sim porque a caridade, é a prática do amor. Mas a ferida de seu ego era maior do que qualquer amor ao próximo.

É por essas coisas que se percebe claramente a necessidade urgente de se pensar em ajudar os nossos colaboradores a buscar o verdadeiro sentido da vida, por meio de uma espiritualidade bem conduzida e séria.

Banalizar o Natal, a Páscoa ou o próprio Dia da Criança, está na mesma proporção da banalização da vida, dos valores éticos e morais, o próprio sentido de filantropia que foi substituído pela “ação solidária”.

Uma pessoa espiritualizada, é alguém que passa a refletir nos porquês da vida. E sentir-se-á mais fortalecida para enfrentar obstáculos e dificuldades. E certamente ainda lhe restará forças para ajudar a outros.

Sugiro aos gestores de RH que pensem seriamente em como vão propiciar e estimular esse tipo de busca aos seus parceiros de trabalho. Pois trazendo “qualquer coisa” achando que é bom, poderá ser pior do que não oferecer nada. Como diz o velho e sábio ditado – “antes só, do que mau acompanhado”.
Autor: Roberto Kerber


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