Darfur: ferida na África



Morrem em Darfur, segundo estudos de campo, aproximadamente 500 pessoas por dia. Mas liga não, hei! Eles estão longe! E estão faturando 70% da exportação com petróleo. Isso que é vida, hein!? Que dinheirama! E olha que, tudo isso, desconsiderando a adrenalina social... os nervos à flor da pele escura, lavrada, ideológica, alienada, sem banho, sem sal, sem quase nada...
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Ele foi conhecido na antiguidade como Núbia e, posteriormente, foi incorporado ao mundo árabe na expansão islâmica do século VII. O sul escapa ao controle muçulmano, mas é submetido às aventuras dos caçadores de escravos quando, por volta de 1821, é conquistado e unificado pelo Egito e, anos depois, o Reino Unido é quem invade o país estimulando aspirações de independência que culminam com a expulsão dos próprios ingleses em 1885. Treze anos depois os ingleses retomam o espaço geográfico formatando um domínio conjunto e explorador com o Egito. Mas estava próxima a autonomia limitada em 1953 e, ufa! A independência em 1956. Escrevi, aí acima e com ajuda da história, sobre o Sudão...

Esta nação tem uma história de conflitos entre o sul, cristão e animista, e o norte do país, muçulmano, que resultaram em duas guerras civis. Num certo momento da história, acreditem, introduziram no país, que não era totalmente maometano, a Sharia, lei islâmica responsável pela fuga dos sudaneses a países vizinhos pelo simples fato dela proibir bebidas alcoólicas (que loucura!). Além das punições, com naturalidade, através de enforcamento ou mutilação, dentre outros “capítulos, incisos e parágrafos”.

Bom, mas isso é lá no Sudão, o maior país da África tendo, somente em Darfur, cerca de 5 milhões de pessoas e três tribos predominando: os fur, os masalit e os zaghawa, que são em sua maioria negros muçulmanos. E nesse contexto geográfico nasce, em fevereiro de 2003, o Conflito de Darfur quando dois grupos rebeldes da região (Movimento de Justiça e Igualdade e o Exército de Libertação Sudanesa) se revoltam contra a atitude pró-árabe do governo central sudanês que, dentre outras coisas, oprimia os não-árabes e negligenciava Darfur. Outra reivindicação dos rebeldes era a partilha dos rendimentos obtidos com o petróleo recém-descoberto na região.

Em reação, o governo iniciou bombardeios aéreos enquanto era apoiado em terra pelo ataque da milícia árabe e muçulmana Janjaweed (financiada pelo presidente sudanês Omar El Bashir) que aproveitou para queimar vilarejos e estuprar centenas de mulheres e meninas, humilhando os não-árabes. O bebê proveniente dos estupros acaba sendo chamado, pelas próprias mães desgostosas, de janjaweed: um insulto que em língua local significa algo como "diabo montado a cavalo". Por terem a pele mais clara eles são alvo de preconceito e facilmente identificados como descendentes de árabes, sofrendo o veneno da aceitação e integração, durante toda a vida, nas tribos ao sul.

Nossa! Que horrível, né? Mas nem se preocupe, não é no Brasil mesmo! Ainda não importa o que você fez, eles estão até hoje nesse conflito civil camuflador da posse do petróleo. Ah! Estão até dizendo por lá da existência de muitas reservas ainda por comprovar. Estima-se que, desde 2003, mais de 400 mil civis foram mortos e cerca de 2 milhões tiveram que deixar suas casas. Morrem, segundo estudos de campo, aproximadamente 500 pessoas por dia. Mas liga não, hei! Eles estão longe! E estão faturando 70% da exportação com petróleo. Prevendo que isso aconteceria os EUA promulgou sanções comerciais vetando empresas americanas de explorar o petróleo sudanês, desde 1997, sob a acusação de que o Sudão promovia o terrorismo, além de proibir companhias sudanesas de usar a moeda americana.

Os efeitos das medidas foram limitados visto que a China, próxima sede dos Jogos Olímpicos, se tornou a maior exploradora do petróleo sudanês e, com esses rendimentos, o governo do Sudão segue comprando armas para a milícia Janjaweed a fim de manter as ações em Darfur. Adivinhem quem vende essas armas! A Rússia e, lógico, a China! Porém, mais ou menos 6 meses atrás, o governo americano endossa as sanções de Bill Clinton acrescentando outras e, adivinhem mais uma vez, quem aprovou as sanções!? O inglês Tony Blair!!! Enfim, mais uma Floresta de Sherwood infestada de Robin Hood.

Imaginem vocês que o Brasil deve mesmo continuar o investimento na parceria com a China. Ela é “fiel”. Tamanha fidelidade é visível nos constantes vetos ao envio de tropas de paz, reforçadas, ao Sudão. Leiam o que disse Liu Guijin, representante da China na questão de Darfur: Sanções e pressão não vão resolver o problema. Penso na hipótese de se promover o estupro de sua querida esposa por um Janjaweed. Mas relaxa, estamos longe demais! Não é problema nosso! E mesmo assim o presidente Lula chegou a ser elogiado pelo presidente sudanês, em visita ao Brasil, quanto à sua “neutralidade” no conflito em questão. Que tal pensarmos na hipótese da primeira-dama Marisa... Deixa pra lá!

Pergunto-me sobre produtos que consumi quando meus pais jamais imaginaram que veriam. Conheci lugares que meus pais jamais imaginaram conhecer, com tão pouco. Tudo a propósito duma tal globalização que diz respeito à quebra de barreiras em vários sentidos. Graças a essa tal que minimiza identidades culturais estamos involuntariamente condicionados a um modelo de existência. Tem que funcionar! Bom, se é assim tudo tão globalizado por qual dos motivos não globalizamos a educação?! A saúde?! Ou então a manutenção da paz?! A manutenção da paz, gente! Aiaiviw... É o Brasil! Ops! O estar humano.
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Fonte: www.clubemundo.com.br
 
Autor: Alex Pinheiro


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