A Aprendizagem da Leitura e da Escrita.
Dentre esses pesquisadores, existe uma autora argentina, psicopedagoga chamada Emília Ferreiro que contribuiu bastante para o entendimento de como ocorre o processo de aprendizagem da linguagem escrita.
Segundo essa autora, a criança pensa sobre a escrita, formulando hipóteses sobre ela, como maneira de compreender o que significa. Essas hipóteses acontecem em todas as crianças, que vão evoluindo desde a fase Pré-silábica, na qual ainda não há intenção de representar através da escrita os aspectos sonoros da fala, até chegar ao padrão alfabético, que é aquele no qual a criança associa sons falados a letras escritas.
Dessa forma, quando a criança faz traços contínuos no papel e, atribui-lhes significado, ( como quando escreve “^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^ e lê "O menino caiu” ) ela está escrevendo, ou seja, está fazendo uma atividade investigativa sobre a escrita que será importante para que ela possa evoluir gradativamente . em sua aprendizagem: por isso, essas tentativas da criança não devem ser motivos de chacota, ao contrário, devem ser incentivadas e reforçadas
Durante a aprendizagem da escrita, a criança passa por várias fases até chegar à hipótese Alfabética, na qual realiza uma análise sonora da palavra que vai escrever, fazendo corresponder a cada som um caracter escrito. A produção escrita da criança torna-se legível para o adulto, embora não haja ainda o domínio das regras de ortografia, o que ocorre posteriormente, de forma gradativa e devendo ser estimulado através da apresentação de materiais escritos na escola e também na família, já que trata-se de uma aquisição cultural, ou seja, que não ocorre apenas internamente na criança..
Nessa fase de escrita alfabética, as crianças podem escrever palavras como “dinosauro” (dinossauro), “tatussinho” (tatuzinho) e “jacare” (jacaré) e é necessário que estejam em contato com vários materiais escritos, através dos quais possam perceber as diferenças no padrão de escrita do idioma, compará-los com sua maneira de escrever para que possam adquirir a escrita ortográfica.
É importante ressaltar que podem ocorrer diferenças individuais quanto à idade em que cada uma das crianças passa por cada fase de evolução da escrita e essas diferenças têm a ver também com maior ou menor interesse e estimulação (principalmente na família) em relação à oferta de material significativo de leitura e escrita.
Contudo, é também importante observar a evolução de todo esse processo e ficar atento a dificuldades específicas, que podem necessitar de ajuda profissional, principalmente quando a criança está em uma fase inicial do processo e a requisição escolar é de uma fase mais adiantada; nesses casos é necessário diagnosticar os fatores que podem estar interferindo para poder fazer com que a criança evolua e acompanhe o que é pedido para seu nível de escolaridade.
Como já foi citado, é importante que a criança possa ter acesso ao material escrito para que construa o conhecimento da leitura e da escrita.
A leitura, parte desse processo também desenvolve-se de forma gradual, é um hábito a ser adquirido e deve ser fonte de prazer e não apresentada de forma obrigatória através de imposição ou cercada de castigos e ameaças.
A apresentação da leitura deve ocorrer o mais cedo possível na vida da criança, através da casa, da família e dos pais, que são os primeiros incentivadores, promovendo a aproximação com a linguagem, desde o momento em que cantam para os bebês, brincam com eles usando histórias, adivinhações, rimas e expressões folclóricas, ou folheiam livros e revistas buscando figuras conhecidas e perguntando sobre seus nomes.
A leitura reflete-se de forma significativa na escrita da criança (e do adulto também), na medida em que, ao ler, memorizamos as correspondências ortografia-som sem memorizar regras e também as exceções das mesmas, além de ampliarmos o vocabulário e o conhecimento das estruturas de diferentes textos, o que aumenta o repertório e reflete-se em uma escrita melhor.
Isso explica também as diferenças quanto à apropriação da ortografia ( saber, por exemplo que a palavra“onça” deve ser escrita com “ç”, apesar do som representado ser /s/). Escrever respeitando os padrões da língua é um processo gradual, mas depende muito da estimulação que a criança recebe quanto ao uso significativo (para ela) de material escrito.
Como puderam perceber, vocês têm papel importantíssimo no aprendizado da leitura e escrita de seus filhos, entendendo que essa aprendizagem é gradativa, respeitando diferenças individuais e não punindo ou criticando a criança porque não está lendo ou escrevendo como outra de mesma idade, ou colega de classe, pois isto poderia atrapalhar o seu desenvolvimento, gerando nela sentimentos de insegurança e incapacidade. Ao contrário, deve-se compreender que quanto mais a criança associar a leitura e a escrita com atividades úteis e que lhe dêem prazer, maior será o seu desejo de se aproximar delas , maior facilidade ela terá de aprendizado (afinal aprende-se a ler e escrever lendo e escrevendo e não só ouvindo falar sobre isto) e maiores chances ela terá de levar a leitura e a escrita como aliadas para toda a vida.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES DE LEITURA E ESCRITA COM CRIANÇAS.
- Leia diariamente para a criança, aumentando gradativamente o tempo de leitura (de alguns minutos para o bebê, até 20 minutos para crianças de 4 a 5 anos e meia hora para crianças mais velhas).
- Durante a leitura é importante conhecer os limites de atenção da criança e não excedê-los, conhecer seus interesses para a escolha do material a ser lido, fazer perguntas sobre a história, aceitando as idéias da criança, evitando perguntas de certo e errado e propondo questões que envolvam hipóteses e opiniões. Deve-se também permitir que a criança “leia” junto com o adulto se já conhecer a história.
- Leia para a criança sempre que possível; quando ela estiver nervosa, irrequieta ou com medo, use histórias engraçadas. Antes de ir ao médico, dentista ou clínica de vacinação, leia histórias que mostrem o trabalho destes profissionais e tenha sempre a mão livros para ler para a criança em salas de espera.
- Permita que a criança “leia”, da forma como puder, sem pressões ou críticas, ao contrário, elogiando-a no que consegue fazer, mesmo quando “faz de conta” que lê. Inicialmente ela aprenderá a virar páginas, depois a “ler” através de figuras até chegar a ler o texto. É muito importante estimular o interesse pela leitura e elogiar cada tentativa da criança.
- Ponha livros em vários lugares da casa para que a criança tenha livre acesso a eles e possa manuseá-los com naturalidade. Assine revistas infantis, organize um espaço para que a criança monte sua própria biblioteca e faça sua inscrição em uma biblioteca pública.
- Utilize vários tipos de material de leitura (livros, revistas, jornais e folhetos, por exemplo) para que a criança possa ter contato com as diferentes formas e usos de cada um deles.
- Converse sempre com a criança sobre o que ela leu, ouça seus comentários e opiniões e, conforme ela for dominando a leitura, reveze turnos e faça leituras compartilhadas com ela.
- Permita que a criança escreva, facilite seu acesso a materiais como lápis, papel, máquina de escrever, computador e encoraje-a a incluir a escrita como atividade diária, como tarefa ou lazer.
- Deixe que a criança o veja escrevendo, mostre a ela como e quando usa a escrita, diga-lhe para que serve escrever e escreva para ela.
- Elogie a escrita da criança, peça que leia o que escreve da forma como ela puder interpretar a produção, ouvindo-a e respeitando sua fase de desenvolvimento.
- Exponha as produções da criança na cozinha, quarto, etc. para valorizá-los e guarde as primeiras produções para depois mostrar a ela seus progressos.
- Dê tempo para que a criança possa aprender, apresente modelos corretos, sem considerar “erros” as alterações que fazem parte do desenvolvimento normal da escrita, fique sempre ao seu lado, encorajando-a na superação de suas limitações para que tenha um desempenho cada vez melhor.
Tânia Bello
Psicopedagoga
Fonoaudióloga
CRFa. 2542/SP
Especialista em Linguagem
CFFa. 2440/04
e-mail: [email protected]
Autor: Tânia Regina Bello
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