Morte nas escolas públicas: agora querem peixes nas merendas
Mostrando-se simpático para com os pescadores e aquicultores que chamavam por um incentivo governamental, o Governo Federal tomou iniciativa de aumentar a participação do “pescado” na alimentação das crianças e adolescentes matriculados nas escolas públicas de ensino básico. Os governantes estão convictos que sua ajuda vai contribuir positivamente para a renda dos pescadores e aquicultores e a nutrição dos estudantes. Daí que invoco o que os olhos dos especistas não vêem e os nossos sim: o lado dos animais foi totalmente desprezado e visto como fator nulo. Peixes que vemos sofrendo muito depois de raptados - a melhor expressão que descreve o que eles sofrem ao serem removidos de seu habitat -, com “direito” a uma asfixia mortal que já fala por si só, estão sendo tratados como frutas de uma árvore de frutos infinitos que não sentem nada ao serem desgarradas do grande vegetal e podem ser colhidas por toda a eternidade. Com o agravante de que não existe “abate humanitário” na pesca. Aliás, seria improvável e utópico ver governos como o atual iniciarem o combate à milenar cultura de ignorar o sofrimento e a crueldade a que os bichos mortos por alimentação são submetidos antes de morrerem, visto que seguem a obsoleta ética do zôo-genocídio aceitável para os já dispensáveis fins de alimentação.
Como eu já falei dos olhos especistas que não vêem o sofrimento animal, reitero que ninguém do governo vê este como sendo o lado negativo desse programa pró-pescado. É de fazer o amante dos animais cair em tristeza ver que a autoridade está vendo os bichos agonizarem, debaterem-se, lutarem em vão pela vida e transparecerem uma vã esperança de voltar à água e continuar vivendo normalmente com a mesma frieza e desprezo que os pescadores. Sem falar na antiética de animais serem obrigados a nascer com o único propósito vital de servir inevitavelmente de alimento para o homem, que poderia muito bem poupar suas vidas e optar por alternativas vegetais e livres de sofrimento. Do mesmo jeito que esses humanos estão desprezando o direito à vida dos bichos aquáticos, hipotéticos extraterrestres humanóides de tecnologia 2 mil anos à nossa frente - mas que tivessem o mesmo especismo estúpido e bárbaro que os terráqueos - poderiam ver a espécie humana da mesma forma... como seres inferiores, selvagens e passíveis de “cultivo”, matança posterior e servidão cadavérica.
Tenho uma sugestão que infelizmente duvido que seja levada a sério em médio prazo pelos onívoros governamentais. Seria a implantação de um prato vegetal máximo nas merendas. Ainda não haveria (infelizmente) a abolição total da carne atualmente disponível para não haver quebra-pau entre os (ainda) poderosos pecuaristas - mais seus lobbies políticos - e o governo, mas seria aumentada muito a diversidade de vegetais. Hortaliças que jamais “sonharam” em pertencer à merenda, como couve-flor, couve-folha, agrião, grão-de-bico, brócolis e sementes de linhaça, entrariam na onda, e também poderia haver uma opção de substituir a carne por massa de proteína de soja (conhecida como carne de soja). Seria uma delícia para a garotada, extremamente nutritivo e até ajudaria a derrubar o preconceito infantil de achar ruins pratos com muita variedade vegetal.
Mas é lamentável que a realidade aponte que esse desejo ainda pode demorar décadas para entrar nas cozinhas das escolas públicas. Porque comprar peixes mortos é mais barato. Aliás, pagar para raptarem e matarem por asfixia bichos aquáticos sai mais barato que investir em diversidade vegetal. É até engraçado que o governo prefira não estimular a diversificação vegetal-nutricional nem onde tem poder de ação direta - como as escolas públicas mesmo - mas sim continuar fomentando o zôo-genocídio de peixes e de gados em atividades de exploração animal para fins de alimentação já comprovados como dispensáveis.
Eles ignoram a vida dos bichos vítimas da exploração humana, mas nós não. Precisamos concentrar nossas forças para que o encorajamento de práticas como pesca e piscicultura seja cessado e seja apresentada cada vez mais a alternativa da agricultura familiar/minifundiária/de horta. A campanha pró-pescado nas escolas não chega ainda a ser um retrocesso significativo na luta da Libertação Animal como a famigerada consulta pública do livre cárcere liberada pelo IBAMA, já que não chega a aumentar de forma alarmante a cultura do zoovorismo e da falta de compaixão para com animais “comestíveis” e apenas a mantém nos níveis atuais, mas ainda assim deve ser motivo da atenção dos defensores dos animais até para a propagação, por exemplo, de uma campanha que visasse o aumento do consumo de vegetais coadjuvantes como os já citados dois parágrafos acima. Essa possível popularização desses alimentos poderia agradar aos nutricionistas, que ajudariam a propagá-la, e talvez até diminuir a “moral” dos retalhos cadavéricos assados perante outras fontes de proteínas, ferro e vitaminas. Inclusive nas mesmas escolas públicas em que ameaçam distribuir peixes mortos.
Fonte da notícia: http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/12/23/materia.2007-12-23.8057788103/view
Autor: Robson Fernando
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