Até tu, IBAMA? Até tu estimulando a exploração animal!



Uma notícia nos pegou de surpresa semana passada. Uma notícia agradável para adeptos da exploração, encarceramento e servidão animal, uma péssima e decepcionante nova para os defensores dos animais e, sobretudo, da Libertação Animal. O IBAMA, órgão público que deveria prezar, entre outras coisas, pela integridade dos animais, está para autorizar o aprisionamento e a mercantilização de diversas espécies de animais atualmente vistas como silvestres. Caso a consulta pública invocada pela entidade dê respaldo a esse absurdo, teremos muito mais pássaros condenados a uma vida miserável como reféns perpétuos da ignorância e especismo humano.

Depois da promulgação de leis inconstitucionais que regulamentam os rodeios e os seus “cuidados sanitários”, somos surpreendidos por mais essa desfeita do Poder Público, que mostra que verdadeiramente desconhece um lado da ética ambiental que ainda é pouco valorizado pela sociedade mas é essencial para sua integridade e dignidade: o verdadeiro e imparcial respeito aos animais não-humanos. Esse Poder Público está se mostrando apegado a valores obsoletos e viciosos, como a aceitabilidade do aprisionamento de bichos para fins de egoísta (e involuntariamente sádica) estimação e a antiética cultura da mercantilização, valoração e comercialização da vida animal.

É lamentável que a instituição ambiental do país dono de uma das legislações ambientais mais bem-elaboradas do planeta segundo os especialistas em meio ambiente desconheça cruamente os fundamentos dos Direitos dos Animais, ignore o direito dos bichos à liberdade e à dignidade e aceite a redução da vida do bicho a um preço de venda! E o pior de tudo, leva em consideração para seu decreto escravista apenas critérios estritamente ecológicos e técnicos (vide resolução CONAMA 394/07), determinando por meros parâmetros técnicos a aceitação ou a negação do direito à dignidade ética e à liberdade de milhões de seres sencientes e dotados de personalidade.

Uma vez com bandeira branca obtida na consulta, o brasileiro terá carta branca para começar a livremente aprisionar, explorar e comercializar animais de até dezenas de espécies diferentes, em sua imensa maioria aves. Essa maioria listada de aves faz ecoar palavras que nos dão arrepios de revolta: gaiola, cárcere, prisão... cadeia perpétua para inocentes. Na absurda contramão do movimento de conscientização contra a perversa cultura do encarceramento de aves, o IBAMA, ele próprio, vem atrapalhar decisivamente esses esforços de construir uma cultura que preza pela liberdade para os animais e destrói o cárcere e a opressão. Numa comparação taxonomicamente empática, é algo bastante parecido com os colonizadores portugueses no século XVI autorizarem uma série de tribos indígenas listadas para terem seus membros capturados para servirem de escravos cativos para os brancos, listando parâmetros que facilitam ou dificultam a opressão, como suscetibilidade a aceitar o catolicismo, teor de resistência cultural, belicosidade da tribo, predisposição à fuga, etc.

Pergunto aos senhores tecnicistas e especistas do IBAMA: vocês aceitariam a já citada listagem de tribos indígenas passíveis de rapto, exploração e encarceramento? Não porque acham um absurdo? Então porque respeitam diferenças entre humanos mas usam as diferenças entre espécies animais para liberar sua exploração e aprisionamento? Se há a evocação dos parâmetros ecológicos da resolução do CONAMA, que são importantes para a integridade da “Mãe Natureza”, por que não evocam também parâmetros éticos, que são importantes para a integridade da dignidade animal humana e não-humana, para repensar esse absurdo de listar espécies condenadas à exploração servil?

A verdade é que parâmetros zôo-éticos como os pregados pelos adeptos da Libertação Animal derrubariam qualquer cogitação de liberar o encarceramento das espécies listadas. Mas isso, pelo que se constata, é uma tentativa do IBAMA de afrouxar os esforços da contenção do abominável comércio de animais nativos para não ter tanto comprometimento com o combate a espécies ditas “populares”. Em outras palavras, economia de dinheiro e de pessoal (os fiscais se ocupariam em outras áreas em vez de inibir a captura de, por exemplo, pintassilgos, papa-capins e iguanas, tão “adorados” pelos humanos). No entanto, essa economia custará muito caro para a Ética e, por tabela, para a própria reputação do órgão. E será para nós um grave retrocesso, visto que nosso esforço de garantir a liberdade e a dignidade dos animais - mercantilização e valoração da vida não são atributos de seres vivos passíveis de dignidade e também tolhem a dignidade de quem participa do comércio de vidas sencientes - está sendo de fato atrapalhado pelo próprio Poder Público que deveria conceder direitos aos seres vivos. Aos menos entendidos, não são direitos estritamente de seres racionais, como os direitos de voto, de greve ou de liberdade de consciência e crença, mas sim aqueles direitos que garantem a vida realmente digna aos animais e a vedação da maldade humana contra sua integridade: vida, liberdade, dignidade e bem-estar.

Como adepto da filosofia e ética libertacionistas, digo que essa é mais uma luta que temos que travar. Proletários lutaram por seu direito a uma vida digna e obtiveram muitas vitórias ao longo da História. Os animais não-humanos não podem lutar, mas é fato que eles também merecem o direito à dignidade e à liberdade, daí somos nós que temos que lutar por eles. Não podemos fraquejar, nem que o desestímulo venha do próprio Poder Público que não reconhece essa ética avançada que abrange o respeito imparcial a todos os animais. Do quase mesmo jeito que os governos dos países industrializados no século 19 incentivavam ou permitiam que as grandes indústrias praticassem exploração quase livre contra seus empregados, o Governo Federal daqui está incentivando, para fins ditos de “estimação”, a prática do aprisionamento e exploração de mais espécies outrora protegidas. Vamos pressionar o IBAMA para que se detenha nessa atitude absurda, dizendo “não” ao estímulo da ignorância dos carcereiros de pássaros e répteis.

É como eu disse num e-mail enviado ao órgão: se até a criação de cães e gatos para fins de estimação (como em pet-shops e parques de exposição de animais) é bastante questionável eticamente, a sádica e ignorante “estimação” de pássaros aprisionados - que são a grande maioria das espécies listadas - é algo já absurdo e inaceitável. O porquê você pode conferir em artigos referentes à Libertação Animal, como alguns artigos anteriores meus.


Fonte da notícia absurda: http://www.ibama.gov.br/2008/03/06/consulta-publica-definira-especies-da-fauna-como-animais-de-estimacao/
Autor: Robson Fernando


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