O sentido dos “outros” no turismo étnico.



O objetivo deste artigo é perceber as reações contraditórias do encontro turístico entre as relações do cotidiano de uns e o anticotidiano de outros.
A fusão entre estas duas práticas sociais e estruturas opostas, se combinam para gerar uma nova estrutura, objetos e prática na relação social entre turistas e comunidade local, quando se encontram para a atividade turística.
Os turistas vão ao encontro com a única missão de se divertirem, fugir do cotidiano, já a comunidade local envolvente re-estrutura-se, trabalham duro para satisfazer as fantasias e os interesses deles, instituindo, assim, características mercadológica, descontextualizada, ilegítima (mesmo que muitas vezes legítima e contextualizada para os turistas), mas ao mesmo tempo, proporciona um tipo atual de integração entre “o eu” e “o outro” na sociedade contemporânea.
A comunidade receptiva é reinventada como mercadoria, servindo e sendo atrativo para os turistas.
Normalmente, fazem a apresentação uma dança folclórica para recebê-los, colocam a roupa típica e demonstram o que a comunidade têm de melhor para oferecer aos turistas.
Não obstante, a atividade turística funciona como geradora de identidade fabricada para conduzir à venda das danças, rituais, alimentos, o modo de vida natural, da reprodução do exotismo, e, desta forma, serem encenadas para os turistas etc.
Para realizar a discussão sobre a relação com o outro em comunidades étnicas, abordamos o tema maneira generalizada, realizamos pesquisas bibliográficas, fomentando questões para análises mais aprofundadas.
PALAVRA-CHAVE:
Turismo, “o outro”, comunidade receptiva, cotidiano, anticotidiano, interior, exterior.

1.1 Quando a comunidade étnica são os “outros”?

O turista tem a sua interioridade (cotidiano, a sua natureza cultural2 e institucional) própria, possui costumes, estruturas e usos instituídos. Ele se apropria do território para fugir da rotina e voltar as condições do passado.
O turista tem a sua interioridade (cotidiano, a sua natureza cultural3e institucional) própria, possui costumes, estruturas e usos instituídos.
O cotidiano está intrínseco a interioridade de cada um, é a prática de condicionar e manipular os acontecimentos, e como diz Heller (1985, p. 15), “é a assimilação das relações sociais através da automatização de gestos repetitivos”.
Segundo Mesquita (1995, p. 19), “é no cotidiano que nos tornamos observadores de nós mesmo e do próximo, isto vale dizer, “do outro”, “dos outros” e do mundo, portanto, do território”. Nele, que estabelecemos as nossas relações de afeto, de segurança, concretização os sonhos, podendo ser também a base do exercício do hábito, da repetição, do tédio, do cotidiano.
Há ainda o inesperado fato de romper com o hábito no cotidiano se transportando para territórios criados para o turismo. A atividade de interação com o “outro” proporciona através da imaginação e da expectativa o contato com a sua exterioridade, assegurando através da socialização entre comunidade étnica e turistas os valores que o turista deseja emergir, (inter) relacionando o interior (cotidiano) com o exterior (anticotidiano).
Um dos aspectos que contribuem para esta interação é o imaginário, o processo de inversão para o exótico, a natureza e os índios sem contato com o mundo externo, calor, tranqüilidade, vida mansa, não relação com o consumo e as nossas normas, paraíso, imagens sedutoras e, mais ainda, relacionadas com as imagens que o Brasil é conhecido e apresentado no exterior.
Tal imagem colabora para garantir a fuga do cotidiano e a entrada para a não - rotina.
Na estrutura social do local onde encontram-se turistas e índios a oposição contribui para definir tipos de comportamentos inversos mas complementares no fenômeno do turismo.
A interação entre a comunidade étnica que está exercendo suas relações da cotidianidade (trabalho) com os turistas que estão fugindo para as relações de anti-cotidianidade (lazer).
Mesquita (1995) cita Sartre que se expressa sobre a sobreposição do cotidiano com o anticotidiano:
(...) além de associar cotidiano ao território [no caso o urbano], desvenda-nos duas personagens, dois olhares diferentes sobre o território cotidiano: o olhar habitual de seu usuário ou de seu habitante, e o olhar impregnado de imaginário e de desejo do estrangeiro, do viajante, daqueles que estão fisicamente alheios ao cotidiano daquele território, em oposição ao nativo. O contraste entre “o sonho” e “a realidade” nestes dois olhares que se deixam entrever expressarem pontos de vista divergentes sobre o que representam os territórios, no caso, urbanos – as cidades – para quem as habita ou para o olhar distante e fantasioso do forasteiro. Realmente o dentro e o fora resumem a uma questão de posição, de perspectiva, de ponto de vista.

A relação com o outro (a comunidade receptiva) conserva o mistério, a simplicidade e, obviamente, nada pode transpor a separação entre o interior e o exterior (outro) das pessoas e entre dentro e fora do cotidiano.
Os dois universos (turistas e comunidades receptivas) se hibridam na realidade de interação com o turismo, o primeiro porque precisam dos turistas para sobreviver, e o segundo porque precisam fugir do estresse da cotidianidade.
Segundo mostram alguns dados da Embratur os lugares mais procurados são os ambientes fabricados, artificiais, irreais, no qual percebemos a intenção de produzir lugares quase perfeitos; com pessoas sempre sorridentes, solícitas, bonitas, diferentes, agradáveis, maquiadas, ou, ainda com o modo de vida fabricado para serem naturais, simples, exóticos, com costumes diferentes, para desta forma, contrapor com o universo do cotidiano.
Quando o turista procura o território artificial, porém com aspecto do natural e do puro ele está buscando a exterioridade, a fuga de tudo que lembre a realidade, mas ao mesmo tempo, que conserve o conforto do cotidiano.
O turista da sociedade atual, busca a anticotidianidade fugindo da cotidianidade, mas com o conforto e a segurança de sua casa, ou melhor, não querem passar pelo desconforto e não abrem mão de certas rotinas do cotidiano como, por exemplo, não abrem mão da TV á cabo, do jornal diário, ar-condicionado, não deixam de ir à academia de ginástica e etc.
Exigem, então, a produção de ilhas turísticas, se for possível pagam preços mais altos para o “encaramujamento” garantir o conforto e a segurança em lugares artificiais e fechados. Sendo assim, os empresários do turismo oferecem o que os turistas exigem nas viagens de férias, conciliando o exótico/conforto; contato com a população local/mantendo a distância da miséria; a comida local/ a opção da outra comida que estão acostumados nos grandes centros; o calor e a praia/ transporte com ar-condicionado.
De acordo com a posição de Bauman (1998), ao mesmo tempo em que procuram as culturas diferentes, a busca por encontrar valores extintos e nostálgicos, conceber os valores esquecidos, a ingenuidade, simplicidade, o artesanato, o escambo, os rituais etc.
Os turistas paralelamente a estes sentimentos e a esta busca, agradecem por não estar no lugar da sociedade receptiva (mais pobres e dependendo de servir os turistas para o sustento). Considerando-a na maior parte das vezes atrasada e estranha.
Já a comunidade receptiva os enxergam como sendo “os que trazem dinheiro para o local”, “pessoas distantes”, “realidade desconhecida”, “são aqueles que vieram de longe”, “os donos da liberdade”, “possuidores do direito de fugir do cotidiano”.
Segundo Oliveira e Scoralick (2006, p. 33).

O outro vem a mim como um estrangeiro, alguém de uma outra terra (...) Ele é um estranho (...) E estranhos são sempre vistos com desconfiança e desprezo (...) Mas acolhê-lo, recebê-lo em minha casa, em meu ser é inevitavelmente dar início a uma aventura que não tem fim e nem volta. Na hospitalidade, sou levado a veredas que o meu coração não seria capaz de percorrer se permanecesse sozinho e fechado na imparcialidade silenciosa de seu anonimato.

Quando procuramos “exteriorizar” (busca pelo anticotidiano) e atravessar a vereda da cotidianidade através do turismo, estranhamos a realidade misteriosa, mas ou mesmo tempo pedimos para nos encontrarmos com o exótico.
Sendo assim, “o outro é infinitamente maior do que eu e, por isso, meu pensamento não pode comportá-lo nem compreendê-lo”. Oliveira e Scoralick (2006, p. 33).
Lévinas apreende da mesma idéia de Auge em suprimir a concepção de totalidade generalizada, mais permeada e estudada no ocidente. Repudia a idéia de reduzir a alteridade à totalidade, para ele “o outro é o outro”, em universos distintos, não fazendo parte da totalização do pensamento e do real.
Retoma a idéia de Auge que especifica a exterioridade e a interioridade, para se designar ao outro.
Isto quer dizer, que não é a mesma lógica do cotidiano para o turista em territórios que a comunidade étnica é a principal atração, já que o turista encontra no anticotidiano o propósito de sua viagem “o contato com o outro”.
Ele tenta encontrar na comunidade étnica a ser visitada a sua exterioridade, o seu outro lado, o retorno ao o que eu era antes de ser eu-mesmo no meu ordinário cotidiano.
Cheptulin (1982, p. 24) analisa as idéias dialéticas de Hegel que afirma sobre a relação com o outro:

“(...) ele relaciona-se imediatamente consigo mesmo e diferencia-se de si mesmo. Esta relação do “um” consigo mesmo, nada mais é do que a repulsa de si por si mesmo. (...) no processo de repulsão do um com relação a ele mesmo, e da posição de si mesmo como múltiplo, diz Hegel, é ele próprio um, e como tal repele igualmente o outro”.

A exteriorização é nítida em alguns aspectos da relação entre turistas e comunidade local, já que o turista emerge-se dos valores do cotidiano através da socialização em aldeias indígenas, comunidade japonesas, comunidade de quilombolas, mas ao mesmo tempo, exige o habitual do cotidiano (o mesmo conforto, o aspecto racional das cidades grandes; os pacotes turísticos planejados, ar-condicionado, TV, jornais, revistas, internet, bebidas e alimentos que também são encontrados na cidade, opção de alimentos especiais para turistas vegetarianos), conciliando e exigindo encontrar o mistério do exotismo, do desconhecido, do modo de vida natural, autêntico, simples etc.
Cheptulin (1982, p. 29), explica esta relação se opondo a opinião de Lévinas quando diz, “que a contradição não é eterna, a um determinado estágio de seu desenvolvimento ela se resolve e se transforma ou, segundo os próprios termos de Hegel, mergulha até a sua base”. O contato com “o outro” em grande freqüência pode transformar “o outro” em nós-mesmo, sendo assim pode se tornar em uma totalidade.
A outra possibilidade são os turistas quererem se desprogramar da vida conturbada citadina, mas sentem necessidade dos horários para a realização das atividades como trilhas, exposição do artesanato, show de como fazer o sal de aguapé em horários pré-determinados e, principalmente, programados, já que eles sempre optam pelos pacotes turísticos.
“Este tipo de turista opta por freqüentar os mesmo lugares em todas as férias.
A tese de Hegel, segundo a qual toda “a identidade está necessariamente ligada à diferença, supõe a diferença e que a diferença supõe a identidade, corresponde ao estado real das coisas”. Chaptulin (1982, p. 26).
Na análise do turismo em comunidades étnicas que percebemos a relação com a alteridade com mais evidência, pois há o reconhecimento da diferença étnica e o que transparece o sentido do turismo neste caso, porque o atrativo é o encontro entre diferentes etnicamente.
Pensar em uma relação de integração como é o turismo transformando e invertendo a concepção de quem é o turista e de quem é o membro da comunidade étnica local, pois como diria Geertz: “O que acontece com o eu quando o outro desaparece?” (2000, p.86).
Esta concepção defende que o turismo como forma de interação e prática social nos conduz para dialogarmos com o ponto de vista do outro, essa é a grande questão.
Esta relação de socialização concede o reconhecimento da identidade diferenciada entre eles (turistas citadino e índios que moram em aldeias), mas ao mesmo tempo proporciona o contato e a mistura entre os opostos e as semelhanças dos dois.
A partir da diferença percebemos o que nos faz iguais e o que nos faz diferentes um do outro, sendo que a atividade turística proporciona o encontro ente os dois.
Cheptulin (1982) afirma no livro “A dialética materialista”: “que alguma coisa deixa de aparecer sua natureza contraditória e revela ser a unidade dos contrários”.
Na concepção dos atores que utilizam da dialética para explicar as relações sociais, a exterioridade/interioridade; o cotidiano/anticotidiano; o turista/a comunidade local estão intrínsecos.
Cheptulin (1982, p. 24) analisa as idéias dialéticas de Hegel que afirma sobre a relação com o outro:

“(...) ele relaciona-se imediatamente consigo mesmo e diferencia-se de si mesmo. Esta relação do “um” consigo mesmo, nada mais é do que a repulsa de si por si mesmo. (...) no processo de repulsão do um com relação a ele mesmo, e da posição de si mesmo como múltiplo, diz Hegel, é ele próprio um, e como tal repele igualmente o outro”.

Por um lado, ele encerra um momento positivo, por outro, um momento negativo. Enquanto momento positivo, ele representa a realidade, isto é, o ser real (ou, segundo a expressão de Hegel, o ser em si), enquanto momento negativo, ele é o ser - outro (ou o “ser para um outro”). P. 22.
Ou melhor, no cotidiano (momento positivo) ele considera estar dentro da realidade e de relações internas, enquanto no anticotidiano (no momento negativo, ele é o ser outro), o turista em busca de sair da realidade.
O mesmo autor (1982, p. 22) ainda completa a afirmação acima dizendo “sendo um aspecto interno do “ser aqui” ou de “alguma coisa”, a negação do “ser-outro” ou “ser-para-um-outro”, encontrando-se em interação com a realidade, com o “ser-em-si”, determina seu limite que, por sua vez, não lhe é exterior (ao alguma coisa), mas “penetra todo ser-aqui””.
No lazer quando encontramos o contrário do que somos no cotidiano que construímos a identidade do indivíduo.
A tese de Hegel, segundo a qual toda “a identidade está necessariamente ligada à diferença, supõe a diferença e que a diferença supõe a identidade, corresponde ao estado real das coisas”. Chaptulin (1982, p. 26).
Quando entramos em contrato com o outro que identificamos “o que nós não somos” e concretizamos a nossa verdadeira identidade ou incorporamos por um tempo determinado no pacote turístico a identidade o outro (comunidade étnica).
No cotidiano, e nas relações de trabalho - no qual estamos envolvidos e manipulados pelas instituições e pelas relações que a sociedade impõe - de como “devemos ser” e como “devemos agir” nas cidades, tais imposições, nos destituem da nossa verdadeira essência.
No anticotidiano, no caso do exemplo do turismo nas aldeias indígenas, expressamos, muitas vezes, a nossa verdadeira personalidade, como por exemplo, o turista que nunca dança se relaciona e arrisca uns passos com os índios, também se pintam (na cidade usam terno todos os dias), alguns tentam decifrar o sentido das danças e rituais, outros preferem descansar na oca ou nadar no rio.
A viagem é um meio de socializar os índios/turistas e turistas/turistas, cada um de um jeito e do seu modo, alguns são mais “empolgados e soltos” pela fuga do cotidiano e outros menos envolvidos. Todos sentem a fuga cotidiana em um ambiente natural, valorizam a interação com pessoas (índios) e ainda não estão envenenados pelo estresse da civilização, transmitem energia pura e positiva.

1.2 – O turismo: como ilusão necessária.
È notável nos territórios voltados para o anticotidiano, com enfoque no “retorno ao passado”, ou “volta ao natural”, que pressupõe a fabricação do ambiente puro, voltado para a natureza (ecoturismo, turismo étnico como são chamados), ao mesmo tempo o racional das cidades instituírem a idéia de ascensão social.
Na sociedade contemporânea, fugir do cotidiano conturbado, buscar um estilo de vida puro, simples, modo de vida diferenciado, alimentação saudável é sinônimo de status social, pois em alguns lugares são concedidos apenas para classe dominante.
Obviamente que mantendo o mesmo nível de conforto do cotidiano, através da produção do espaço urbano (a exigência de racionalizar o lugar para proporcionar conforto) no que eles chamam de natural ou baseado na noção do “ecológico” ou do “étnico” modifica a essência do que se propôs a divulgar.
A relação entre o território e a sociedade também é modificada, ao qual o turismo é uma prática social que modifica a territorialidade, pois busca adequar aos interesses do imaginário do homem contemporâneo.
Entretanto, a relação sociedade/território é modificada, o turismo aparece como prática social contemporânea e como modificadora de tal relação social e territorial.
A atividade turística contribui para a inserção de valores contrários do cotidiano, exorbitam do real, tentam muitas vezes chegar à perfeição da simulação dos lugares e das pessoas.
O turismo como defendido por Van den Berghe e Keyes (apud. Grunewald, 2001), é sempre uma forma de relações étnicas e isso seria no caso do turismo étnico duplamente verdade, pois é a fronteira étnica que cria a atração turística.
Os índios ou os quilombolas que são atrativos dos turistas, neste caso eles se organizam, fundamentam o pacote, o espetáculo para mostrar aos visitantes, geralmente sem conscientizar ou interagindo na superficialidade.
Apesar de a encenação ser explicitamente voltada para o aspecto comercial, muitas vezes a experiência atende o imaginário do turista, pois ele procura a integração com comunidades étnicas considerando o atrativo (a integração com o outro) autêntico.
Nesse tipo de turismo o que se busca é o exotismo da cultura do outro, onde o nativo está como um espetáculo vivo a ser apreciado e fotografado Grunewald (2001).
O turismo étnico também seria um tipo de turismo cultural que é caracterizado pelo desejo e "satisfação de objetivos de encontro com emoções artísticas, científicas, de formação e de informação nos diversos ramos existentes, em decorrência das próprias riquezas da inteligência e da criatividade humana" (ANDRADE, 2002, p.71).
No entanto, muitas vezes, tanto o turismo étnico quanto o chamado turismo cultural, não promovem a experiência do turista em relação à cultura do outro de forma que esta não seja um mero espetáculo.
A interação social entre diferentes culturas ocorre, mas, obviamente, de forma descontextualizada, já que o sentido das danças, dos rituais deixa de ter um sentido específico, com data determinada e passa a fazer parte do universo turístico (de maneira mercadorizada).
A maiorias dos turistas que procuram o turismo étnico não procuram se aprofundar e saber os motivos que levam os índios a fazer tal ritual, em quais situações eles praticam tais danças.
De um lado o turista não agrega nada em seu conhecimento e em seu desenvolvimento pessoal em uma viagem onde "compra" o exotismo do outro visualmente e do outro lado, os nativos "vendem" apenas seu espetáculo e não deflagram o motivo das danças e dos rituais.
O turismo na realidade, interage de maneira superficial, exorbita o movimento identitário e consiste geralmente em mercadorizar a relação indígena em primeiro plano, não pressupõe uma estratégia política.
O palco étnico é formado para fugir do cotidiano e entrar em outro universo, mas o turista encontra a mesma aparência e superficialidade que no cotidiano.
È um sistema de relações sociais inautênticos, mas encarados como autênticos e como sendo uma experiência de fuga do cotidiano (mesmo sabendo que fazem as mesmas coisas que no cotidiano). Para entender a relação entre o turista e o outro, como uma troca, como uma relação entre pessoas, em que os dois lados contribuem para a constituição de um elemento que permeia os dois saberes, tanto o dos que seriam os membros da comunidade, quanto os dos que seriam os turistas.
Nesse aspecto compreendemos que o papel dos turistas, como observadores, sabemos então, que é uma relação mercadológica, os turistas e a comunidade étnica são atores dessa interlocução, saem dessa relação modificada através do contato com o outro ou não?
“Todo relacionamento não é senão um “simples” relacionamento, isto é, um relacionamento sem compromisso e com nenhuma obrigação contraída, e não é senão amor “confluente”, para durar não mais do que a satisfação derivada?” Baumam (1998, p. 112).
As identidades do turista ou da comunidade receptora são modificadas como mágica, no universo turístico as identidades podem ser aderidas e descartadas a todo o momento. O sujeito se identifica com os modos de vida da sociedade, ou coletivo que consiste na relação com o mercado, através da mercantilização da identidade.
De um lado os turistas que se identificam com os modos de vida da coletividade, e do outro lado comunidades étnicas que transformam sua identidade em sustento econômico através de imagens para o mercado.


Referências Bibliográficas:
ALFREDO, A. Geografia do Turismo: a crise ecológica como crítica objetiva do trabalho. O turismo como ilusão necessária. GEOUSP – espaço e tempo, n. 09, p. 57, São Paulo, 2001.

ANDRADE, V. J. Turismo - fundamentos e dimensões. São Paulo: Ática, 2002.

AUGÉ, M. O sentido dos outros: atualidade da antropologia: ed vozes, Petrópolis, 1999.

BRANDÃO, C. R, MESQUITA, Z. Territórios do cotidiano: uma introdução a novos olhares e experiências: ed UFRS/EDUNISC, Porto Alegre, 1995.

BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed, 1998, 272 p.

CHEPTULIN, A. A dialética materialista: categorias e leis da dialética: ed alfa-omega, São Paulo, 1982.

FARIA, I. F. Ecoturismo indígena e valorização do patrimônio na região do Alto Rio Negro. In: http://www.naya.org.ar/turismo/articulos/ivani_ferreira.htm
GRUNEWALD, R.A. Turismo e o "resgate" da cultura Pataxó. In: BANDUCCI JUNIOR, A., BARRETO, M. (Orgs.) Turismo e identidade local: Uma visão antropológica. Campinas, SP: Papirus, 2001.

GEERTZ, C. Saber local: novos ensaios em antropologia. Petrópolis, RJ: vozes, 2000.

OLIVIERA, E. T de, SCORALICK, K. Emmanuel Lévinas: ética e alteridade. Revista discutindo filosofia, ano 1, n. 4, São Paulo, 2006.
Autor: Roberta Garcia Anffe Braida


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