Filme "Juno" e a redescoberta de valores



O filme que estréia hoje no Brasil é mais um caso de uma produção independente do cinema (fora do amparo das principais empresas do setor) que consegue alcançar grandes bilheterias, sucesso de crítica e entra no páreo do Oscar. Memorando aqui o que foi “Pequena Miss Sunshine” em 2006.

Juno é um filme açucarado, cheio de humor, com gírias e palavrões, com produção e roteiro simples, uma trilha sonora de bom gosto… Esta lista de características talvez não seriam suficientes para motivar alguém a sair de casa, gastar com o ingresso e ainda ouvir palavrões se não fosse a bela mensagem que é revelada no desenvolvimento desta história.

Uma garota chamada Juno, de 16 anos, fica grávida de um colega de escola. Esta aventura adolescente tem um preço alto e a personagem vê-se dividida quanto à forma de resolvê-lo. Opções não lhe faltam, principalmente por estar em um país onde o aborto é legalizado e o caminho mais comum seria matar a criança e esquecer o que aconteceu.

Ellen Page é brilhante em sua atuação (está concorrendo ao Oscar de melhor atriz) e expressa Juno como uma adolescente de personalidade forte, decidida e principalmente honesta. Não que fosse tão sábia em suas outras escolhas, mas é capaz de arcar até o fim com as conseqüências. Assim, Juno decide não abortar a criança.

O filme não tem objetivos religiosos e nem levanta algum tipo de bandeira anti-aborto. Se fosse escrito desta forma, era de se esperar que ela não abortasse, ficasse com a criança e vivesse feliz para sempre. Mas o objetivo desta obra é outro… E também pode ser muito útil a reflexão.
Juno opta por ter o filho e já entrar num processo de adoção legal. O que é isso? Ela escolhe um casal rico numa propaganda de jornal para adoção e lhes oferece a criança. O compromisso deles é dar o apoio necessário nos meses de gestação.

A trama segue com os conflitos decorrentes nos meses de gestação. Juno inicialmente chama o filho de “coisa” e aos poucos pega afinidade. O garoto que lhe engravidou é um “nerd”, muito inseguro. Os dois são ingênuos perante a situação, não conseguem entender o drama.

Seu pai é casado pela segunda vez e ela tem antipatia pela madrasta. A relação das duas desenvolve-se e, de inimigas, tornam-se companheiras. Sua família se envolve com o processo, mesmo que de forma estranha - pois têm comum acordo com a situação da adoção. Ao final do filme, ninguém fica do mesmo jeito. O “acidente” transforma a relação familiar. E o final não posso contar…

Juno, a garota grávida de apenas 16 anos, transforma-se. Descobre neste período o verdadeiro sentido:
- da AMIZADE: pois viu quem estava ao seu lado na escola, sem preconceitos quanto à gravidez;
- da FAMÍLIA: pois percebeu que foram eles a presença essencial no processo;
- e, principalmente, do AMOR: a relação que gerara o filho aconteceu por aventura, os dois jovens se redescobrem e assim se apaixonam de verdade. A sexualidade muda de valor.

Repito aqui que não se trata de um filme com objetivos religiosos, mas a forma como Juno redescobre alguns VALORES deve nos questionar.

Ela vivia de aventuras como qualquer garota de sua idade. E pagou um preço! Foi honesta ao querer seguir em frente com a gestação e, por tantas questões ao seu redor, optou por entregar o filho a adoção. A sexualidade na relação muda de foco. É explícito nesta obra que as coisas feitas na hora errada podem ter drásticas conseqüências.

O filme é ideal para trabalhar com grupos de adolescentes. Mesmo com os palavrões e algumas insinuações, ninguém precisará fechar os olhos. Os temas para reflexão são: aborto, gravidez na adolescência e sexo antes do casamento.
Autor: Sérgio Fernandes


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