EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA (EaD)



O ensino à distância tem crescido acima de 100% nos últimos anos no Brasil. Os dados são do Programa de Educação à Distância da Fundação Getúlio Vargas, que aponta como o ensino à distância triplicou de 2006 para 2007, devendo dobrar o número até fim deste ano. Entretanto, apesar dos avanços no setor, esse tipo de educação ainda apresenta deficiências. Com os processos habituais de ensino e com a atual dispersão da atenção da vida urbana, torna-se muito difícil à liberdade individual e à organização pessoal, indispensáveis aos processos de ensino à distância.

Um aluno sem o hábito de leitura ou estudo, por exemplo, pode deixar passar o tempo adequado para cada atividade, discussão, produção e poderá sentir dificuldade em acompanhar o ritmo do curso. Isso confundirá sua motivação, sua aprendizagem e a do grupo, o que criará uma sensação de incerteza ou indiferença. À distância, os alunos, aos poucos, poderão deixar de participar, de realizar e muitos sentirão a dificuldade, de retomar a conduta do indivíduo, a exaltação criadora pelo curso. Na aula presencial, a conversa com os companheiros de escola mais próximos ou com o docente poderá ajudar aos que queiram voltar a integrar-se ao curso.

O ensino à distância, enquanto complemento de pós-graduação é positivo, mas como graduação é extremamente negativo. É um tipo de curso para quem tem maturidade, para quem tem acima de tudo disciplina. No curso presencial, muitas vezes o aluno já não corresponde. Imagine um aluno chegando em casa depois de um dia de trabalho, cansado, tendo a opção de sair com os amigos ou namorar, ele não vai preocupar-se em estudar. Se já era difícil manter a motivação dos alunos em aulas presenciais, muito mais difícil será na proposta virtual, se os alunos não se envolverem em processos participativos, afetivos, que inspirem confiança. Em sala de aula, é mais fácil observar os problemas que acontecem e procurar dialogar ou encontrar novas estratégias pedagógicas.
No virtual, o aluno está mais distante, normalmente só acessível por e-mail, que é frio, não imediato, ou por um telefonema eventual, que embora seja mais direto, num curso à distância acabará encarecendo o custo final. Outro problema a ser pensado é que as escolas estão partindo do princípio de que todos estão incluídos na era digital. É um equívoco muito grande. As pesquisas recentes mostram que a maioria absoluta, das pessoas não tem um computador em casa, a oportunidade de usá-lo está na própria escola. O aluno precisa ir à escola usar o computador, por que não pode ter um professor para dar orientações?

A regulamentação do ensino à distância também precisa ser discutida. Existem muitas dúvidas sobre o gerenciamento dos cursos. O professor, por exemplo, terá que estar sempre pronto a atender dúvidas de alunos, então, se receber um e-mail seja à meia noite ou em horário de almoço, deverá respondê-lo no mesmo momento? Agora a preocupação, em geral, é estabelecer como será regulamentado o ensino à distância no que diz respeito à jornada de trabalho, a número de alunos que cada professor irá atender e quem irá responder a isso, um monitor ou o professor?

Outra preocupação é de como será o contato do professor a partir da implantação desse novo sistema educacional. Hoje há uma dificuldade, principalmente no ensino superior, de encontrar o professor na sala de aula, uma vez que, no intervalo, ele já está atendendo ao aluno, tirando dúvidas, fazendo encaminhamento de trabalhos e pesquisas da própria utilização das novas tecnologias. O ensino à distância não é algo novo, em todos os seus formatos, ele exclui a relação humana. Na década de setenta, existiam cursos, principalmente profissionalizantes, através de revistas pelo sistema de apostilas. Depois vieram os tele-cursos, onde se tinha uma tv e não um professor, isso prejudica a qualidade de ensino. Que certeza o professor terá de que um trabalho foi feito, de fato, pelo aluno? Quando se tem o contato direto com o aluno, o professor pode conhecê-lo melhor e saber dos seus limites e capacidade.
A implementação da Educação à Distância é uma questão, exclusivamente, relacionada ao lucro. A tecnologia é uma invenção da burguesia, do setor produtivo, do setor de serviços. Infelizmente no capitalismo a educação virou uma mercadoria como outra qualquer. Eles estão buscando exatamente isso, a idéia da competitividade, que não se pauta na qualidade e sim no custo. O argumento que as mantenedoras estão usando é esse: o nosso sistema está caro e para isso cobramos mensalidades mais caras, como o aluno busca um curso mais barato, temos que baixar o custo. Então diminuímos a carga presencial desse curso, e passo a adotar esse sistema. O objetivo é despertar nos professores essa discussão e ouvir deles como isso já está ocorrendo, como estão sendo afetados, para que não seja apenas especulação e, a partir daí, determinar como será a luta partindo desse novo recurso, de forma a não gerar prejuízos ao professor. Essa é uma situação irreversível. Teremos que aceitar as inovações, mas exigindo uma regulamentação que não traga prejuízo ao educador.

O ensino à distância, mais do que a exposição circunstanciada feita pela palavra falada ou escrita de um projeto futuro é realidade em várias faculdades e universidades do país, que começam a colocar em prática uma modalidade de ensino autorizada pelo Ministério da Educação (MEC): ministrar as aulas à distância em até 20% da carga horária dos cursos regulares de graduação. Não é possível enumerar quantas faculdades usam o método, já que o MEC não precisa fornecer uma autorização especial para elas. No entanto, os exemplos estão surgindo e já alcançam a algumas dezenas: Universidade de Brasília (UnB), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Anhembi-Morumbi, Uni FMU e algumas universidades federais, como as da Bahia, Alagoas e Espírito Santo, estão entre as primeiras. A Faculdade Sumaré, de São Paulo, é um exemplo disso onde aplicou os 20% à distância a todos seus cursos.

A permissão é válida para todos os cursos de nível superior, desde que alguns critérios sejam obedecidos. As avaliações das disciplinas têm de ser presenciais, o conteúdo deve contar com uma pedagogia voltada à Internet, é obrigatória a presença de um preceptor e de encontros constantes. Garantido isso, alunos e educadores devem adaptar-se a uma inserção da tecnologia em cursos em que, até então, o computador era apoio para atividades extracurriculares. Não há legislação específica do Ministério da Educação e Cultura que oriente o ensino e as normas de utilização que estão sendo fixadas através de decretos leis e portarias ministeriais, influenciadas, por interesses econômicos e políticos. A situação é agravada pelo aumento vertiginoso das ofertas de Ensino à Distância. Seguindo a mesma lógica dos cursos presenciais, as regras são lícitas e a possibilidade de estender-se com outros estados viabilizou que elas se espalhassem a tal ponto que o próprio MEC reconhece que a situação é complicada, já que a legislação permite que uma única instituição atue em todo o território nacional, impossibilitando o acompanhamento. No decreto N° 5.773, de 9 de maio de 2006, o governo limita suas responsabilidades às funções de regulação, supervisão e avaliação. Sem muitas novidades na legislação, o Ministério da Educação e Cultura aposta no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), para fiscalizar o Ensino à Distância. A fiscalização anda a “passos de tartaruga” e os credenciamentos de novas instituições educacionais, são aprovados a “passos de lebre” e a probabilidade de um marco regulatório mais rígido parece muito distante. Os cursos que se limitam a transmitir a informação de conteúdo, mesmo que estejam brilhantemente produzidos, correm o risco da perda de motivação em longo prazo e, principalmente, de que a aprendizagem seja só teórica, insuficiente para dar conta da relação teoria / prática.

Mesmo com tecnologias avançadas, ainda existem dificuldades no gerenciamento emocional, pessoal, e organizacional, o que dificulta o aprendizado rápido. As mudanças na estrutura educacional dependem, mais do que das novas tecnologias, de educadores, de alunos curiosos, entusiasmados, abertos, que saibam motivar e dialogar. Nas aulas virtuais os alunos utilizam fórum de discussão, e-mail do grupo, textos com áudio, indicação de bibliografias e exercícios. No início os educandos não aceitam muito o novo método. Acredita-se que naquele momento pudesse ter uma experiência, que fosse uma metodologia para auxiliar, não substituir. Acha-se que os alunos deveriam vivenciar pelo menos um mês para dizer se funciona ou não. O resultado foi um problema de autonomia e organização de tempo por parte dos alunos. Muitos alunos disseram que era difícil se concentrarem nas explicações dadas por um computador.

Outra mudança que afeta educadores e educandos é a redução da duração dos cursos, abalizada pelo parecer n° 329/2005 do Conselho Nacional de Educação (CNE). Essa orientação acaba gerando maior volatilidade à iniciativa privada, porque forma alunos em menos tempo. O que não acontece no restante da América Latina, onde os alunos continuam com cursos de duração plena de quatro e cinco anos. Não há um movimento contra as novas tecnologias, mas entendemos que as tecnologias têm que ser utilizadas como ferramenta que irão contribuir para a qualidade do ensino ministrado pelo professor, não devendo substituí-lo, o que acarretaria no agravamento da precarização do processo ensino-aprendizagem.



BIBLIOGRAFIA.

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Autor: Mario Angelo Tavares de Souza


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