A personalidade, o comportamento dos marginalizados e suas conseqüências



A personalidade é composta por vários fatores ao longo da vida. Uma pessoa é atualmente fruto do que foi construído anteriormente, ou seja, como foi construída sua personalidade.

O meio social, a família, as influências do grupo social, a educação e as experiências, integram-se na formação do indivíduo e influenciam seu comportamento por toda sua vida.

Ao reparar em um comportamento grotesco ou reprovativo de um indivíduo, o observador, muitas vezes, não consegue compreender o que leva uma pessoa a ter aquela forma de agir. Infere-se, que além da deficiência do agente de tal comportamento, há também a deficiência de quem não consegue compreendê-lo.

Serão analisadas aqui as conseqüências sociais da personalidade criada pelas condições do meio, bem como a condição psíquica dos marginalizados e seus respectivos resultados.

Todo comportamento humano é oriundo do pensamento. Como disse Descartes: “Cogito, ergo sum”, significando: Penso, logo existo. É sobre a ciência do pensamento que este artigo levará sua maior abordagem.

Para o entendimento do comportamento humano é necessária a aplicação do método socrático da interrogação. Esse método consiste em interrogar um conceito de forma que perceba a definição insatisfatória que ele traz sobre um determinado conhecimento. É por meio disso, que se origina o termo preconceito que vem de pré+conceito. Um conceito formado sem o devido conhecimento. Existem muitos preconceitos formados na mente humanda que, por sua vez, causam diversos problemas em sua convivência.

Para esclarecer, deve-se lembrar da maiêutica. A “maiêutica é um método que consiste em "parir" idéias complexas a partir de perguntas simples e articuladas dentro de um contexto”. Esse método procura a verdade no interior do homem. Caso se deseje obter uma definicação, um conceito ou uma verdade sobre determinada questão, sem preconceitos ou equívocs, dever-se-á então buscá-los por meio das interrogações.

Compreende-se que, questionando os conceitos que foram formados como verdades na mente humana, pode-se entender e analisar melhor as origens de tais definições.

Nesse momento, já se torna possível explanar a idéia proposta no preâmbulo deste material.

É possível saber que o comportamento é gerado pelo pensamento. Então, deve-se analisar, primeiramente o pensamento.

O que compõe o pensamento? Como ele é formado? E quais suas implicações?

Não se ousa alcançar a destreza de Platão e Sócrates, no entanto, o método levará o leitor a uma conclusão do que resulta os comportamentos dos marginalizados e suas conseqüências.

O termo pensar, vem de do latim “pensare” e significa “combinar idéias, formar pensamentos, meditar, refletir em, ser de tal ou qual parecer, ter na mente, raciocinar, delinear mentalmente; meditar, planejar.”

Pensar, etimologicamente, significa avaliar o peso de alguma coisa. Essas avaliações, ponderações e pareceres levam o indivíduo a uma dada ação.

O pensamento é o avaliador da realidade do pensante. Isso gera a conclusão de que o mundo será diferente para cada um. O mesmo mundo visto de diversas formas e diversos ângulos.

A visão holística do mundo terá diferenças gritantes, de acordo com a adequação da realidade percebida.

As ações dos atingidos pela exclusão social, muitas vezes, não são compreendidas, pois poucos fazem o mínimo esforço de lembrar da composição do comportamento humano e suas peculiaridades.

A forma de pensar é moldada pelos esquemas de respostas que são pré-estruturados. Essa estrutura se dá pela aprendizagem, ou seja, pela experiência.

O pensamento pode ser definido também como a faculdade de formular conceitos. A atividade mental elabora os fenômenos cognitivos e imaginativos.

Vale considerar que, o pensamento é norteado por quadros mentais, esses quadros mentais são frutos de experiências. Há uma programação em cada indivíduo, uma configuração, essa configuração é responsável pelos nossos atos, atitudes, iniciativas e conduta.

Vale ressaltar, também, a importância da cognição, esta, do latim "cognitione" significa aquisição de um conhecimento por meio da percepção. Pode ser definida como o conjunto dos processos mentais usados no pensamento, formando a percepção, a classificação, o reconhecimento e a compreensão que tecerá julgamentos por meio do raciocínio.

Assim, antes de analisar a forma de agir de um ser, seja ele de qualquer classe social, religiosa ou cultural, deve-se, necessariamente, analisar sua formação psíquica.

Este trabalho pretende, sem ousar esgotar o assunto, haja vista os profundos trabalhos desenvolvidos e dissertados por ilustres mestres, ao menos de forma simples e sucinta, sem prolixidade, levar o leitor à reflexão do comportamento no prisma social mediante a formação educacional, emocional e psicológica dos marginalizados.

Insta analisar, que nunca haverá a mesma forma de pensar entre, por exemplo, um jovem da extrema periferia e um jovem da classe alta.

Isso porque, de um modo geral, aquele é desprovido de educação, experimentou experiências cruéis, provavelmente presenciou a violência, a abstenção aquisitiva e as diversas agressões emocionais causadas pela desestruturação familiar.

Se um indivíduo cresce sob a opressão, violência, pobreza, humilhação, abstenção de lazer, de felicidades, de realizações, não há como negar que ele terá fortes problemas emocionais que o conduzirão a reflexos como um comportamento tendencioso a agressividade e outros transtornos. A convivência com os infortúnios, privações, rejeição, preconceito, discriminação e insucessos o programarão a ser tendenciosamente abalado.

Ao pesquisar sobre o assunto foi possível encontrar temas que causaram surpresa por corroborar com exatamente o que foi exposto neste trabalho, a título de exemplo; o artigo do site Universia intitulado “USP: O crime do Rio”, mencionando a pesquisa de mestrado do Dr. Rubens de Aguiar Maciel, quando diz:

(...) “podemos ampliar nossa compreensão deste fato olhando mais de perto sobre as condições emocionais em que se desenvolvem muitos dos jovens envolvidos com o crime".

(...) “Ainda segundo o pesquisador ”a estruturação da personalidade de um ser humano passa, principalmente, pelo ambiente emocional em que ele é criado em seus primeiros anos de vida, período de extrema fragilidade e plasticidade. Jovens cujos pais possuem dificuldades emocionais, encontram um ambiente inadequado para seu desenvolvimento. Famílias que vivem dificuldades como: situação de pobreza; discriminação social; desemprego; alcoolismo e drogas, entre outros, estão submetidas a condições de grande estresse emocional. Este estresse é um fator desestabilizante e dificulta a disponibilidade afetiva dos pais para bem estruturar seus filhos emocionalmente."

Analise-se também que se esse mesmo indivíduo tiver filhos, haverá a grande probabilidade de refletir essas infelicidades no seu descendente gerando um ciclo hereditário de gerações emocionalmente doentes.

De qualquer ângulo que se olhe, seja pelo tratamento familiar ou social, nas circunstâncias supra citadas, há uma construção negativa do ser humano.

Diante do anteriormente exposto, o pensamento, a cognição, a forma de ver o mundo desses marginalizados, jamais poderá ser saudável. Vale lembrar, marginalizado, nesse contexto, não se refere à condição geográfica, ou seja, não se leva em conta onde o indivíduo reside, e sim, sua formação familiar, cultural e educacional.

A solução para a criminalidade não está em gerar marginais para depois prendê-los, e sim, investir na melhor qualidade de vida, educação, qualificação e emprego para redução da revolta e ociosidade. Isso pode até parecer utópico, haja vista o desinteresse político, daqueles que comandam o país. Mais fácil e cômodo é criar lixo social e depois incinerá-lo.

Além disso, correto seria retirar o mal pela raiz, ao invés de ficar podando-o quando cresce. Mas é claro que é mais fácil e cômodo deixar crescer o capim e cortá-lo toda semana. Tratar o terreno, bancar despesas e prevenir ervas daninhas não é conveniente.

Gerar marginais e enviá-los para o cárcere sempre foi muito mais fácil para os governantes.

Diante do exposto, conclui-se que a sociedade está doente, pois seus pensamentos estão doentes. Há pouca educação, há poucos investimentos no estado psicológico dos cidadãos. Há uma agressão constante as emoções humanas. A vida é composta de conseqüências. Todas essas deficiências retornarão em forma de desgraças familiares, conflitos sociais e doenças psicossomáticas.

Não haverá uma sociedade melhor, com baixas estatísticas de violência, baixa criminalidade e harmonia social, enquanto houver investimentos na educação.

Não haverá harmonia social, enquanto uns estão abastados e ricos e outros sofrendo fome, miséria, privações, sofrimento e abandono.

Não haverá redução de crime, violência e dependência química, enquanto não houver medidas concretas e efetivas de investimento para combater e erradicar tudo aquilo que causa o estresse social e suas conseqüências. Saliente-se a necessidade da educação, programas sociais efetivos, qualificação profissional e emprego.
Autor: Adriano Martins Pinheiro


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