Uma lição de vida
A falta de entusiasmo começava dentro de sua casa. Seu pai, um pedreiro que se contentava com o pouco que ganhava com algumas atividades que apareciam habitualmente. Sua mãe, para ajudar na renda da casa lavava e passava roupas de uma vizinhança um pouco mais afortunada. Além dele, existiam mais três irmãos mais novos, frutos de uma família sem estrutura e planejamento familiar. Os pais não entendiam o anseio do filho em freqüentar uma escola, pois, se não tiveram estudo, porque o filho deles haveria de ter? Para que se aventurar num mundo onde poucos sobrevivem? Qual a intenção de buscar mais além daquilo que era sua realidade de vida? O garoto, com seu humilde jeito de ser não desistiu de seu sonho, nem mesmo a dura realidade de sua vida o fez voltar atrás. O maior obstáculo já havia sido superado, ele já tinha conseguido o consentimento de seus pais e não iria desistir de seus objetivos.
Dificuldades vieram, desde a compra de livros até qual roupa deveria vestir para ir a escola. Sua realidade de vida era semelhante à de muitos colegas que fez na escola, porém, algumas crianças com melhor condição financeira o excluíam do grupo e tentavam de todas as formas desencorajá-lo de estudar e continuar freqüentando as aulas. O tempo passara e o garoto, no anseio de aprender cada vez mais passou a ter a admiração de seus professores que começaram a ajudá-lo no que era necessário. Livros, roupas, mantimentos para os irmãos e os pais.
Ao concluir a 5ª série do ensino o garoto foi convidado pelo diretor da escola a auxiliar outras crianças. Porém, o garoto imaginou que auxiliaria crianças que ele estava acostumado a lidar, crianças sadias, crianças de sua convivência. Mas a realidade era outra, as crianças com que ele lidaria eram realmente muito especiais e necessitariam de muito amor e dedicação, pois eram crianças com dificuldades de aprendizado trazidas por traumas familiares e por desmotivação trazida de seus lares.
O garoto questionou se tão jovem, seria capaz de poder ajudar outras crianças com problemas tão complicados. Decidiu caminhar pelo jardim da escola que era seu local preferido para estudar e pensar na vida. Sentou-se próximo a uma árvore e de longe avistava um grupo de crianças muito pobres, semelhantes a ele quando entrou na escola. Uma das crianças suplicava a seu pai:
-Pai, por favor, me matricula na escola, quero aprender a ler e a escrever, quero ser alguém na vida.
Mas o pai relutava e dizia:
-Para você ser alguém na vida não precisa de escola, basta trabalhar quando estiver na idade certa e aceitar sua realidade de vida.
O garoto uma última tentativa retrucou:
-Pai, é meu sonho!
Por fim o pai disse:
-Pouco importa o seu sonho, eu não tive estudo, não tive oportunidades em minha vida, trabalho todos os dias para sustentar sua mãe, você e seus irmãos. Contente-se com sua vida e pare de pensar essas bobagens.
De longe, o garoto prestou atenção em toda a conversa daquele pai e daquele filho. Por um instante sentiu um enorme sentimento de pena daquela família e lembrou que já tinha passado pela mesma situação. Voltou então ao diretor e disse que aceitaria em auxiliar a escola no aprendizado daquelas crianças.
O tempo passou, o garoto ajudou a muitas crianças e adolescentes naquela escola. Chegou à fase adulta, terminou o colégio e como sempre, estudou como nunca para conseguir ingressar em uma universidade. A esta altura de sua vida já trabalhava, sua vida e de sua família havia melhorado, não eram ricos, porém, não viviam mais com tantas dificuldades.
O pai conseguira um emprego melhor, os outros irmãos também trabalhavam e a mãe não precisou mais trabalhar lavando roupas para outras famílias. Agora, aquele garoto que era um homem, conseguira ingressar em uma universidade, aplicou-se aos estudos como sempre fizera em sua infância. Ótimo desempenho, ótimas notas, elogio de seus professores. Quatro anos se passaram, chegou o dia de sua formatura e lá estava ele, em seus trajes de universitário, a sua família na platéia.
O tão sonhado diploma em serviço social. Logo após ingressou em seu segundo curso superior e formou-se em psicologia, e não se contendo fez ciências sociais. Aquele homem agora era um profissional qualificado, preparado para o futuro, sentindo-se mais vivo do que qualquer momento de sua vida. Tantas dificuldades foram superadas, tantos desafios e agora ali estava ele. Vencedor de seus medos, auxiliando pessoas que ele conhecia muito bem, pessoas carentes, pessoas desmotivadas.
Os anos se passaram e a realidade em sua casa era outra. A pobreza deixara de existir em sua casa e com sua formação pode proporcionar a tão sonhada vida digna que queria para si e para sua família. Em uma reunião familiar seu pai o chamou e disse:
-Meu filho, eu não entendia que na sua infância e juventude você tinha sonhos, sonhos esses que nunca tive consideração e sempre achei que fossem impossíveis. Sempre pensei que a medida que a vida transcorre seu curso, alguns sonhos poderiam ficar na frustração de tentativas e, sempre quis poupá-lo disso. Porém, ao vê-lo hoje, e ao ver nossa família, vejo a sinto-me honrado com sua realização pessoal e com sua alegria em poder servir as pessoas que você convive em seu trabalho.
O filho, após ouvir as palavras de seu humilde pai respondeu:
-Meu amado pai, eu jamais pensei ou aceitei que não pudesse atingir uma meta, sempre tive em mente que precisaria desenvolver virtudes para conseguir atingir meus objetivos. O meu sonho manteve aceso o fogo sagrado em meu coração. Os sonhos são o alimento da alma e, se hoje sou o que sou, devo muito a você por ter acreditado em mim e por ter me matriculado na escola quando pedi. Os dois se abraçaram ternamente e agradeceram um ao outro por aquele momento.
Moral da história. Nunca desista de seus sonhos, mesmo quando as pessoas já desistiram de você. Prossiga sempre em seus objetivos. Dê o melhor de si. As coisas podem não sair da maneira que planejou, mas, se tudo for feito com amor e dedicação, certamente a vida lhe trará muito sucesso.
Autor: Roberto Carlos Pereira
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