Seu velho fresco



Ele chegou com aquela petulância de sempre e jogou uma pasta na minha mesa. Como quem joga um papel de bala no chão. Não me deu bom dia, nem sequer me olhou. Apenas caminhou e disse: “Minha filha, preciso destes textos corrigidos até o início da tarde.”.

Minha filha uma ova - pensei eu – se eu fosse sua filha me mataria no primeiro dia de vida. Seu gordo careca miserável! Sua mulher deve ter pena do senhor e até medo de dormir ao seu lado e ser esmagada por sua barriga gigante.

“Minha filha, preciso de uma ligação para a empresa do senhor Carlos Augusto”: gritou ele da sua sala. Minha filha uma ova – pensei eu novamente – se eu fosse sua filha usaria drogas até esquecer o meu nome. Aliás, o seu filho - aquele mauricinho fashion - está ficando igualzinho ao senhor, seu velho narigudo.

“Minha filha, podes avisar minha esposa que irei almoçar em casa”: gritou ele, de novo. Não meu senhor, eu não posso – pensei eu mais uma vez -. Sua esposa está transando com o seu vizinho. Sim, aquele de uma perna só. Viu como o senhor está debilitado, seu velho vesgo.

“Minha filha, minha filha, minha filha”... Minha filha uma ova – gritei eu (silenciosamente). Porque o senhor não pula da janela e nos deixa em paz, seu velho fresco. Aproveita e fecha o zíper da próxima vez que voltar do banheiro. Eu não agüento mais procurar e não enxergar nada.
Autor: Juliana Farias


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