O POBRE E A SENZALA



O pobre e a senzala


Hoje, após sair de um estabelecimento comercial no centro da cidade, deparei-me com uma cena trágica que retrataria fielmente o Brasil do século XVII. Vi dois jovens negros saindo de uma loja com olhares apreensivos, um carregava uma sacola de supermercado e, outro para o meu espanto portava uma arma de fogo.
Apesar da história acima aparentar ser tratar de um anacronismo, ou seja, de uma confusão minha que em nada tem haver com século XVII, convido você, ilustríssimo leitor (a) a refletir as questões socioeconômicas do mundo atual, buscando simultaneamente uma reflexão acerca do século supracitado.
Dando continuidade à história, após os dois rapazes terem saindo da loja, uma viatura da policia militar se aproximou e imediatamente desconfiou de que se tratasse de um assalto. Assim, o Policial Militar sacou a sua chibata, ou melhor, o seu fuzil 7.62 e exigiu que os jovens deitassem na calçada. É válido destacar, que o vocabulário e tom de voz não eram amistosos. Descreverei fragmentos da fala do homem da lei.
- No chão porra!
-Não adianta correr, senão vou larga bala.
Contudo, os dois rapazes não deram a devida atenção para o pedido gentil do homem da lei e, trataram de evadir do local, cada um para um lado diferente, a fim de evitar a prisão que acabara de ser anunciada. O PM, então, não hesitou. Afinal, para ele o juiz já tinha dado o resultado como desfavorável para os jovens, podendo, portanto, aplicar a sentença. Assim sendo, vários disparos foram realizados em direção de um dos jovens, que apesar de perseguido desviava dos projeteis do fuzil em estilo matriz. Sua desenvoltura movida por pura adrenalina deixaria o personagem “Neo” do filme Matriz com uma imensurável inveja, pois todos aqueles saltos, corridas e inclinações acabaram de ser realizado no mundo real.
Para felicidade do capitão-do-mato, um tiro atingiu o jovem negro, fazendo-o que viesse ao chão. Nas mãos do jovem, havia um embrulho contento algumas notas de reais que no máximo chegaria à quantia de R$ 300,00. E assim, mais um cidadão brasileiro acabara de perder a vida por uma quantia que deixaria até Fausto personagem da obra de Goethe perplexo. A ordem foi imposta pelo homem da lei, que efetuou um excelente trabalho a favor da sociedade, pois bandido bom é bandido morto. No entanto, é difícil entender como membros do executivo e até mesmo do legislativo, desviam milhões de reais e nada acontece, nem menos uns belos cascudos. Mas, essa é uma outra história.
Depois, de tudo ter sido consumado, o capitão-do-mato devolveu a quantia em dinheiro para “o Senhor da loja” que providenciou um plástico preto com a finalidade de tampar o cadáver que chamava atenção dos populares que transitavam pelas cercanias. Já o outro rapaz foi conduzido pelo homem da lei à senzala mais próxima, digo: Ao Distrito Policial mais próximo. Agora, o capitão-do-mato podia retornar para seu serviço com a satisfação de mais um dever cumprido.
Lamentavelmente, alguns policiais que representam a lei não têm a clareza é que eles são usados pelos senhores de engenho que relutam deixar as suas impressões digitais nas armas de fogo. Portanto, eles optam pela praticidade de financiar jagunços sanguinários, que utilizam agressividade, força e infinitos meios de persuasão, como forma de assegurar/preservar os seus interesses.
Em outrora, as senzalas eram as moradias dos negros. Entretanto devido às péssimas condições de higiene e salubridade para mim deveria receber o nome de “tumbeiro”, assim como os navios que transportavam os negros do continente africano para o Brasil. Hoje, as “novas” senzalas ainda são os espaços destinados para as minorias que vem crescendo paulatinamente ao longo dos anos.
Segundo o Jornal o Globo (03/junho/2007): As favelas da Zona sul: Rocinha, Vidigal e Morros vizinhos cresceram 81,5% nos últimos 40 anos. Esse dado comprova o quanto a desigualdade social vem crescendo em nosso país. E assim, para alguns privilegiados é fácil falar das belezas da cidade do Rio de Janeiro, quando se estar de frente para o mar, mas de costa para a favela. Já na “senzala” a conversa é outra, ou como diz por ai, o buraco é muito mais embaixo. O sol nasce quadrado, e é difícil admirar a lua e as estrelas cadentes que ousam passear pelo céu da cidade maravilhosa.
Assim, enquanto alguns privilegiados gozam de riquezas inenarráveis. Outros reivindicam por uma simples oportunidade de comer todos os dias. A pobreza é vista, portanto, como um mal necessário para a manutenção da riqueza de uma elite, que embora seja pequena, é responsável por cerca de 60% do capital existente no país.
Enfim, uma luta de vida e morte ocorre todos os dias, mas nem sempre são narradas. Viver ou morrer és a triste questão. Deste modo, Quantas centenas de jovens precisarão morre para que alguns sobrevivam? Quanto sangue precisará ser derramado? Quanto ódio necessitará ser canalizado? De fato, não é possível mudar o começo, mas se a gente quiser vai dar para mudar o final.
Autor: wagner oliveira


Artigos Relacionados


Conflitos Raciais

Eua E Seus Conflitos Raciais

Conflitos Raciais

OcÊis TÃo Tudo Livre!

Conflitos Raciais

Corre! Polícia!!! Corre! Bandido!!! Afinal, Quem é Polícia E Quem é Bandido?

Corre! Polícia! Corre! Bandido! Afinal, Quem é Polícia E Quem é Bandido?