Processos Visuais



Ana Zeferina Ferreira Maio
Lidiane Dutra

Os olhos são um dos instrumentos da visão, porém, cumpre ressaltar que eles não são os únicos, tampouco os mais complexos, já que existe uma rede organizada de órgãos especializados. Com isso, podemos afirmar então que a visão é um processo resultante de três operações: ópticas, químicas e nervosas 1.

As operações ópticas são as que acontecem, por exemplo, no processo de formação de imagens em uma câmara escura, no qual os raios luminosos provenientes de uma fonte atingem o objeto, que deles reflete uma parte em todas as direções; uma certa quantidade desses raios entra na abertura da câmara e forma uma imagem invertida desse objeto sobre a parede do fundo.

O olho humano também funciona segundo essa lógica, capturando uma certa quantidade de raios sobre uma superfície e concentrando-os em um único ponto.

Diante das operações químicas, encontramos as imagens retinianas, produzidas na retina (membrana que reveste o fundo do olho), que nada mais são do que projeções ópticas sobre o fundo do olho, tratadas pelo sistema químico retiniano, transformando-as em informações de outra natureza. Essas imagens não são vistas, já que elas são somente um dos estágios do processamento da luz.

Por fim, as operações nervosas são o último estágio de processamento da informação, e também o mais importante e menos conhecido. Os receptores retinianos estão ligados às células nervosas através de um relé (ou sinapse). Essas células estão ligadas por sua vez a outras, que constituem o nervo óptico. O nervo óptico sai do olho e chega ao cérebro pela região lateral, denominada articulação, de onde partem novas conexões rumo à parte posterior do cérebro, até chegarem ao córtex estriado 2.

O que se percebe?

A percepção visual codifica as informações que chegam pelos nossos olhos através da capacidade que nosso sistema visual possui de localizar e interpretar algumas regularidades nos fenômenos luminosos que chegam até nós. Por sua vez, nessas regularidades há basicamente três características próprias da luz, a saber: intensidade, comprimento de onda e distribuição no tempo.

Percepção da luminosidade

O que sentimos como a maior ou menor luminosidade de um objeto nada mais é do que a nossa percepção da luminosidade, a interpretação realizada pelos filtros psicológicos da real quantidade de luz que esse objeto emite. Os dois tipos de objetos luminosos mais comuns de distinguir-mos referem-se a dois tipos de visão: visão fotópica e visão escotópica. A primeira corresponde ao modo mais habitual, aos objetos iluminados pela luz diurna. Já a segunda corresponde à visão noturna.

Percepção da cor

A percepção da cor se origina a partir das reações ao comprimento de onda das luzes emitidas ou refletidas pelos objetos 3. Ao contrário do que parece, a cor não está no objeto, e sim em nossa percepção.

Na luz branca (em especial a do sol), encontram-se reunidos todos os comprimentos de onda do espectro visível, o que é facilmente comprovado pela decomposição da luz através de um prisma, ou até mesmo ao observarmos o arco-íris. Sendo assim, a luz que chega através dos objetos é refletida por eles, e suas superfícies refletem apenas parte dos comprimentos de onda, absorvendo a outra parte.

No caso das imagens acromáticas (em preto e branco), não ocorre a representação de cores, apenas as luminosidades, comportando uma gama enorme de tons cinzentos.

Percepção das bordas visuais

As bordas visuais estão diretamente relacionadas com a fronteira entre duas superfícies de luminâncias diferentes, quaisquer que sejam as causas de tal diferença, para um ponto de vista estabelecido. Nosso sistema visual é capaz de reconhecer qualquer tipo de borda, bem como sua orientação, inclusive bordas visuais de dimensões pequenas.

Em suma, cabe ressaltar que os elementos da percepção relativos à luminosidade, cores e bordas nunca acontecem isoladamente, mas de modo simultâneo, sendo que a percepção de uns afetará a percepção de outros.

O tempo e os olhos

Apesar de ser um sentido basicamente espacial, a visão também é afetada por fatores temporais, dos quais se destacam três:

Grande parte dos estímulos visuais varia conforme a duração, ou se reproduzem sucessivamente;

Os movimentos oculares fazem variar a informação recebida pelo cérebro;

Nossa percepção não é um processo instantâneo, já que apresenta estágios lentos e rápidos, ocorrendo o processamento da informação sempre no tempo.

A variação dos fenômenos luminosos no tempo pode ser entendida através de dois fatores: a adaptação, que se refere quando o olho se depara com uma variação brusca de luz e torna-se "cego" por algum tempo, ou quando ocorre o contrário, por exemplo, quando saímos de um ambiente com iluminação intensa e entramos numa sala totalmente escura; e o poder de separação temporal dos olhos refere-se ao fato de que o olho é incapaz de distinguir rapidamente os estímulos luminosos, levando até 80 milissegundos para discernir com clareza dois fenômenos distintos.

A relação do tempo em nossa percepção é o fato dele estar inserido nela, já que fatores temporais como a lentidão ou a rapidez numa resposta pode interferir no que percebemos visualmente.

Olhar no processo visual     
     

Até agora, nos detivemos à esfera do visível, às qualidades de nosso aparelho perceptivo frente aos estímulos luminosos. Passaremos a explanar sobre a parte humana da percepção, aos aspectos que estão relacionados ao sujeito que olha, ou seja, à esfera visual.

O espaço percebido

Segundo Aumont 4 é incorreto falar sobre uma percepção visual do espaço, já que nosso sistema visual não possui aparato suficiente para perceber distâncias, além do mais a percepção do espaço não é puramente visual. A percepção do espaço está intimamente ligada ao nosso corpo e seu deslocamento, à verticalidade experenciada pela gravitação: quando vemos um objeto caindo verticalmente, sentimos a gravidade também em nosso corpo. Sendo assim, o conceito de espaço possui tanto uma origem tátil e cinestésica quanto visual.

A percepção do espaço é um fenômeno altamente complexo e refere-se muito mais ao domínio teórico do que laboratorial, pois diante de qualquer modelo de análise ocorrerá a dúvida se os resultados obtidos aplicam-se à nossa percepção espacial "comum", cotidiana.

Dentro do estudo da percepção do espaço, a constância perceptiva é de fundamental importância. De acordo com esse conceito, o mundo possui sempre a "mesma" aparência, ou pelo menos uma gama de elementos parecem invariáveis, tais como seu tamanho, formas, textura, localização. Embora haja variação nas percepções, é impossível negar uma determinada constância em alguns casos.

Paralelamente à noção de constância, existe a estabilidade perceptiva, isto é, "nossa percepção se faz por amostragem contínua – alternância do movimento dos olhos e breves fixações" 5.

A percepção da profundidade é o grande problema do espaço visual, pois ela não é percebida instantaneamente, como as outras duas dimensões. Porém, a óptica geométrica monocular emite informações interpretadas por nosso sistema visual em seguida em termos espaciais, o que denominamos de índices de profundidade, a saber: gradientes de textura, perspectiva linear, variações de iluminação e critérios locais.

Define-se como gradiente a variação progressiva entre textura-imagem que se dá quando as superfícies que percebemos encontram-se inclinadas em relação ao nosso eixo visual, projetando texturas em nossa retina. Para diversos autores, os gradientes de textura são os elementos mais importantes para a apreensão do espaço, pois nos fornecem uma informação segura sobre a profundidade.

A perspectiva linear permite compreender a profundidade através de informações trazidas das transformações óptico-geométricas. Porém, trata-se de um modelo geométrico, que não representa fielmente os fenômenos reais, pois é praticamente impossível não haver perdas na passagem de uma situação real em três dimensões para a bidimensionalidade.

As variações da iluminação, apesar de parecerem enganosas algumas vezes, constituem-se fontes de informação sobre a profundidade. Elas envolvem fenômenos como variações mais ou menos contínuas da luminosidade, das cores, das sombras, dentre outras.

Por fim, os critérios locais se referem a pontos mais localizados da imagem retiniana, como no caso da noção de interposição.

Cumpre ressaltar que todos os índices apresentados acima se aplicam às imagens em movimento, e possui uma natureza ao mesmo tempo geométrica e cinética, o que não deve ser confundido com a representação dos índices dinâmicos (como nas câmeras móveis).

A binocularidade (possuir dois olhos) também é objeto de estudo da percepção visual, reconhecido até por Leonardo da Vinci em seus estudos. Afinal, como podemos perceber os objetos visuais como únicos, se nossas imagens retinianas são diferentes? A teoria mais aceita é a da fusão: supõe que conexões nervosas fabricam uma imagem única a partir das duas imagens diferentes fornecidas pelas retinas. Cabe lembrar que fusão, aqui, não significa acumulação, pois prevê uma certa "rivalidade" entre os olhos.

O movimento percebido

Dentre as teorias que pretendem explicar a percepção do movimento, a mais aceita é a que atribui essa percepção a dois fenômenos: a presença de detectores de movimento no complexo visual e a informação sobre nossos próprios movimentos, que não nos permite atribuir um movimento aparente aos objetos percebidos.

A percepção do movimento restringe-se a alguns limites, tais como as dimensões do objeto, sua iluminação, contraste e meio ambiente, que o farão visível ao não. Tomando o meio ambiente como referência, a percepção do movimento é relacional, dependendo da facilitação de alguns pontos fixos de referência.

Movimento real e movimento aparente

Já foi constatado pela ciência que, em alguns casos, é possível que haja percepção do movimento mesmo na ausência de movimento real, o que foi denominado de movimento aparente. Porém, ainda restam dúvidas dentro do debate do movimento aparente, como 6:

Movimento real e aparente refere-se aos mesmos receptores? O movimento aparente é processado da mesma maneira que o movimento real.

Quais atributos de um objeto causam a impressão de movimento? Primeiramente, percebemos um movimento em termos de luz, para em seguida esse movimento ser designado à uma forma, a um objeto.

Que relação existe entre percepção da forma e percepção de movimento? Pouco se sabe, dada a complexidade de sua experimentação.

Referências

AUMONT, Jacques. A imagem. São Paulo: Papirus, 2006.

MAIO, Ana Zeferina Ferreira. Um modelo de núcleo virtual de aprendizagem sobre percepção visual aplicado às imagens de vídeo: análise e criação. 2005. 223f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.


1 AUMONT, 2006, p. 18.


Autor: Lidiane Dutra


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