DISLÉXICO, AGRESSIVO E DEPRIMIDO



No seu livro Dislexia: manual de leitura corretiva (Artes Médicas, 1989, p. 12), Mabel Condemarín e Marlys Blomquist afirmam que o leitor deficiente, em particular, o disléxico, “ é uma criança, geralmente, triste e deprimida pelo repetido fracasso em seus esforços por superar suas dificuldades” e continua “ Outras vezes, mostra-se agressivo e angustiado”.
Palavras como tristeza, depressão, fracasso, esforço, agressividade e angústia parecem fazer parte do dicionário do disléxico desenvolvimental. Decerto, a tristeza do disléxico ocorre à medida que diante da leitura deficiente é conduzido à falta de alento, desânimo, desalento, esmorecimento.
À medida que a dislexia persiste, os leitores limitados tornam-se melancólicos, desanimados e vivem, em sala de aula, em estado de aflição.
Triste, o disléxico tende a se tornar depremido. A depressão dos leitores com dificuldades persistentes em leitura mergulham, ao longo dos anos, na escola, em um estado de desencorajamento, de perda de interesse, que sobrevém, por exemplo, após perdas, decepções, fracassos, estresse físico e/ou psíquico, no momento em que o indivíduo toma consciência do sofrimento ou da solidão em que se encontra.
A dislexia é, por isso, interesse também da psicologia clínica e psiquiatria, uma vez que leitores deprimidos têm problema psíquico que se exprime por períodos duráveis e recorrentes de disforia depressiva, surgindo concomitantemente com problemas reais ou imaginários ou com experiências momentâneas de sofrimento, podendo ser acompanhado de perturbações do pensamento, da ação e de um grande número de sintomas psiquiátricos.
Educandos com dificuldades específicas em leitura apresentam, em geral, sentem-se fracassados ou, como os americanos dizem,perdedores, uma vez que, diante do texto escrito, sem consciência fonológica ou conhecimento alfabético de sua língua, não ter êxito ou fluência leitura; falham na leitura em voz alta, e partir daí, frustram-se diante dos textos escolares, em seus diversos gêneros, especialmente os textos poéticos.
Todo esse quadro de dificuldades e fracassos conduzem os leitores disléxicos à agressividade e à angústia. Há uma relação muito contígua entre dislexia e agressividade à medida que os disléxicos não tendo êxito no processo leitor tendem, dentro da visão psicanalítica de segundo Sigmund Freud (1856-1939), a manifestar comportamentos reais ou fantasiosos que objetivam prejudicar, destruir ou humilhar o outro.
Na teoria da psicanalista austríaca Melanie Klein (1882-1960), a dislexia persistente tem a configurar uma força que promove uma radical desorganização e fragmentação da psique. Assim também ocorre entre dislexia e angústia, esta, entendida como estado de ansiedade, inquietude; sofrimento, tormento, manifesta, durante a leitura em voz, em um estado de excitação emocional determinado pela percepção de sinais, por antecipações mais ou menos concretas e realistas, ou por representações gerais de perigo físico ou de ameaça psíquica.
No caso, objeto de nossa análise, não poderíamos, também, falar em agrafia, isto é, a impossibilidade total de escrever. Poderemos, sim, postular a disgrafia superposta à dislexia. A dislexia com disgrafia se aplica no caso de dificuldade parcial, porém, não a impossibilidade para aprendizagem da escrita de uma língua.

A disgrafia pode ser definida, no campo da psicolingüística, como a incapacidade de exprimir as idéias por meio da escrita associada à afasia e
resultante de uma lesão cerebral devida a um acidente vascular cerebral ou
traumatismo cerebral.

A disgrafia pode corresponder a outro tipo de distúrbio resultante de
afasia, como, por exemplo, anomia ou agramatismo. Os distúrbios relacionados com a escrita nem sempre estão associados com afasias. Podem dever-se, também, à falta de força na mão dominante, exigindo uma reaprendizagem pela mão não dominante num processo lento que exige bom apoio e encorajamento.Por vezes, surgem apenas erros ortográficos de menor importância ou então dificuldades nas cópias ou nos ditados.



Vicente Martins é professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), em Sobral, Estado do Ceará. E-mail: [email protected],.br
Autor: Vicente Martins


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