Ainda Existem Políticos Ambientalistas?



Autor: Marçal Rogério Rizzo

Nas últimas décadas, o mundo vem passando por inúmeras transformações. A difusão rápida da informação, os modernos meios de transporte, as residências equipadas de conforto e comodidade, os meios de produção cada vez mais automatizados, entre outras mudanças, ameaçam exaurir os recursos naturais.

Parte da sociedade tomou conhecimento de que o meio ambiente e seus problemas são global, regional e local que transformaram as demandas ambientais em um dilema decisivo: ou a sociedade enfrenta problema da degradação, ou a existência humana e os demais seres vivos estarão exterminados.

Hoje, já se sabe que o consumismo exacerbado da sociedade norte-americana afeta diretamente o clima do mundo todo, assim como as queimadas no cerrado e na região amazônica. Sabe-se que a China cresce muito e polui demais.

Para muitos, as afirmações feitas por cientistas e pesquisadores não faziam sentido, em especial, citamos as projeções sobre o aquecimento global e seus possíveis efeitos. Tanto é que nada foi feito como poderia para amenizar o problema.

Lembro que há autoridades que faziam (e ainda fazem) declarações sui generis, demonstrando não acreditar nestas projeções ambientais. Tivemos um caso célebre de um político afirmar que essa história de meio ambiente não era importante, mas sim a geração de empregos. Porém, acredito que o pior não é a descrença, mais sim, a falta de vontade política, a ingerência, a ineficiência e a ineficácia nas ações com relação ao meio ambiente.

O Brasil é um país interessante, pois possui leis, normas, convenções, tratados, regulamentos, mas não são respeitados. Aqui, há um jargão que diz: “No Brasil, há leis que pegam e leis que não pegam”. Pergunto: Não pegam por quê? Será que o jeitinho brasileiro ainda prevalece? Ou a politicagem? Ou os favores e dívidas políticas? A resposta para estes questionamentos prefiro deixar para cada leitor refletir e fazer suas próprias conclusões!

Dias atrás, estive em Minas Gerais e, durante esta estada, tive o prazer de ler o artigo intitulado “Como ser responsável” escrito por Geraldo Márcio Alves Guimarães (Pró-reitor da PUC Minas de Contagem) publicado no Jornal Estado de Minas de 30/09/2007. O artigo dizia que: “o grande mal do Brasil é não ter estadistas. Mas, em compensação, estamos cheios de políticos. E aqui está o problema porque, segundo Disraeli, o estadista pensa nas próximas gerações, o político, somente nas próximas eleições”.

Tristemente, concordo com esta afirmação em “número, gênero e grau”, pois o que estamos presenciando (já há um bom tempo) são somente os “blá-blá-blás” dos discursos politiqueiros, das encenações, das pré-campanhas eleitorais, dos projetos partidários, das ações da militância, das preocupações com as sucessões entre outras atitudes políticas. Porém, o que necessitamos é de ações em prol da coletividade, de melhoria na qualidade de vida, de melhoria na área ambiental, de projetos viáveis e aplicáveis.

A sociedade brasileira não pode aceitar que todo dia seja dia de eleição. A busca pela fatura eleitoral faz com que os políticos condicionem suas ações somente em votos. A sociedade que paga os impostos, que mantém a máquina governamental, que vota infelizmente não é a beneficiária da democracia.

Ives Gandra da Silva Martins publicou o artigo “Anatomia do poder” na Folha de São Paulo, em 29/08/2007, onde cita que “o Brasil tem o dobro da média da carga tributária dos países emergentes, com pífia prestação de serviços públicos”. Ingenuamente, nestes serviços públicos, vou lembrar dos serviços em defesa do meio ambiente que falta pessoal qualificado, material e estrutura para os agentes públicos que atuam na área ambiental.

O jornal o Globo, de 17/10/2007, trouxe a seguinte matéria vergonhosa: “Amazônia: o governo admite alta na devastação” dizendo o seguinte: “A situação mais preocupante é a de Mato Grosso, onde o desmatamento avançou 107% nesses quatro meses em relação ao mesmo período do ano passado. Em Rondônia, o crescimento foi de 53%, e no Acre, de 3%. O governo admitiu que houve, de fato, um aumento na devastação”. Isso é uma vergonha saber o que está acontecendo e nada ser feito!

Diferente do estadista, o político defende a popularidade, mas não basta ser popular, pois Hitler, Mussolini e Fujimori tinham popularidade, mas vejam o que fizeram em seus países. Convenhamos, o Brasil precisa de ações coerentes e aglutinantes na busca de uma sociedade socialmente justa, economicamente viável, ecologicamente correta e culturalmente aceita.

Nossos políticos não podem se contentar somente com a pequenez dos projetos políticos e partidários e, depois de tantas frustrações, ocorrências, desesperanças e até “calamidades” provocadas por nossos políticos que cerceiam e interrompem sonhos de gerações, tenho que lembrar dos dizeres de José Simão em sua coluna na Folha de São Paulo. Político agora não é mais “farinha do mesmo saco”, mas sim “esterco do mesmo pasto”!

* Marçal Rogério Rizzo: Graduado em Ciências Econômicas, Especialista em Economia do Trabalho e Sindicalismo pela Universidade Estadual de Campinas/SP (CESIT/IE/UNICAMP), Especialista em Gerenciamento de Micro e Pequenas Empresas pela Universidade Federal de Lavras/MG (UFLA), Mestre em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas/SP (IE/UNICAMP) e doutorando em Geografia na área de Dinâmica e Gestão Ambiental pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCT/UNESP) – Campus de Presidente Prudente/SP.
Autor: Marçal Rogério Rizzo


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