Quando será que meu filho vai falar?



Quando nos tornamos pais, ficamos atentos, desde a gestação a cada etapa do desenvolvimento de nossos filhos, saboreando cada fase ou nova aquisição, ao mesmo tempo em que ficamos preocupados quando algumas coisas parecem não acontecer da forma como acreditamos que devem ocorrer.

Uma das preocupações freqüentes dentro do desenvolvimento infantil é o aparecimento da linguagem oral, ou seja, o início da “fala”, que torna-se motivo de inquietação para os pais, que muitas vezes vêem o filho correndo pela casa toda, mexendo em tudo com olhinhos bem curiosos, mas que, quando quer alguma coisa, não fala uma palavra sequer, só aponta e os pais, sabendo do desejo da criança, entendem e atendem ao seu pedido.

Com o passar do tempo surge a preocupação: “Será que ele não vai falar?”
Esse receio é natural, afinal, a linguagem é uma grande aquisição na vida do ser humano, de fundamental importância nas relações interpessoais, estando o seu desenvolvimento vinculado ao pensamento: a fala é a expressão oral da linguagem, uma produção que está associada a funções mentais.

A linguagem é um processo, que é construído pela criança muito tempo antes que ela fale a primeira palavra com significado. Antes de poder falar, a criança possui um repertório de linguagem, adquirido através das vivências que ela teve até então e que é constantemente modificado e ampliado por suas experiências de vida.

Ao falar uma palavra, como bola, por exemplo, a criança já viu uma bola, brincou com ela, sentiu-a e manipulou-a, ouviu o barulho da bola batendo no chão e ouviu também muitas vezes a palavra bola dita por alguém, ao mesmo tempo em que o objeto bola estava presente. Dessa forma, a criança vai fazendo associações do nome ao conceito até emitir a palavra.
É importante observar que inicialmente essa emissão ocorre de forma diferente da fala do adulto em todos os níveis lingüísticos. No começo as emissões são constituídas de uma palavra só, geralmente um substantivo, que encerra todo o significado da mensagem, como por exemplo dizer “bóa” (bola) com a intenção de pedir a bola. Gradativamente a criança vai incorporando palavras a seu vocabulário e a estrutura de suas frases também vai se ampliando, ela passa, por exemplo, a dizer “Dá bóa” para efetuar o pedido. Esse desenvolvimento continua a ocorrer, gradualmente, de forma que palavras de outras classes gramaticais sejam incorporadas, tais como artigos, pronomes, preposições e conjunções, que tornam a
Também sob o aspecto sonoro, a emissão infantil desenvolve-se de forma gradual, geralmente as crianças adquirem primeiro os sons cuja produção é mais visível nas pessoas, como o “p”, o “b”, o “m”, que são pronunciados através de movimentos labiais, adquirindo por último sons que, além de serem menos visíveis quanto a sua produção, requerem movimentos mais refinados da língua, como por exemplo o “r” ( de trem ) e o “l” ( de clube ).

Para que esse desenvolvimento possa ocorrer de forma adequada é necessário que sejam fornecidos à criança modelos de linguagem que a estimulem adequadamente, para que através da escuta destes modelos e da comparação dos mesmos com seu próprio padrão, a criança chegue ao padrão do idioma. Dessa forma, o adulto deve resistir à tentação de falar com a criança imitando o padrão infantil, que pode lhe parecer muito bonitinho , mas que priva a criança da comparação que a fará evoluir no desenvolvimento lingüístico.

O processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem ocorre também relacionado a:
- condições físicas, como maturidade neurológica, aptidões de motricidade, de audição e visão, por exemplo.
- condições emocionais, como relacionamentos interpessoais adequados na família, sentimentos de aceitação e amor pela criança, dentre outros
- condições ambientais que proporcionem estímulos agradáveis e adequados à idade da criança e façam-na sentir a necessidade e o benefício que a fala lhe trará.
- condições cognitivas, pois a linguagem surge quando a criança é capaz de simbolizar, ou seja representar o objeto na ausência dele. Por isso, é comum observar o aparecimento da linguagem juntamente com as primeiras brincadeiras de “faz-de-conta”, como o brincar de casinha, por exemplo.

Algumas vezes, a aquisição da linguagem pode estar demorando a ocorrer e aí é importante procurar ajuda profissional para que possam ser diagnosticados os fatores que estão interferindo e para que sejam feitas as orientações necessárias, de forma a estimular o seu desenvolvimento.

É importante que a linguagem faça parte da vida da criança desde seus primeiros momentos, que os contatos com ela sejam amorosos, desde a amamentação e os primeiros cuidados para que a interação dela com a mãe, ou pessoa que assume seus cuidados, se estabeleça de forma adequada, afinal, a linguagem em sua forma comunicativa é exercida na relação entre as pessoas, a qual se inicia muito cedo na vida da criança.

A participação da família é fundamental, já que é no ambiente familiar que ocorrem os primeiros relacionamentos e, por isso, darei a seguir algumas sugestões de atividades que podem ajudar na estimulação da linguagem; mas, não esqueça, se você estiver na dúvida, procure a ajuda de um profissional para orientá-lo de forma mais específica
SUGESTÕES DE ESTIMULAÇÃO:

- Converse com a criança, desde recém-nascida enquanto ela é alimentada e, na medida em que ela for crescendo, vá acrescentando informações, de acordo com seu interesse e compreensão, a respeito dos alimentos, seus nomes, como são feitos, de que tipo são, etc.
- Aproveite situações como o banho ou troca de roupas para nomear as partes do corpo ou nomes de vestimentas, pedir à criança que lave determinada parte do corpo ou pegue determinada peça de roupa, tudo isso na medida de sua aceitação e entendimento.
- Utilize situações de passeio, a pé ou de carro para falar sobre as coisas que estão presentes no ambiente, não só dizendo seus nomes, mas também tecendo comentários sobre elas.
- Ao fazer compras junto com a criança, converse sobre os produtos, suas funções, seu custo e aproveite para ouvir o que a criança tem a dizer sobre o assunto. É importante que ela faça parte da conversa e não fique só escutando.
- Ao cozinhar ou realizar outras atividades do dia-a-dia converse com a criança sobre o que está fazendo, qual o processo utilizado e pergunte suas opiniões a respeito.
- Converse com a criança, antes de sair, sobre onde irão, dizendo o nome do local, quais os objetivos que têm em visitá-lo, enfim aproveite o tema para estabelecer diálogo com seu (sua) filho (a), mas faça-o sempre quando isso for agradável e significativo para ambos; não estabeleça diálogos mecânicos ou artificiais.
- Cante com seu (sua) filho (a), relembre músicas infantis e, conforme ele (a) for aprendendo as músicas, alterne trechos em que cada um de vocês canta uma parte.
- Leia para a criança com freqüência, desde muito cedo, aumentando o tempo de leitura de forma gradual, respeitando seu limite de atenção e utilizando livros e outros materiais de leitura apropriados para sua faixa etária. Se vocês estabelecerem esse hábito estarão desenvolvendo não só a linguagem falada, mas também estimulando o interesse pela linguagem escrita que, acreditem, começa muito antes de a criança ler da forma como o fazemos.
Mas isso já é assunto para uma próxima “conversa”. Até lá!
Tânia Bello
Psicopedagoga
Fonoaudióloga
CRFa. 2542/SP
Especialista em Linguagem
CFFa. 2440/04
[email protected]
Autor: Tânia Regina Bello


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