Esperanças e Internet - construindo castelos



Construindo castelos.

Quais os encantos da internet, em termos de relacionamentos ou, melhor dizendo, de busca por relacionamentos, que hoje são capazes de fazer as pessoas acreditarem mais no que não vêm, não de perto, e sequer tocam, sentem a presença ou mesmo o cheiro, mas ainda assim conseguem ser muito mais criativas em esperanças que nos sonhos que antes existiam apenas no seu intimo ?

Nota-se que os sites de maior sucesso, de mais acessos, são exatamente aqueles que se propõe fornecer meios para que as pessoas se conheçam e se encontrem, os chamados sites de relacionamento (ou busca).

Mas quais os riscos dessas buscas virtuais ?

Na verdade podem ser muitos mas de todos os possíveis, os imagináveis e mesmo os que ainda sequer aconteceram, o mais grave de todos é a perda da naturalidade do encontro, dessa oportunidade tão especial que é quando duas pessoas se encontram, prontas, feitas e aceitas como são, satisfazendo-se mutuamente sem qualquer restrição ou desejo por ser completado.

Nos sites de encontro, de relacionamento ou mesmo de simples “chat”, tudo o que se vê na verdade nem sempre é o que de fato existe, o real, muitas vezes, a maioria das vezes acabamos vendo mais daquilo que procuramos, que desejamos encontrar – que sonhamos – do que o que realmente se oferece à nossa frente, na tela fria do computador que, por trás de uma suposta privacidade, nos leva fundo na mágoa e nas tristezas que ainda esperam para acontecer quando concluirmos – e isso acontece na quase totalidade dos casos – que a “outra parte” não é exatamente como dizia – ou se mostrava ser.

Mas também, na maioria das vezes, não estamos atentos para o fato, a realidade que nem sempre a outra pessoa buscou se mostrar ser alguém, na verdade nem sempre se mostrou, muitas vezes apenas permitiu ser vista e fomos nós que, projetando no que vemos aquilo que desejamos ver, aquilo que pensamos ser o objeto de nossa busca, nós mesmos é que deixamos criar um ser, uma pessoa que não existe, como todas aquelas que são fruto de nossa mente, afinal não somos o Criador, não temos o poder de criar vidas, pessoas ou sequer dar às que existem a forma que desejamos que elas tenham.

Cada pessoa é um ser perfeito em si mesmo guardado, e como tal deve ser entendido, aceitado e não buscado.

Na vida não é necessário que se busque por quem irá nos completar, basta que esperemos pois que se para cada um existe um alguém, não necessariamente obriga-se que ambos busquem, um pelo outro.

O belo da vida, a beleza do amor está no encontro e não na procura.

Procurar é quebrar o ritmo natural da vida, é tentar alterar o curso da vida, é tentar ser Deus, é ser imediatista, desejar tudo pronto, na hora e no lugar.

Não foi assim que fomos feitos, não é assim que seremos felizes, não será assim que encontraremos aquele que nos completará completamente.

Fomos feitos para as surpresas, para as emoções e destas, a maior de todas é, sem dúvida, o amor !

Amor incondicional que pode ser cego, irracional, burro ou mesmo maluco, mas vem de dentro, é sentimento “de dentro para fora”, ou seja, nasce lá dentro, não é fruto de nada externo, nem sequer de nossos pensamentos e desejos, afinal como é que podemos desejar alguém para amar sem antes ter amado este alguém ?

O amor nasce primeiro, o resto é o acréscimo.

A internet, com suas facilidades para tornar o mundo menor, para aumentar a facilidade de acesso às pessoas, nos proporciona uma vitrine que além de infinita parece ser cheia de maravilhas, mas não é bem assim.

Quando vemos na tela o rosto ou o corpo de uma pessoa que pessoalmente ainda não conhecemos, estamos vendo uma pessoa que nos vê da mesma forma, mas nenhum de nós vê exatamente como cada um de fato é.

Vemos mais o que desejamos, damos uma forma melhor que a real, atribuímos qualidades que beiram a perfeição mas ainda assim nos descuidamos para um detalhe importantíssimo: não damos exclusividade !

Continuamos “disponíveis” e basta isto para que entendamos o quanto estamos nos auto enganando.

Acaso a pessoa encontrada seja, de fato, a mais perfeita possível para a realização de nossos desejos, para a concretização de nossos sonhos, então porque razão ainda continuamos “disponíveis”, falando com outras – geralmente novos contatos – sem abandonar a “busca” ?

De que adianta colocar no nosso perfil palavras que demonstrem que estamos “namorando”, “compromissados” ou coisas do tipo se ainda continuamos ali, no site, na página, no perfil, na internet ?

Não seria mais correto sair, nada e ninguém mais desejar encontrar, conhecer ou desejar ?

Porque será que isto não acontece ?

Vejamos. As esperanças são como materiais de construção, quando as recebemos - quando nos damos conta de que precisamos ter alguém para que sejamos completos – elas nos são entregues em perfeito estado, novinhas em folha, certinhas, sem qualquer defeito, bonitas como tijolinhos que saíram do forno, com as quinas bem vivas, sem trincas, inteiros, lisos, certinhos.

Com elas, ao encontrarmos alguém, começamos nossa “construção”, nosso castelo no qual vamos viver na companhia da pessoa encontrada.

As paredes vão sendo erguidas pelas palavras, pelas “supostas coincidências” que “encontramos” presentes na pessoa, na sua forma de ser, nas suas preferências, nos seus hábitos, nas manias e até mesmo naqueles defeitos que admitimos, mutuamente, possuirmos.

O castelo vai sendo erguido, cada dia é objeto de uma longa espera para o momento da continuação da conversa mantida anteriormente, cada conversa vem com desejos e com mais força de desejo.

Os momentos de diálogo duram horas que parecem ter sido segundos, não medimos mais o tempo pelo relógio e sim pelo desejo, pela ansiedade, pela paixão que estamos fazendo – ou permitindo – surgir, mas cada um de seu lado, cada um no seu mundo que nunca cabe inteiro na tela e, para piorar, tudo o que a tela mostra, todo acesso que ela permite, limita-se no tamanho e nas dimensões, apenas duas: largura e altura da imagem vista, sem profundidade.

Da mesma forma é o mundo da pessoa visto pela nossa tela, tem também menos dimensões, é menos complexo por mais semelhante, com o nosso, que possa parecer ser.

É um outro mundo, no qual não vivemos, nunca vivemos e não conhecemos dele nada que não seja aquilo que nos é passado e que recebemos muito mais da forma que desejamos que como realmente é.

Então, como tudo na vida tem começo, meio e fim, chega o momento em que já nos acostumamos com a pessoa, mais do que acostumados, não temos nela mais tanta paixão ou não com tanta força, tornou-se mais uma pessoa conhecida, menos uma para ser conhecida, uma a menos para ser a ideal e assim o interesse pelos contatos vai minguando, o desejo já não tem mais tanta força, a pessoa já não é prioritária e, pode mesmo até acontecer de não ser mais a única, a exclusiva, pode estar sendo comparada a uma outra recém surgida que nos parece ter muito mais pontos em comum.

Começa então a demolição do castelo com o recolhimento dos materiais.

Cai uma parede, uma outra, mais uma e assim, passo a passo o castelo se desmorona, os materiais são juntados, empilhados e disponibilizados para nova obra.

Mas é preciso perceber que agora o material, embora seja o mesmo – esperanças – não é mais novinho, não está como quando nos foi entregue, apresenta agora alguns estragos, tem suas quinas menos vivas, faltam-lhe pedaços, está meio arranhado, um pouco sujo, enfim, está usado !

Bem, nova obra para começar pois que a vida é dinâmica e a internet facilita tudo, acelera os contatos e possibilita esse dinamismo, essa facilidade de contatos que geram expectativas, desejos que tornam-se verdadeiras obsessões e tudo isto reclama nova construção, novo castelo e lá vamos nós, construir outro castelo com o mesmo – e único – material de que dispomos: ESPERANÇAS !

Outro castelo é erguido, depois demolido e depois dele mais outro, outro e mais outro, outro mais e assim por diante, até quando o material, já tão danificado, sequer permita que se construam castelos do mesmo tamanho, da mesma imponência e importância.

Ao final os castelos vão se diminuindo, vão tornando-se menores, menos bem acabados, obras aleijadas que sequer justificam ser habitadas, meras construções, vazias de coisas e de sentimentos, apenas um exercício de construção, uma obra a mais.

Chegará o momento quando nem castelo mais haverá. Será, talvez, um pequeno e humilde barraco, sem conforto algum, que nenhum orgulho dará ao construtor, mas, enfim, foi o que se pode construir com tão pouco material e de tão má qualidade, tão estragado que ficou e tanto que dele se perdeu nas construções anteriores.

Será que, neste momento, olhando para trás, no passado conseguiríamos nos imaginar como construtores e habitantes de tão precária edificação ?

Vamos nos lembrar que, nas primeiras obras a grandiosidade estava presente e era justamente ela que nos motivava a construir castelos imponentes, o melhor que nos era possível.

E agora ?

O que restou ?

Talvez uma choupana, um barraco simples, pobre, pequeno, feio, sujo, mal acabado, desconfortável e sequer suficiente para dois !

Este o resultado de tantas obras, tantos castelos que poderiam ter sido evitados.

O material – esperanças – poderia perfeitamente ter sido economizado, guardado até o momento quando a certeza nos chegasse de dentro e não pelas vias externas, por meio de “buscas” e “encontros” que não aconteceram, forma criados !

Ainda há tempo.

Tome as suas esperanças, seu material de construção, no estado em que agora ainda está, mesmo que já tenha sido usado uma ou mais vezes, mas ainda há tempo para que seja recolhido, organizado, reparado, consertado nos estragos, remendado talvez, mas que fique bem guardado pois ele é a coisa mais importante que você tem neste momento: é o material para a construção da sua HABITAÇÃO !

Acorde enquanto ainda há tempo, enquanto você ainda tem forças para recolher os materiais, conserta-los, guarda-los e vigia-los.

Conserve-os para a mais bela de todas as obras, aquela que vai abrigar não somente você, seus sentimentos, mas também tudo o que dele há de resultar e isto se chama “FAMILIA” .

É dela que você vem, é ela que você deseja ter, é para ela que você irá, portanto, é para ela também que você deve se preservar !

Lembre-se que nesta vida impera a ordem e existe uma ordem natural e invisível que rege todas as coisas e pessoas, nela você há de crer e crendo há de saber esperar, não muito, somente o suficiente para que a ordem se restaure, para que você conheça e reconheça a pessoa mais importante da sua vida: VOCE MESMO !

Falo por mim, construí tantos castelos que fiquei sem material !
Autor: Ricardo de Carvalho Siqueira


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