EQUOTERAPIA : NOVO CAMPO DE TRABALHO PARA O PSICÓLOGO



O objetivo do presente artigo é apresentar a equoterapia aos psicólogos, como campo de trabalho, pesquisa e participação no grave problema do tratamento das pessoas portadoras de necessidades especiais.

A equoterapia é um método terapêutico que utiliza o cavalo como instrumento de reabilitação e desenvolvimento para portadores de deficiência ou de necessidades especiais, com a participação de uma equipe multidisciplinar composta por fisioterapeuta, psicólogo, fonoaudiólogo e professor de equitação. Ela pode também ser de grande valor para crianças não portadoras de deficiências físicas, mas que poderiam se beneficiar de melhoras em seu desenvolvimento psicomotor, sua capacidade de relacionamento e aprendizagem, sua auto-estima. Por isso, podemos também chamar a equoterapia de “equitação terapêutica”, possibilitando uma introdução à equitação simultaneamente a um processo de estimulação ao desenvolvimento global da criança.

A base da equoterapia é, resumidamente, a seguinte: quando um ser humano está montado a cavalo, seu corpo é permanentemente solicitado a fazer ajustes posturais para responder aos desequilíbrios provocados pelos movimentos do animal. Na realidade, o cavalo nunca está totalmente parado. Ele troca o apoio das patas, desloca a cabeça ao olhar para os lados, flexiona a coluna, abaixa e alonga o pescoço etc. O ajuste tônico, movimento automático de adaptação, torna-se rítmico com o deslocamento do cavalo ao passo, sendo esse ritmo um dos pontos centrais da equoterapia. O cavalo ao passo, andamento natural em que é conduzida a equoterapia, provoca movimentos tridimensionais no corpo de quem está montado: para a frente e para trás, para um lado e para o outro, para cima e para baixo.

No aspecto psicológico, há um grande reforço da auto-estima. Uma criança, que vê o mundo de baixo para cima, quando montada a cavalo tem o seu ângulo de visão alçado para cerca de dois metros e meio de altura, mais elevado que o olhar de um adulto. Somam-se a isso o prazer e a sensação de força e liberdade por estar conduzindo um animal de grande porte e significativa carga simbólica.

O cavalo e a equipe interdisciplinar funcionam como poderosa ferramenta terapêutica e de desenvolvimento. O Conselho Federal de Medicina, através do Parecer 06/97, reconheceu a equoterapia como método a ser incorporado ao arsenal de métodos e técnicas direcionados aos programas de reabilitação de pessoas com necessidades especiais, quer sejam de natureza física, educacional ou social.

A equoterapia foi introduzida no Brasil na década de 70. Em 1989 foi fundada a Ande Brasil – Associação Nacional de Equoterapia (www.equoterapia.org.br), instituição filantrópica com sede em Brasília/DF, cujas finalidades precípuas são o incentivo e o controle das atividades de equoterapia em âmbito nacional.

Segundo a Ande Brasil, existem hoje no Brasil cerca de 210 centros de equoterapia, sendo 58,7% localizados na região Sudeste, 21% na região Sul, 11,2% na região Centro-Oeste, 8,4% na região Nordeste e 0,9% na região Norte.

Já foram realizados três congressos nacionais de equoterapia, o primeiro em Brasília/DF em 1999, o segundo em Jaguariúna/SP em 2002 e o terceiro em Salvador/BA em 2004. O autor apresentou no II Congresso Nacional um trabalho intitulado “A Psicoterapia de Orientação Psicanalítica na Equoterapia”. O IV Congresso Nacional será realizado em setembro de 2008, em Curitiba.

Há no país diversos cursos nos níveis básico, avançado, extensão e especialização sobre equoterapia. Esses cursos são oferecidos pelos centros de equoterapia filiados à Ande Brasil e por diversas universidades: Universidade Federal de Santa Maria/RS, Universidade Tuiuti do Paraná/PR, Pontifícia Universidade Católica do Paraná/PR, Universidade Veiga de Almeida/RJ, Universidade de Campinas/SP, Universidade de São Paulo/SP, Universidade Mackenzie/SP, Universidade de Pernambuco/PE e Universidade do Estado do Pará/PA. O objetivo desses cursos é a capacitação de novos profissionais das áreas de saúde, educação e equitação para atendimento aos portadores de necessidades especiais.

De acordo com dados da Ande Brasil, até 2004 haviam sido treinados 2.154 profissionais de nível superior em seus cursos de capacitação, sendo que dentre eles estavam 295 psicólogos. Pode-se estimar, considerando-se os cursos promovidos pelos diversos centros de equoterapia, que cerca de mil psicólogos tenham feito a capacitação básica para trabalhar em equipe multidisciplinar de equoterapia.

A equoterapia no plano internacional é identificada por expressões como “Equitação Terapêutica” , “Terapia por Meio do Cavalo”, “Hipoterapia” e outros análogos, nos diversos idiomas dos países em que é aplicada. O termo “equoterapia” foi cunhado pela Ande Brasil, tendo hoje um princípio de reconhecimento internacional.

Sua história remonta a Hipócrates, que já mencionava o valor terapêutico da equitação, como fator de regeneração da saúde e benéfico para o tônus muscular. Há diversas referências e contribuições ao longo do século XVIII, mas foi no início do século XX a primeira aplicação da equoterapia em contexto hospitalar, no Hospital Ortopédico Oswentry, na Inglaterra. Em 1971 chegam ao Brasil as primeiras experiências em equoterapia trazidas pelas fisioterapeutas Elly Kogler e Gabrielle Walther. Em 1974 ocorre o I Congresso Internacional de Equitação Terapêutica, seguindo-se uma série de congressos internacionais, sendo que no V Congresso de 1985 foi fundada a federação internacional: FRDI – Federation Riding for the Disabled International, atualmente com sede na Áustria (www.frdi.net). Dentre as organizações nacionais associadas à FRDI podemos citas a NARHA – North American Riding for the Disabled Association (www.narha.org) e a RDA – Riding for the Disabled Association – United Kingdom (riding-for-disabled.org.uk).

Em 2003 realizou-se o XI Congresso Internacional em Budapeste, Hungria, quando o autor apresentou um trabalho sobre a Psicoterapia de Orientação Psicanalítica na Equoterapia, escolhido para encerrar a última plenária do congresso. O trabalho encontra-se disponível no site do Equovida – Centro de Equoterapia e Qualidade de Vida, do qual o autor é fundador e diretor: www.equovida.com.br.

O XII Congresso Internacional realizou-se em Brasília/DF, Brasil, no período de 9 a 12 de agosto de 2006, quando o autor apresentou um trabalho sobre Transdisciplinaridade: Um Novo Paradigma na Equoterapia. Cerca de 20 outros trabalhos relacionados à psicologia foram apresentados no mesmo evento.

Já existe bibliografia nacional disponível:
- ANDE Brasil – Associação Nacional de Equoterapia. Coletânea de Trabalhos do II Congresso Brasileiro de Equoterapia. 2002.
- ANDE Brasil – Associação Nacional de Equoterapia. Coletânea de Trabalhos do III Congresso Brasileiro de Equoterapia. 2004.
- Freire, H.B.G. Equoterapia, Teoria e Técnica: Uma Experiência com Crianças Autistas. São Paulo: Vetor Editora.
- Martinez, Sabrina. Fisioterapia na Equoterapia. São Paulo: Idéias e Letras 2005.
- Lermontov, T. A Psicomotricidade na Equoterapia. São Paulo: Idéias e Letras 2004.
- Medeiros, M Equoterapia - Noções Elementares e Aspectos Neurocientíficos. Rio de Janeiro: Livraria e Editora Revinter.
- Medeiros, M A Criança com Disfunção Neuromotora - A Equoterapia e o Bobath na Prática Clínica. Rio de Janeiro: Livraria e Editora Revinter.
- Medeiros, M. e Dias, E. Equoterapia, Bases e Fundamentos. Rio de Janeiro: Livraria e Editora Revinter.
- Medeiros, M. e Dias, E. Distúrbios da Aprendizagem: a Equoterapia na Otimização do Ambiente Terapêutico. Rio de Janeiro: Livraria e Editora Revinter.
- Medezani, Jocilane D. “O Passo da Dignidade. Seu poder pessoal realizou o impossível”. Editora Referência.
- Uzun, Ana Luisa de Lara: Equoterapia – aplicação em distúrbios do equilíbrio. São Paulo: Vetor 2005.

O autor coloca-se à disposição para maiores informações: [email protected] e convida os leitores a visitarem o site www.equovida.com.br.
Autor: Amauri Solon Ribeiro


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