O SOBRETUDO



Estava chegando o dia, Carol não controlava-se de euforia, sua prima Julinha havia convidado para o aniversário de 15 anos da filha. Fazia tempo que a família não lhe chamava para alguma comemoração. O vestido já estava a caminho, uma amiga emprestou e ela já não comia há dias para fechar o incompreensível zíper.

No dia da festa levantou cedo e animada para fazer o banho de frutas no cabelo, no rosto e por onde mais seria permitido passar aquele creme colorido. Mas, o desespero caiu sobre ela quando ouviu pela TV que chegara uma frente fria.

_ E agora? Terei encolhimento crônico de ossos com esse ventinho frio e esse vestidinho de verão. Não havia conseguido nenhum vestido para a época – era inverno. Ligou para uma amiga que com certeza emprestaria algo. Depois de muito convencimento conseguiu um sobretudo que veio com todas as recomendações possíveis.

_ Veja lá! Esse casaco veio de Londres e foi minha vó quem me deu, ela trouxe da lua de mel com meu vô. Ela ainda guarda no bolso aquele papelzinho com desenhos de corações que recebeu dele com todo amor. Os corações já estavam transparentes, mas, o amor ainda era vermelho.

_ Além disso custou uma grana preta!

_ Ah! Se custou uma grana preta, tudo bem! Eu não tenho é muita grana!

_ Veja lá, Carolina, cuida dele!

Assim que o casaco chegou chamou um táxi e saiu.

Já no carro, começou a achar estranho que outros carros passavam e faziam gestos. O que seria aquilo?
Resolveu falar com o motorista.

_ Ô moço! O senhor reparou que já passaram alguns carros com as pessoas gesticulando. O motorista nada falou. Ela repetiu, mais alto. Até que o senhor murmurou...

_ O que senhora ?
Não gostava de ser chamada assim, afinal eram muitos os cremes para adiar essa fase.

_ É mesmo, senhora!

_ Vou parar para ver o que é.

Um tempinho depois se assustou com umas batidinhas no vidro.

_ Senhora, o seu casaco está todo para fora, ele veio varrendo as avenidas.

_ O que?

Imediatamente saiu do carro e se desesperou ao ver o casaco sem botões, rasgado na manga, cheio de fiapos de grama e sem o recadinho de amor da vovó que o bolsinho carregava por tanto tempo.

Praticamente surtou!!

O que faria agora? Deus ô livre!

_ Moço me ajude! Eu não posso estragar esse casaco! Sacode daqui, espanta de lá, disse pra si mesmo:

_ Não vou perder essa festa por nada!

Logo na entrada foi recepcionada pela prima que foi logo
perguntando:

_ O que houve com seu casaco?

_ Banho de fiapinhos de seda, recomendações de um estilista italiano famoso. Sentiu que convenceu e....agradou.

Bem...com o casaco ela bem sabia o que acontecera, ela só não sabia o que iria acontecer com ela depois daquela festa. Mas, isso ficaria para depois. Agora ela só queria saber de acompanhar a música, comer brigadeiros e rir, rir muito!!

MARCIA
MAIO/2007-05-07
Crônicas muito doidas
Autor: Marcia Rosa


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