O “lingua solta” nas organizações



O “língua solta” não deve ser confundido com fofoqueiro.
Ninguém está livre de cometer um ou outro deslize de vez em quando no mundo corporativo, porém nesse competitivo mundo dos negócios, é necessário ter ética, respeito e relacionamento adequado com as pessoas.
Outro dia, lendo o livro “Quebre os 12 hábitos que ameaçam sua carreira”, deparei com um capítulo que relatava a vida de uma pessoa denominada “língua solta”. Procurei fazer analogia com o que se passa no nosso dia-a-dia e descobri o quão pernicioso é sofrer deste mal.
Os autores relatam a estória da Thao, que trabalhava numa grande agência de viagens sendo uma de suas profissionais mais produziam. Seu trato pessoal era fácil e caloroso e sua facilidade de abordagem com o cliente a destacava de outros colegas. Os clientes eram fiéis a ela e sempre que podiam a indicavam para futuros negócios. As melhores carteiras estavam em suas mãos, dentre elas a de um grupo de investidores. Durante evento de relevância, Thao distraidamente comentou que havia acabado de reservar bilhetes de primeira classe para Cingapura e hotéis de renome para alguns integrantes do grupo. Uma pessoa ouvindo o relato comentou-o com seus parceiros. Os sócios ficaram furiosos, pois em razão da competitividade, eles haviam mantido segredo sobre a viagem. Por isso demitiram não só a Thao, mas também desistiram de negociar com aquela agência de viagem.
Não era a primeira vez que Thao perdia o controle. Ela não era fofoqueira, pois jamais dizia qualquer coisa nociva em relação às pessoas e também não era maliciosa, sequer comentando problemas ou derrotas de alguém.
Na verdade tinha compulsão por dividir informações não resistindo a oportunidade de expor seus sentimentos, suas idéias e experiências.
Profissionais com esse padrão de comportamento não têm limites em relação à divisão de assuntos ligados ao negócio da organização e a outros determinados espaços do escritório, que, definitivamente, não devem sair dali. Da mesma forma, não conseguem separar assuntos relacionados a sua vida particular com os profissionais. O profissional com esse padrão de comportamento ouve relato de alguém dizendo, por exemplo, que talvez tenha que trabalhar no final de semana, e sem que apure os fatos, ela se dirige ao superior imediato pedindo que libere o colega do trabalho aos sábados, ou seja, sua intenção é de ajudar as pessoas e se fazer conhecida por essas benevolências.
Outra característica desse perfil é a falta de limite inerente às relações entre o líder e o liderado. Eles se consideram amigos de todos, porque contam sobre sua vida pessoal e ouvem as estórias dos colegas, sempre procurando encontrar palavras de conforto. As pessoas costumam gostar desse profissional até certo ponto – metaforicamente podemos compará-la a um cão labrador – enorme, amigo, porém exagerado.
Alguns autores defendem que o padrão de comportamento desse funcionário está relacionado, em parte a um distúrbio de déficit de atenção, geralmente associado à hiperatividade, enquanto outros afirmam que o déficit de atenção está na dificuldade de controlar impulsos de falar do que se passa em sua mente.
Outro fator se relaciona ao ambiente doméstico do indivíduo, no qual a auto-exposição de informações pessoais e de sentimentos compartilhados é aceita e estimulada. Os segredos não são permitidos e a privacidade é desestimulada. Em casa não existem “paredes psicológicas”. No caso de Thao, sua família era calorosa e a troca de informações fazia parte do ritual diário. Na hora do jantar, por exemplo, os problemas de todos eram trazidos para discussão, inclusive os particulares de Thao, como as próprias intimidades com seu namorado. Esse ambiente favorece que o “língua solta” faça do ambiente profissional uma extensão da própria casa, agindo da mesma forma e naturalmente.
Desse modo, podemos avaliar que indivíduos com esse padrão de comportamento podem ser bem sucedidos em seus negócios, porém têm que aprender a modular seu comportamento, concentrando-se naquele aspecto de sua personalidade que é atrativo e comprometido e neutralizando a compulsão de falar tudo o que vem à mente. Talvez o segredo esteja em aprender a ouvir mais, e falar menos.
Autor: Maria Bernadete Pupo


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