O Trabalho Docente Frente aos Desafios da Contemporaneidade



O trabalho docente requer constante reflexão e aprofundamento porque é complexo e interativo, uma vez que produz resultados sobre o humano.
Neste sentido, TARDIF e LESSARD (2005) ressaltam o papel da docência como sendo uma atividade onde o trabalhador se dedica ao seu “objeto” de trabalho, que é justamente um outro ser humano, no mundo fundamental da interação humana.
Logo, o professor deve estar envolvido no processo, pois como destaca Villela (2006) o trabalho docente se torna mais intenso à medida que assume novos requisitos sobre as condições, a natureza e a organização do ensino, o que se caracteriza como um desafio para os professores.
A autora destaca ainda a necessidade de se olhar às coisas de outra forma, a fim de considerar novas perspectivas, para que seja possível adotar posturas mais abertas e mais compreensivas em relação aos desafios postos no trabalho docente.
Dentre tais desafios, destacam-se as tecnologias acessíveis, disponíveis e adequadas, a infra-estrutura confortável, uma organização inovadora que possua um projeto pedagógico coerente e participativo, a preparação profissional nos aspectos intelectual, emocional, comunicacional, eticamente e com boa remuneração, condições de trabalho adequadas para estes profissionais, tempo para os profissionais pesquisarem e estudarem, assim como a importância do aspecto afetivo na relação professor-aluno, a interdisciplinaridade e a busca de soluções para os dilemas enfrentados.
Para Nóvoa (2006) dilema, entre outros conceitos, são decisões que só conseguimos ponderar através do conhecimento e através dos nossos valores.
Pautado nessa afirmativa, cabe ao professor reestruturar seu trabalho, perante as expectativas e pressões da condição social contemporânea, que solicita a qualidade do ensino oferecido, enfrentando os dilemas com os quais o trabalho docente se depara.
É importante destacar que o que Nóvoa (2006) chama de dilema, Moran (2000) chama de variáveis e Villela (2006) de interferências na prática docente.
Independente da nomenclatura, todos apontam para os desafios que surgem na busca da qualidade do ensino, que segundo Moran (2000), sofre influências de muitas variáveis de maneira direta no processo educativo.
Desta forma, é essencial a reflexão do professor sobre sua prática, considerada por Dewey (1959) como uma conseqüência e não simplesmente como uma seqüência.
Nesse cenário, Imbernón (2001), retrata como base da formação docente, a reflexão do sujeito sobre sua prática, de modo a permitir a análise de suas teorias implícitas, suas atitudes, seu funcionamento, construindo assim, um processo constante de auto-avaliação que oriente seu trabalho.
Destaca ainda que a formação inicial e permanente do docente, precisa estar centrada fundamentalmente na gênese do pensamento prático pessoal, incluindo os processos cognitivos e afetivos, que se interpenetram, determinando a atuação do professor.
É necessário então, que o docente tenha uma postura crítica de intervenção educativa, baseada no ponto de vista dos pressupostos ideológicos e comportamentais subjacentes, fazendo surgir uma nova educação, sendo esta mais ampla, versátil, contínua e criativa, como demonstra Villela (2006).
Em relação à criatividade no contexto educacional, Alencar (1995) e Cerna (1999) destacam que todos nós temos o potencial criativo em diferentes medidas, podendo ser desenvolvido e aprimorado, à medida que são oferecidas condições favoráveis e os mecanismos adequados para o desenvolvimento desse potencial.
Deste modo, Philippe Meirieu citado por Nóvoa (2006), enfatiza a importância de o docente promover situações em que os alunos se sintam semelhantes, para falar com os outros e suficientemente diferentes, para terem qualquer coisa a dizer uns para os outros.
Porém, vale lembrar que o trabalho docente recebe a intervenção de vários fatores que se coadunam facilitando ou inibindo as habilidades criativas dos envolvidos no processo.
Perrenoud (1995), nesse aspecto, aponta alguns fatores que instigam à prática de um sistema de trabalho pedagógico pouco favorável à criatividade.
Um desses fatores é a arquitetura das salas de aula, que reforça o modelo individualista e que favorece a atuação isolada e linear dos docentes.
Destaca-se então, a necessidade de o docente ultrapassar a fundamentação técnica e fragmentada, para agir em situações novas e problemáticas, que conduzam a ações decisórias e a capacidade de iniciativa, através de uma postura flexível, permeada por uma visão sistêmica e estratégica.
Nessa mesma perspectiva, Moran (2000) ressalta o papel do docente frente ao uso das tecnologias de informação e comunicação de forma apropriada e contextualizada, mantendo-se sempre em constante atualização e preparação para desempenhar sua função.
Destarte, verifica-se que o processo de atualização e formação docente, não se restringe ao momento da formação inicial, pois ele se prolonga por todo o trajeto profissional do docente, mediante uma relação dialética, defendida por Freire (1996) como essencial na prática pedagógica, quando coloca que “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”.
Não obstante, Pimenta (2005) acrescenta que o saber docente, se nutre da prática e das teorias da educação, sendo estas, de fundamental importância na formação docente, pois permite aos sujeitos envolvidos, uma variedade de pontos de vista, gerando uma ação contextualizada, oferecendo novos panoramas de análise que possibilitam a compreensão dos diversos contextos vivenciados por eles.
Em meio a tais considerações, percebe-se que o papel da formação abrange os processos de criação, envolvimento, reflexão e aprendizagem, à medida que capacita os sujeitos envolvidos para que estes, busquem uma postura de pesquisadores e transformadores, a partir de atitudes de ação, reflexão e crítica.
Em suma, é necessário que os docentes desenvolvam habilidades e competências, preparando-se para acompanhar, enfrentar e superar desafios da contemporaneidade frente ao trabalho docente.




REFERÊNCIAS:


ALARCÂO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo:Cortez, 2004.


DEWEY, John. Como pensamos. 3 ed. São Paulo: Editora Nacional, 1959.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

IMBERNÓN, F. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. São Paulo: Cortez, 2001.

MEDEIROS, Marinalva Veras; CABRAL, Carmen Lúcia de Oliveira. Formação Docente: da teoria à prática em uma abordagem sócio-histórica. Revista E curriculum, ISSN 1809-3876, São Paulo, v.1, n.2, junho de 2006. Disponível em: http://www.pucsp.br/ecurriculum. Acessado em 15/06/08


MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas Tecnologias e mediação pedagógica. São Paulo: Papirus, 2000.


PIMENTA, Selma Garrido, GHEDIN, Evandro (Orgs.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O trabalho docente: Elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Rio de Janeiro: Vozes, 2005.

VILLELA, Elisabeth Caldeira. As interferências da contemporaneidade no trabalho docente. In: Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Brasília, 2007, p. 229-241.
Autor: Eliziane Castro


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