Eu Garanto a Estratégia!



Ousadia desmedida não é sinônimo de empreendedorismo.

Considerar a estratégia como algo implícito na grandeza inovadora do negócio é um paradigma pré-estabelecido na mente da maioria dos empreendedores e dos principais executivos das pequenas e médias empresas brasileiras. Em grande parte, trata-se de um comportamento sedimentado no modelo de gestão dos empreendedores mais ousados, embora retrate uma grande probabilidade de erro.

Processos de pesquisa e planejamento representam supostos custos operacionais que essas empresas, costumeiramente, desprezam ou relegam a um grau de importância apenas marginal, dado o clima competitivo de custos que vivem no dia-a-dia.

Uma vez alcançado o relativo sucesso do novo negócio, que normalmente marca o seu princípio empreendedor, os quesitos estratégicos acabam sendo descartados, pois normalmente dão a idéia de lentidão e uma interpretação equivocada ao qualificar os seus custos associados a um peso improdutivo e, portanto, descartável.

Fato é que o êxito do empreendimento acaba gerando um conforto relativo do “está dando certo”, trazendo ao empreendedor, ou ao seu principal executivo, o sentimento de que o caminho estabelecido é o correto, afastando todas eventuais dúvidas e desconsiderando os riscos associados às demandas do mercado comprador.

Esse mercado, em sua volatilidade e complexidade, é um elemento-chave em qualquer negócio que, muito mais do que respeitado, há que ser compreendido em suas forças e diversidades para que seus movimentos, flutuações ou saltos possam ser antecipados ou pressentidos.

Não se trata de uma tarefa simples, muito pelo contrário! O entendimento dessas forças representa um fator efetivo no diferencial competitivo de uma empresa, bem como um pré-requisito ao desejado posto de liderança em seu segmento, fruto seleto do contínuo planejamento estratégico.

Afinal, o peso da concorrência só é percebido quando se nota que eles prestaram mais atenção às expectativas e às características de compra do mercado, preparando-se para enfrentá-las, antecipadamente, enquanto que acreditávamos apenas no poder da grande idéia.

Quando o entendimento do valor da estratégia é menosprezado, acaba se tornando o principal elemento deflagrador das tendências que aceleram a curva de queda de faturamento.

Trata-se de um elemento oculto, pois mesmo nos momentos de crise, sua importância é desprezada.

A equação é simples: por ser muito volátil e suscetível, o mercado pode provocar rápidas e substanciais mudanças em seus perfis de compra. Quando tais mudanças não são acompanhadas e antecipadamente interpretadas podem gerar grandes quedas na demanda de um dado produto ou serviço, comprometendo os resultados dessas empresas que, normalmente, se mantêm estáticas em suas ofertas, confiando cegamente no poder inovador da idéia, sem dar atenção ao real poder e desejo de compra do mercado.
Nesses casos, as empresas não identificam as causas reais, mas apenas os seus impactos refletidos nas quedas bruscas e contínuas em suas receitas.

Quando falamos sobre as forças do mercado, assim como suas expectativas e demandas, esquecemos que a definição dos requisitos e do poder de compra estão nas mãos das pessoas.

Sim, pessoas que sofrem constantes e intensas influências de suas organizações, da concorrência de preços e até dos grandes líderes globais que em seus modelos de inovação contínua definem novos padrões, assim como descontinuidades.

Dentre os fatores de influência mais evidentes, podemos citar: novas tendências tecnológicas, mudanças na legislação, tendências culturais, moda, luxo, evoluções funcionais e diferenciais, custos, obsolescência, commodities, poder da mídia, concorrência agressiva de preço, promoções, ambições, etc.

Todos esses elementos e influências conferem um marcante estado de volatilidade ao mercado. Enquanto isso, imaginamos que nossas grandes idéias são suficientes para garantir o sucesso dos nossos empreendimentos.

Esse universo de complexidades vive em mutação generalizada – ora sugerindo sentimentos fictícios de estabilidade em um dado segmento, ora gerando revoluções impactantes produzidas pela inserção de novas tendências tecnológicas, ou mesmo de funcionalidade ou produtividade.
Desprezar a compreensão antecipada de todas as variáveis dessas flutuações significa tomar um altíssimo risco à continuidade do negócio.
Ter uma grande idéia nas mãos não é condição única e absoluta de sucesso.
Esse é um paradigma que tem levado ao fracasso muitos empreendimentos promissores, dada a total ausência de planejamento estratégico contínuo.
O mercado não compra apenas por se tratar de algo novo...

Outra confusão comum no meio empreendedor diz respeito ao caráter do planejamento estratégico. Imagina-se que uma vez estabelecida, a estratégia servirá para toda vida. Ledo engano!

Para lidar com um mercado em constante mutação, quer seja pela evoluções ou acomodações específicas de cada segmento, ou ainda, pelos revezes econômicos do universo financeiro (local e internacional), há que se dedicar continuamente à análise e ao ajuste das estratégias do negócio.

Na contramão dessa temível realidade, a grande maioria dos empreendedores, e mesmo outras tantas empresas mais tradicionais, passam ao largo nesse quesito de planejamento, certamente por completa falta de conhecimento e despreparo, ou ainda, por imaginarem que o caráter promissor do negócio ou o êxito histórico de vendas de um dado produto ou serviço, é suficiente para garantir a ausência de análises e ajustes estratégicos.

É evidente que a intuição empreendedora – esse talento nato nos grandes casos de sucesso, confere um valor diferencial no crescimento dessas empresas, todavia muito mais apoiado nos instintos de direção de seus proprietários ou executivos, do que no trabalho de acompanhamento, análise e planejamento de suas iniciativas, reduzindo totalmente as chances de antecipação de quedas e tendências nas demandas, bem como, possíveis mudanças radicais de direção de consumo.

Portanto, insistimos na importância do trabalho de pesquisa, análise e planejamento, adequadamente dimensionados ao tamanho e aos recursos cabíveis a cada organização, distinguindo o esforço criador e inovador, latentes no espírito empreendedor, dos processos de acompanhamento de mercado e de gestão estratégica, que buscam a sustentação e o crescimento dos resultados gerados pelos produtos ou serviços da empresa.

Afinal, o que garante o sucesso de um empreendimento é a sua solidez e continuidade, e não apenas o êxito momentâneo de uma grande idéia que perdura feliz e ingênua até ser copiada pela concorrência.

Roberto A. Trinconi
CEO
EdgerSense Consulting
The Business Management Intelligence Company
Autor: Roberto A. Trinconi


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