"Vejo e aprovo as coisas boas, mas sigo as piores".



A Sra. Sofia ia para o trabalho como fazia todas as manhãs, e durante a agradável caminhada de 20 minutos que separava sua casa da empresa, recordava-se de um filme muito interessante que assistira na véspera, o qual tratava sobre a histórica perda de Jerusalém pelos cruzados cristãos para os muçulmanos no ano de 1187.

Todavia não era o contexto histórico que lhe chamava a atenção, mas os valores morais e de conduta que, ao menos em tese, esperava-se de um cavaleiro. Em uma cena onde um jovem era ordenado cavaleiro, um dos quesitos de seu juramento era dizer sempre a verdade, mesmo que isso lhe causasse a morte. Instintivamente lhe veio à cabeça o ambiente empresarial e reconheceu que certo tédio se lhe apresentava.

Não havia muito tempo estivera apoiando um cliente seu no fechamento de um projeto e, uma vez mais, presenciara a velha ladainha descompromissada com a verdade que o executivo de vendas, com um semblante angelical que enganaria os próprios santos, jurava ser a mais pura expressão da verdade. Aquilo lhe incomodara sobremaneira, mas não poderia desmentir o representante do seu cliente sem causar a perda do projeto e manchar a imagem da empresa.

"Video meliora, proboque, deteriora sequor" (*) foi o pensamento que lhe escapou junto com um suspiro. Onde estaria a tal da ética, onde os valores morais?

Quantos de nós em dado momento de nossas vidas e carreiras não passamos por situações parecidas, por vezes mesmo sem perceber já que isso parece ser tão comum? Quem nunca ouviu frases como: "O cliente não precisa ficar sabendo disso, dê uma maquiada nesses números ou faça de qualquer jeito só para funcionar, depois, se alguém reclamar, nós consertamos"?

Indiscutível que existem profissionais e empresas que baseiam suas ações e decisões na ética, como também existem os que apenas se utilizam dessa palavra como subsídio para um jogo de marketing objetivando vender uma falsa imagem do que realmente são. Quanto a nós, não importa onde nos encontremos, estaremos sempre em contato com pessoas e empresas de ambos os tipos, cada qual nos estendendo sua influência, esperando nos conquistar para suas idéias e princípios.

Não há como fugir a esse contato, mas cada qual é livre para decidir quais princípios abraçar, quais influências aceitar e, ante o juiz inflexível da própria consciência, não é possível argumentar que a virtude não é conveniente em dada situação, ou que agimos de tal ou qual forma porque alguém nos disse para fazer assim.

Somos os únicos responsáveis pelas nossas ações e suas conseqüências. O que vamos escolher?

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(*) "Vejo e aprovo as coisas boas, mas sigo as piores"
Ovídio (Metamorfoses, VII, 20).
Autor: Sérgio Lacerda


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