Boca de urna, justo comigo!?



Sem dúvida hoje foi um dia importante.
Importantíssimo.
Foi dia de eleição em todo país.
Deixei para comparecer a seção de votação no final da tarde presumindo que as filas estariam menores. Munida de meu título de eleitor e documento de identidade, fui, acompanhada de alguns amigos, em uma seção bem no centro político da cidade. Chegamos.
Estacionamos bem (digo BEM) na entrada do Colégio onde funcionava a seção. Descemos do carro.
Enquanto pegava minha bolsa, ainda com a porta do veículo aberta, ouvi uma motocicleta parar bem atrás de mim.
Virei-me.
Um rapaz, que, infelizmente, não pude ver o rosto pelo tortuoso capacete, esticou o braço com um papel nas mãos e disse “vote nesse número aqui”.
Por um momento senti a terra parar de girar sob meus pés.
Talvez eu estivesse exagerando. Talvez no fundo, todo meu consciente soubesse que aquilo estava acontecendo no país inteiro descaradamente. Mas não pude deixar de me frustrar. Não pude deixar de me sentir o nada, diante do “mais nada ainda”.
Oras, pensei, enquanto a sociedade brada desesperadamente por um país mais asseado e eqüitativo, enquanto a mídia escancara a miserabilidade cultural de nosso país, reflexo dessa inconstância deprimente de opiniões partidárias e dessa esdrúxula e cômica roubalheira, algum nefasto cidadão (se é que se pode chamar de cidadão) tem o despautério, a minimozidade, a estupidez social de fazer “boca de urna” tão, mas tão, descaradamente!
Justo comigo?
Fiquei imóvel!
Ele lá, falando, falando, e eu, totalmente sem reação. Pensei em tudo que aprendi na faculdade. Mas principalmente dos conceitos de moralidade que aprendi em casa. Lembrei-me dos Mestres que tentaram me ensinar o mínimo de decoro e aquilo que, na simplicidade de brasileira patriótica, tentei passar aos meus alunos.
Cheguei a sentir pena dele. Passou rápido, aí senti pena de nós.
Lá, totalmente imóvel, a reação que tive foi olhar a minha volta incrédula, foi quando vi, do outro lado do carro, meus “amigos brasileiros” igualmente descrentes.
Voltei-me ao apolítico e só consegui dizer-lhe “boca de urna é crim...” nem deu tempo de terminar a frase. Não vi para onde ele foi.
Foi incomensuravelmente frustrante. Agora, em casa sinto-me ainda pior!
Talvez (certamente) por saber que, nesta hora, aquele infeliz apátrida deve estar comemorando a sua vitória, ou a vitória do astuto que ele ajudou a eleger.
Isso sim é muito, muito triste.

Aline de Freitas Queiroz Louzich.
http://ventuspopularis.blogspot.com
Autor: Aline de Freitas Queiroz Louzich


Artigos Relacionados


O Chinelo De Dedos

Meu Olhar Sobre O Hoje.

Ele

Amor Em Meio Ao Impossível

A Chuva

Exceto Eu

Se Ainda Penso Em Ti