Pérolas do Enem e do Vestibular: críticas e responsabilidades



Ao longo da última década, vêm sendo publicadas em sites e divulgados por meio de e-mails, que circulam pela internet país afora, as famosas pérolas do Enem e do vestibular, muitas delas comentadas – principalmente por professores, crítica e ironicamente -, objeto e chacota, piadas, risos, por um lado, e de posições defensivas, por outro. Eu, particularmente, já me posicionei dos dois lados; entretanto, hoje gostaria de tecer aqui alguns comentários.

Em primeiro lugar, algumas respostas às questões das provas são tão absurdas que chegamos a duvidar de sua veracidade. Infelizmente, são verdadeiras. Os motivos por responderem assim, segundo discussões que ouvimos e lemos por aí, são vários, como, por exemplo, nervosismo, erro de interpretação, pressa ou mesmo desespero. Que problema há com o aluno?

Em segundo lugar, o aluno pode ser desinteressado com os estudos, ser mal preparado ou, na pior das hipóteses, ter grande dificuldade para aprender – o que podemos até descartar, porque todas as pessoas são aptas a aprender as coisas, uma vez que inteligência não se mede. Se desinteressado, por que a falta de interesse? Se mal preparado, por que essa falta de preparo?

Em terceiro lugar, os comentários feitos e divulgados por professores – talvez os próprios professores desses alunos – não deixam de depor contra a própria classe e a própria Educação da qual fazem parte. Comentários do tipo: “Esse é um jumento, mas tem coração!”; “Acabei de chegar a uma conclusão, a maioria dos erros são de português, mas os que mais sofrem as conseqüências disso são os professores de Geografia...”; “deve ter raciocinado com abundância e não com o cérebro...”; “Com certeza, se seu pai usasse camisinha, não leríamos isso!”; “Esse com certeza é cearense ou baiano.”; “Se Marco Pólo tivesse viajado para a África, teria sido a peste negra, então..” (o aluno respondeu que a “febre amarela foi trazida da China por Marco Pólo.” – esse comentário do professor não deixa de ser racista); denigre a imagem dos educadores, além de serem ofensivos, baixos, infelizes. Isso é tragicômico. Pode ser engraçado, mas tanto os alunos quanto os professores (e quem está no poder) estão sob o mesmo teto. A piada pode ser boa, porém sua realidade é muito triste.

Em terceiro lugar, dando continuidade aos dois anteriores, se o aluno chegou ao ensino médio para fazer prova do Enem ou prestar um vestibular, é porque passou pelo ensino fundamental, mais três anos de ensino médio, e, por conseguinte, desde a alfabetização, passou pelas mãos de vários professores e professoras, foi passando de ano em ano, reprovado em algum –dependendo do sistema de ensino local -, e deu no que deu. Aprendeu? Mérito da escola e de sua equipe. Não aprendeu? Culpa do aluno. Além disso, esse mesmo aluno, bombardeado por tantas informações disponíveis a ele em todo lugar, principalmente na péssima televisão aberta que temos e na internet, não as filtra, absorvendo, infelizmente, muito lixo que não os enriquecem em termos de conhecimento.

Por outro lado, um grande problema que temos enfrentado há várias décadas na Educação em nosso país, que contribui e muito para o caos a que chegou, é a falta de preparo da própria classe docente, desde os anos iniciais ao ensino médio, principalmente depois que surgiram tantas faculdade particulares oferecendo cursos em Licenciatura e em Pedagogia, cada um pior do que o outro. Os professores, por sua vez, raríssimas exceções, buscam formações continuadas, pesquisam, se atualizam. Culpar o sistema é muito fácil. Culpar e falar mal do sistema sem propostas é hipocrisia.

Os resultados do Ideb e do Pisa estão aí para desnudar as nossas escolas públicas, refletindo o ensino dado por nossos professores. E o que acontece, então? Os professores reclamam, a mídia desce a lenha e a sociedade permanece na inércia, acomodada, como se isso não tivesse jeito mesmo.

Por fim, gostaria de dizer que as coisas devem acontecer no chão da escola, mais precisamente na sala de aula. Portanto, os professores, coordenadores pedagógicos e diretores devem fazer acontecer, e não ficar esperando o sistema de ensino – municipal, estadual ou federal – tomar alguma providência.


* Prof. Maurício Apolinário é autor do livro “A arte da guerra para professores”.

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Alguns Links - Pérolas do Enem:
http://www.portaldascuriosidades.com/forum/index.php?topic=57709.0
http://www.estacaobr.net/2008/02/perolas-do-enem.html
http://www.estacaobr.net/2008/02/perolas-do-enem-parte-2.html
http://postamos.blogspot.com/2008/08/prolas-do-enem.html
http://www.via6.com/topico.php?tid=203512
http://www.arenammo.com.br/forums/spam-arena/18976-perolas-enem-rir-chorar.html
http://www.nossosaopaulo.com.br/Reg_SP/Diversoes/PerolasDoENEM.htm
http://historiavermelha.blogspot.com/2007_11_01_archive.html

Alguns Links – Pérolas do Vestibular:
http://oglobo.globo.com/educacao/vestibular/mat/2008/02/01/_perolas_do_vestibular_alunos_universidades_lembram_erros_deste_de_outros_anos_do_concurso-387429803.asp
http://www.mundovestibular.com.br/articles/567/1/PEROLAS-DO-VESTIBULAR/Paacutegina1.html
http://www.sejabixo.com.br/vestibular/default2d.asp?s=como2.asp&id=378
http://profjoaomaria.spaceblog.com.br/94602/Perolas-do-vestibular-2008-UFRN/
http://saladeaula.terapad.com/index.cfm?fa=contentNews.newsDetails&newsID=48566&from=archive
Autor: Prof. Maurício Apolinário


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