Auto-realização para todos



Todo ser humano quer, e precisa, ter sua importância reconhecida.

Isso não se restringe ao valor atribuído por outras pessoas, mas também ao valor que ele atribui a si mesmo.

Desde a adolescência o indivíduo já busca, mesmo inconscientemente, integrar-se a um grupo. Chamado por alguns de "necessidade de pertencer".

Na adolescência é comum a escolha de diversos grupos voltados a rock, skate, grupo de pichadores, góticos e alguns, infelizmente, até inserção em gangs e drogas.

Tudo isso, muitas vezes, apenas pela vontade de se auto-afirmar, mostrar-se para outras pessoas e chamar atenção de sua existência.

Obviamente, a escolha de grupos sociais em busca da vontade de pertencer será decisivamente influenciada pela formação cultural e social, haja vista as possibilidades e probabilidades discrepantes entre indivíduos de diferentes realidades.

A título de exemplo, um adolescente pertencente a uma família bem estruturada financeiramente, residente em lugar nobre, estudante de uma boa escola e com ótimas referências familiares, comparado a um adolescente pobre, oriundo da periferia, com pais incultos, familiares problemáticos e influenciado pelas mazelas e exclusões sociais, não tem a mesma condição e proporcionalidade de expectativas.

De qualquer modo, injustiças sociais à parte, de diferentes modos, o adolescente buscará, desde já, inserir-se em um meio para buscar sua integração.

Durante o desenvolvimento etário do indivíduo, forma-se o caminho que ele trilhará em direção a seus objetivos, sonhos, ideais e necessidades de auto-realização. Como já abordamos, essas necessidades, nem sempre serão corretas e coerentes, por conta de má-formação intelectual e emocional.

O jovem começa almejar o crescimento profissional, desejar bens, desejar relacionamentos e experiências, algumas de aventura e outras de sucesso. Muitos viajam em pensamentos e fantasias sonhando com fama, riqueza e outras coisas totalmente imaginárias a sua realidade.

Ao ingressar no mercado de trabalho, o indivíduo começa a buscar o crescimento profissional. Encontra por meio da qualificação, dos investimentos feitos na sua educação e de seu "networking", a consecução dos seus desejos. Com uma boa formação, bons cursos extracurriculares e uma boa rede de relacionamento, tudo está encaminhado e seguro, sendo apenas uma questão de tempo para, efetivamente, realizar-se profissional e financeiramente.

O progresso profissional proporciona a renda desejada, o entretenimento, a segurança financeira para relacionamentos, de namoro a casamento, logo a segurança de vestir-se como deseja, possuir o carro almejado e a casa própria.

Em contra-partida, essa é uma realidade totalmente contrária ao desenvolvimento do jovem pobre e excluído socialmente, pois suas necessidade básicas de auto-afirmação e realização também são inerentes, no entanto, se preencherão de outras formas.

Diante da impossibilidade de pertencer a um grupo social seleto, e excluído da sociedade, sem qualificação, sem uma família capaz de apoiá-lo - pois também são vitimados das mazelas sociais - o jovem, destituído de poder econômico, passa a realizar-se das formas possíveis a ele, que se formaram na infelicidade e crueldade social, deixando-o com poucas alternativas, a não ser, enxergar a desilusão e as impossibilidades.

Há diversos níveis de classes sociais, dentre os pobres até a classe alta, existem os intermediários e transitórios. Nesse caso, devemos considerar que as necessidades básicas do ser humano estão muito distantes dos classificados como miseráveis, pois estes, não tem nem ao menos a consecução de necessidades físicas, quanto mais emocionais.

Querendo, muitas vezes, se auto-afirmar, conquistar "respeito", "consideração" e o que entendem ser um bom conceito na comunidade onde residem, jovens, tragicamente, partem rumo à criminalidade, vendo ali, a possibilidade de materialização dos sonhos, como os veículos, roupas de grife e até imóveis, provenientes do dinheiro ilícito.

Embora, esses jovens marginais, ofereçam perigo e medo a toda sociedade, são também vitimados pela desigualdade social. Ressalte-se que, há um efeito bumerangue na exclusão social, ou que faz-nos lembrar da Terceira Lei de Newton, também conhecida como Lei da Ação e Reação. Geramos na máquina capitalista uma espécie de resíduos que descartamos e jogamos fora, no lixo, e que depois se acumulará, criará odores, bactérias e que se voltarão contra nós, nos afetando diretamente.
Podendo esse fenômeno ser, ainda, comparado ao entulho que moradores jogam ao leito do rio, causando a proliferação de insetos, ratos e diferentes espécies de doenças que atingirão a eles mesmos.

Como se não bastasse, além do apartheid social que há entre os jovens pobres da periferia e os ricos das zonas nobres, há a desvantagem de formação emocional para aqueles primeiros, pois sua formação intelectual e emocional está seriamente comprometida com preconceitos, ignorâncias, traumas, complexo de inferioridade, baixa auto-estima e revolta, uma boa parte decorrente do precário sistema de educação.

Não é de se estranhar, vermos tantas desgraças, violência e acontecimentos trágicos nas regiões praticamente abandonadas pelo Estado.

Não há como comparar as facilidades encontradas entre um jovem criado no bairro dos Jardins em São Paulo, ao que fora criado em uma favela do Jardim Ângela na mesma capital. O caminho será muito mais favorável e bondoso para aquele primeiro.

Urge-se proporcionar a todos os indivíduos a possibilidade de preencher, ao menos um pouco, as necessidades básicas do ser humano, tanto material como psíquica.

Isso impede que as injustiças sociais causem efeito de reação contra nós mesmos. De nada adianta desprezarmos os problemas sociais, enriquecer-nos e virarmos as costas para o abandono do Estado e sermos obrigados a ficarmos trancafiados em mansões com cerca elétrica, câmeras e vigilantes; medo de sair na rua, carros blindados; medo de parar em um semáforo; não ter coragem de prestar uma informação; por estarmos desconfiados de tudo e todos. Tudo por conta da fábrica de violência e do crime, que nós mesmos, por omissão, contribuímos para que crescesse.

Cumpre esclarecer, que se busca aqui, não é justificar a criminalidade, e sim, explicá-la. Muitos confundem os elementos; justificar e explicar.

Outrossim, não se prega o comunismo ou idéias similares, e sim, a atenuação humanitária que visa beneficiar, não só os marginalizados, mas, conseqüentemente, a todos nós.

Que a auto-estima; a auto-realização; a necessidade de pertencer; o sentir-se útil e importante para a sociedade, não seja privilégio e exclusividade de alguns. Pelo contrário, seja ao maior número possível de indivíduos, para que a nossa sociedade seja mais humana e habitável.
Autor: Adriano Martins Pinheiro


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