“A DENGUE MATOU MINHA FILHA”



*Bia Lopes

Assim dizia o e-mail, que recebi de uma mãe, relatando toda a dor, toda tristeza, somadas à indignação pelo descaso e pela omissão da Saúde Pública brasileira.
Este relato é do Maranhão, mas poderia ter sido descrito por outra mãe, aqui de nossa cidade, por exemplo.
Sua filhinha, de apenas 04 anos, apresentou febre alta e dores. Foi levada ao P.A., onde o médico disse que ela estava com a garganta inflamada, receitando antibiótico, anti-térmico, medicamento para vômitos e liberando a criança. No dia seguinte, a criança, debilitada e cheia de manchas pelo corpo (processo hemorrágico em andamento), se queixando de muita dor na barriga (multiplicação viral visceral), apresentando quadro de hepatite, é internada na UTI, mas devido à gravidade do quadro, vai a óbito.
“Estou muito magoada, pois minha filha era minha vida, era uma menina linda, muito saudável... estou mandando este e-mail para demonstrar toda minha mágoa com tanta incompetência de vários profissionais da saúde, daqui de Porto Franco-MA”, conclui a jovem mãe.
Analisando o relato da mãe surge a hipótese: Seria, talvez, a 2ª dengue sofrida pela criança? Vejamos: Entre uma dengue e outra existe um período de imunidade de 04 anos, (idade da pequena), possivelmente a mãe possa ter sofrido uma dengue durante a gestação, e neste momento o bebê teve sua 1ª dengue e devido a isto ao sofrer nova infecção os sintomas foram mais exacerbados, fato que exigia uma atenção médica maior!
Até onde vai isto tudo?
A Dengue (ou a Febre Amarela), se tratada de forma intensiva e adequada, pode evoluir de forma diferente, mas é necessário que o profissional da saúde esteja atento, pois três dos sintomas apresentados pela criança apontavam para a possibilidade de ser dengue, caso a ser observado, merecendo maior atenção.

VIROSE

O médico que atestar: “é só virose”, na presença dos sintomas de dengue, está passando um atestado de ignorância, de burrice, para falar um português simples! O pior, é que muitos por ai passam este atestado... Ora, até HIV é uma virose, se considerarmos o fato de ser uma doença viral!
Recordo uma coordenadora de saúde que, numa reunião onde cobrei mais atenção devido às seqüenciais epidemias de DENGUE em nossa cidade, ter ela me respondido: “Ora, Beatriz, alguns têm mesmo que morrer; a vida é assim mesmo”... A mesma coordenadora, tempos depois, teve alguém de sua família atacado por um cão com o vírus da raiva então movimentando a Saúde toda para salvar seu familiar. Por que ela se preocupou tanto? Ah, sim. A pessoa pertencia a família dela... Hoje, tal profissional, ocupa um cargo de grandes decisões, na Saúde do Estado.
Em meu artigo A IMPORTANCIA DA INVESTIGAÇÃO MÉDICA, publicado em www.artigos.com , questiono sobre a necessidade de o médico ouvir os relatos e dar atenção especial se o paciente estiver apresentando quadro febril, dor no corpo, queixa de dor abdominal, garganta inflamada, dores nos olhos (fundo do olho).
O diferencial é que a Dengue sempre inicia com febre intensa, enquanto no caso da Leishmaniose, a febre oscila, a garganta também fica irritada, ocorrendo o crescimento dos gânglios, náuseas, vômitos, mal-estar geral, enfim, existe semelhanças entre uma patologia e outra, mesmo uma sendo de origem viral e a outra não.
É preciso atenção, embora saibamos que “a fila tem que andar”... Aliás, falando em fila, o relato de outra mãe, que levou a criança ao P.A local e ficou mais tempo na fila, para fazer a ficha da criança, do que dentro do consultório do plantonista, é uma informação preocupante! Como o atendimento é de porta aberta, ela ouviu o médico dizer à mãe da criança que estava sendo atendida: “é uma virose”... e pensou:”se este médico falar em ‘virose’, ele vai ouvir o que tenho a dizer a respeito”.
Que tipo de atendimento é este?
Está profundamente errado.
Que tipo de diagnóstico este profissional vai fazer?
Este descomprometimento com a saúde, este descaso, faz com que ocorram fatos tristes e lamentáveis, como o que ocorreu com a mãe, primeiramente citada, que perdeu a filhinha devido à Dengue e ao descuido profissional.
Autor: Beatriz Antonieta Lopes


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