Morte nas escolas públicas: agora querem peixes nas merendas



Mais uma notícia, ainda que de meses atrás, continua provocando indignação nas pessoas dotadas de compaixão imparcial para com os animais. Trata-se do lançamento de um programa nacional de inclusão de carne de peixes nas merendas das escolas públicas. Uma novidade nada surpreendente quando vem de um governo amigo de setores de pecuária, pesca e piscicultura, e totalmente normal, aceitável e bem-vinda para uma sociedade acostumada ao onivorismo, à sustentação pelo sofrimento e morte multiplicados em bilhões de bichos mortos anualmente. Mas nada agradável para quem luta pelo vegetarianismo e pela Libertação Animal e vê mais um retrocesso no tratamento dos animais por parte do Poder Público, depois da famigerada lista elaborada pelo IBAMA de espécies animais passíveis de terem sua escravidão, aprisionamento e mercantilização totalmente legalizados.

Mostrando-se simpático para com os pescadores e aquicultores que chamavam por um incentivo governamental, o Governo Federal tomou iniciativa de aumentar a participação do “pescado” na alimentação das crianças e adolescentes matriculados nas escolas públicas de ensino básico. Os governantes estão convictos que sua ajuda vai contribuir positivamente para a renda dos pescadores e aquicultores e a nutrição dos estudantes. Daí que invoco o que os olhos dos especistas não vêem e os nossos sim: o lado dos animais foi totalmente desprezado e visto como fator nulo. Peixes que vemos sofrendo muito depois de raptados - a melhor expressão que descreve o que eles sofrem ao serem removidos de seu habitat -, com “direito” a uma asfixia mortal que já fala por si só, estão sendo tratados como frutas de uma árvore de frutos infinitos que não sentem nada ao serem desgarradas do grande vegetal e podem ser colhidas por toda a eternidade. Com o agravante de que não existe “abate humanitário” na pesca. Aliás, seria improvável e utópico ver governos como o atual iniciarem o combate à milenar cultura de ignorar o sofrimento e a crueldade a que os bichos mortos por alimentação são submetidos antes de morrerem, visto que seguem a obsoleta ética do zôo-genocídio aceitável para os já dispensáveis fins de alimentação.

Como eu já falei dos olhos especistas que não vêem o sofrimento animal, reitero que ninguém do governo vê este como sendo o lado negativo desse programa pró-pescado. É de fazer o amante dos animais cair em tristeza ver que a autoridade está vendo os bichos agonizarem, debaterem-se, lutarem em vão pela vida e transparecerem uma vã esperança de voltar à água e continuar vivendo normalmente com a mesma frieza e desprezo que os pescadores. Sem falar na antiética de animais serem obrigados a nascer com o único propósito vital de servir inevitavelmente de alimento para o homem, que poderia muito bem poupar suas vidas e optar por alternativas vegetais e livres de sofrimento. Do mesmo jeito que esses humanos estão desprezando o direito à vida dos bichos aquáticos, hipotéticos extraterrestres humanóides de tecnologia 2 mil anos à nossa frente - mas que tivessem o mesmo especismo estúpido e bárbaro que os terráqueos - poderiam ver a espécie humana da mesma forma... como seres inferiores, selvagens e passíveis de “cultivo”, matança posterior e servidão cadavérica.

Tenho uma sugestão que infelizmente duvido que seja levada a sério em médio prazo pelos onívoros governamentais. Seria a implantação de um prato vegetal máximo nas merendas. Ainda não haveria (infelizmente) a abolição total da carne atualmente disponível para não haver quebra-pau entre os (ainda) poderosos pecuaristas - mais seus lobbies políticos - e o governo, mas seria aumentada muito a diversidade de vegetais. Hortaliças que jamais “sonharam” em pertencer à merenda, como couve-flor, couve-folha, agrião, grão-de-bico, brócolis e sementes de linhaça, entrariam na onda, e também poderia haver uma opção de substituir a carne por massa de proteína de soja (conhecida como carne de soja). Seria uma delícia para a garotada, extremamente nutritivo e até ajudaria a derrubar o preconceito infantil de achar ruins pratos com muita variedade vegetal.

Mas é lamentável que a realidade aponte que esse desejo ainda pode demorar décadas para entrar nas cozinhas das escolas públicas. Porque comprar peixes mortos é mais barato. Aliás, pagar para raptarem e matarem por asfixia bichos aquáticos sai mais barato que investir em diversidade vegetal. É até engraçado que o governo prefira não estimular a diversificação vegetal-nutricional nem onde tem poder de ação direta - como as escolas públicas mesmo - mas sim continuar fomentando o zôo-genocídio de peixes e de gados em atividades de exploração animal para fins de alimentação já comprovados como dispensáveis.

Eles ignoram a vida dos bichos vítimas da exploração humana, mas nós não. Precisamos concentrar nossas forças para que o encorajamento de práticas como pesca e piscicultura seja cessado e seja apresentada cada vez mais a alternativa da agricultura familiar/minifundiária/de horta. A campanha pró-pescado nas escolas não chega ainda a ser um retrocesso significativo na luta da Libertação Animal como a famigerada consulta pública do livre cárcere liberada pelo IBAMA, já que não chega a aumentar de forma alarmante a cultura do zoovorismo e da falta de compaixão para com animais “comestíveis” e apenas a mantém nos níveis atuais, mas ainda assim deve ser motivo da atenção dos defensores dos animais até para a propagação, por exemplo, de uma campanha que visasse o aumento do consumo de vegetais coadjuvantes como os já citados dois parágrafos acima. Essa possível popularização desses alimentos poderia agradar aos nutricionistas, que ajudariam a propagá-la, e talvez até diminuir a “moral” dos retalhos cadavéricos assados perante outras fontes de proteínas, ferro e vitaminas. Inclusive nas mesmas escolas públicas em que ameaçam distribuir peixes mortos.

Fonte da notícia: http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/12/23/materia.2007-12-23.8057788103/view
Autor: Robson Fernando


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