Fábrica de Motivações



Ao chegar de viagem, desembarquei no aeroporto de Cumbica, em São Paulo. Voltava de Porto Alegre com um amigo, com cabelos assanhados, chinelo de dedos nos pés e gargalhando das palhaçadas dele, afinal, estávamos em férias.

De repente tive uma visão que mudou a minha vida, simplesmente me deparei com Ariano Suassuna. Boquiaberta, olhei nos olhos dele e congelei. Meu amigo queria saber o que estava acontecendo. Ele não entendia absolutamente nada.

Muito menos eu, que havia sido contemplada com tal presente. Uma voz dentro de mim falava “é ele sim, o paraibano que escreveu o Auto da Compadecida, é ele sim, vai lá", e eu nada.
Foram os dez segundos mais longos que já vivi. Eu queria, mas não conseguia.
Sabe o que fiz? Absolutamente nada!

Meu amigo insistentemente procurava saber o que ocorrera. Só duas horas depois consegui falar-lhe sobre a importância que aquele encontro tinha para minha vida, é claro que em tom de lamentação, uma vez que eu desperdicei a oportunidade de segurar a mão de um grande escritor brasileiro que me ensinou a ter senso de humor.

Depois desse episódio eu poderia muito bem não aceitar o fracasso daquele momento, lamentar, chorar e espernear.
No entanto, procurei analisar o que realmente havia ocorrido. Seria minha roupa, meu cabelo assanhado, meu chinelo de dedos, meu vocabulário pobre? Desesperadamente tentava compreender quais os fatores que separaram Suassuna de mim naquela tarde ingrata.

Daí, aquela mesma voz interior me disse: chega!
Os dias que se passaram, depois de toda aquela angústia, traduziram-se nos mais produtivos de minha vida, pois compreendi que sou um ser humano e como tal fui tomada pela emoção, meu corpo reagiu da forma que melhor interpretou aquela situação.

Hoje observo este fato como uma vitória, pois foi como se tivesse sido admitida por uma Fábrica de Motivações.
Autor: Débora Martins


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