A CIÊNCIA DA DIFERENÇA



A CIÊNCIA DA DIFERENÇA

© Dr. Alessandro Loiola
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Sob protestos dos crentes em lembranças de vidas passadas, recebo a notícia de que cientistas da Suécia identificaram os gânglios da base como uma parte estratégica no gerenciamento da memória.

Escondidos bem na raiz da nossa couve-flor encefálica, estes leões-de-chácara disfarçados de gânglios vão definindo o que deve ser jogado fora até o final do expediente e o que merece lembrado quando você estiver de meias e mascando uma peça de dominó aos domingos.

Ao manusear a memória de curto prazo, os gânglios da base otimizam nossa capacidade de armazenamento e recuperação de informações. Passam para o depósito das lembranças pequenas doses de crescimento pessoal, sem interferir com o raciocínio ou sobrecarregar o sistema com imagens que não precisamos. Um fabuloso golpe de mestre fisiológico!

A cada dia que descobrem mais sobre o funcionamento do corpo humano, mais me impressiono. Veja só: podia jurar até ontem que a memória de curto prazo do homem se chamava esposa. Ledo engano. São os gânglios da base. E não adianta ter ciúme, senão eles esquecem as poucas datas que ainda fingimos lembrar.

Logo após o informe da descoberta, publicado na revista científica britânica Nature Neuroscience, seguia um debate do indefectível grupo de cientistas que se dedica a apontar diferenças entre homens e mulheres. Neste caso, entre a capacidade de memória masculina e feminina.

Puxa, ainda existem cientistas empenhados em provar que homens são diferentes de mulheres! Se eles saíssem dos laboratórios, encontrariam as provas mais rapidamente. Sei de algumas boates especializadas em explorar este assunto. Mas é melhor correr, porque estão fechando todas.

Homens e mulheres são diferentes, isso não é novidade alguma. Você sabe e eu sei (mandamos uma carta para aqueles cientistas?), mas não muito. Se você fosse mais que 1% diferente do seu namorado ou namorada, um de vocês dois seria um chimpanzé. Ou uma ameba. “Protozoários e símios do lado esquerdo da igreja, por favor”, diria a organizadora na hora do casamento.

Apesar deste incrível mosaico de células e lembranças, estamos muito distantes da pretensa importância com a qual nos anunciamos aos quatro ventos. Tenhamos modéstia: o universo não foi configurado para servir de salva-tela à nossa existência. Somos uma parte muito insignificante disso tudo que está aí.

Os golpes de misericórdia sobre nossas supostas diferenças privilegiadas ante as demais criaturas não terminam nas descobertas envolvendo o funcionamento do cérebro. Vão mais além. Por exemplo: pesquisas com DNA mostram que toda a vida conhecida neste planeta teve a mesma origem biológica. Somos descendentes de pequenos seres pluricelulares, netos presunçosos de vermes e plantas microscópicas.

Parte dos genes que você traz em cada uma de suas células veio das bactérias. É por isso que os remédios antibacterianos também podem lhe fazer mal. A bem da verdade, eles lhe fazem mal mesmo, mas a intenção é que façam mal primeiro às bactérias que estão lhe infeccionando.

Um rato tem 300 genes a mais do que o mais brilhante dos seres humanos. Além disso, 98% de sua orgulhosa carga genética de Homo sapiens é considerada puro lixo. São seqüências de DNA que se acumularam durantes centenas de milhares de gerações e não possuem qualquer utilidade aparente. Para viver, seguimos em frente utilizando menos de 2% dos nossos genes.

De todo os esforço empreendido por seus músculos, cerca de 75% se perde na forma de calor e apenas 25% da energia gasta se torna atividade útil de fato. Esta é a mesma proporção observada em um motor convencional de combustão interna. Para efeito de comparação, um motor elétrico aproveita 95% da energia. Não possuímos nem mesmo um décimo da perfeição que sonhamos.

Pesquisas desvendando as estruturas relativamente simples que fazem o corpo funcionar deveriam ter lugar cativo em nossas lembranças. Quem sabe, com o acúmulo destas memórias, logo chegará o dia em que, despidos das crenças que assombram nossa infinita ignorância e bem longe do altar das diferenças, enxergaremos a verdadeira divindade sublime que existe dentro de cada ser vivo.
Autor: Alessandro Loiola


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