Sobre A Televisão



Bourdieu nasceu no dia 01 de agosto de 1930, em Denguin, no Béarn, uma região rural do sudoeste da França. Estudou na escola fundamental em meio a filhos de camponeses, operários e pequenos comerciantes, em uma vila conhecida por seu arcaísmo, objeto dos seus primeiros estudos etnológicos.

Pierre Bourdieu, é considerado um dos grandes sociólogos do século XX, escreveu em diversas áreas, seus estudos abrangem um número interminável de objetos, desde a etnologia árabe, o sistema de ensino, a igreja, o Estado, o esporte, a arte, a literatura, o lazer e a economia. Seus estudos tratam da mediação entre o agente social e a sociedade, aborda diversos campos e as relações de força que os agentes exercem para se manter nestes espaços.

Nesta obra autor verificou materialmente toda forma de agir e a metodologia (sensacionalismo, drama, cinismo ....) utilizada no campo  jornalístico.

Num segundo momento é destacada a estrutura, que apesar de intangível se estabelece e produz seus efeitos sobre todos os campos científicos a partir de um capital simbólico meramente refletido no poder estabelecido pela mídia.

Esta obra  é divida em três capítulos o primeiro aborda o estúdio e seus e seus bastidores, o  segundo capitulo trata da estrutura invisível e seus efeitos no mercado, já o terceiro discorre sobre a influência do jornalismo nos jogos olímpicos.

Nesta resenha será abordada apenas o primeiro e o segundo capitulo em forma de tópicos.

Estúdio e os bastidores

O autor coloca que em geral não se pode dizer grandes coisas na televisão, muito menos sobre a televisão.  São impostas certas condições para poder falar na televisão. O autor diz ter a impressão de que o importante não é dizer alguma coisa e sim se fazer ser visto na televisão.

Uma censura invisível

Perde-se a autonomia, o assunto é imposto, as condições da comunicação são impostas e principalmente o limite de tempo, se é que alguma coisa possa ser dita. E as pessoas estão tão envolvidas neste processo, mas não percebem esta censura. Os jornalistas manipulam e são manipulados. Como isto pode ser visto: salários exorbitantes, entrada e saída de apresentadores, denuncias de escândalos, em seguida notícias de variedades acabam por contribui para desviar o telespectadores do essencial.

A televisão exerce de forma particular violência simbólica: através de notícias de variedades, de sensacionalismo, sexo, sangue, drama e o crime, fazem o subir o índice de audiência e distraem. A televisão trabalha com fatos ônibus que na visão do autor são os fatos que interessam a todo mundo. Não causa polêmica, não envolve disputa, mas também não traz nada de importante. Essas notícias não permitem: reflexão, critica até por que, quando é colocado algo que tem algum ponto construtivo é cortado por assuntos de variedades ou ainda mais banais.

Na concepção de (...) ao insistir nas variedades, preenchendo esse tempo raro com o vazio, com nada ou quase nada, afastam-se as informações pertinentes que deveriam possuiro cidadão para exercer seus direitos democráticos (BOURDIEU, 1997, p.23).

Ocultar mostrando

Na visão de Bourdieu ocultar mostrando é mostrar uma coisa diferente do que seria preciso mostrar caso se fizesse o que supostamente se faz, isto é, "informar". Geralmente ocorre que, mesmo quando se mostra algo importante, é mostrado de forma tão superficial que se torna insignificante. (exemplo: mostra se corrupção, e seguida apresentam cenas que despertam o raciocínio do telespectador).

O jornalista tem uma espécie de óculos, mostra o que é preciso mostrar no sentido de se manter na mídia, para isso recorre a determinados meios: dramatização,  as imagens que exageram os acontecimentos e eles abusam do poder das palavras.

Para Bourdieu (...) essas palavras fazem coisas, criam fantasias, medos fobias, ou simplesmente representações falsas. (BOURDIEU, 1997, p.26).

A imagem tem efeito real, ela pode fazer ver e fazer crer no que faz ver. As variedades, os incidentes ou os acidentes cotidianos podem estar carregados de implicações políticas, éticas. (BOURDIEU, 1997, p. 28)

A circulação circular da informação

Omundo dos jornalistas é mundo dividido em que há conflitos, concorrências, hostilidades (BOURDIEU, 1997, p.30). Na busca pelo melhor índice de audiência a noticia se torna uniforme. Trabalha-se com a urgência do momento e não o pensamento.

Segundo o autor eles pensam por 'idéias feitas'. As 'idéias feitas' de que fala Flaubert são idéias aceitas por todo mundo, banais, convencionais... tais idéias que quando aceitamos, já estão aceitas...(BOURDIEU, 1997, p.40)

A estrutura invisível e seus efeitos

Tudo isso não é por acaso- O mundo do jornalismo é um microcosmo que tem leis próprias e que é definido por sua posição no mundo global e pelas atrações e repulsões que sofre da parte dos outros microcosmos (BOURDIEU, 1997, p. 55) A vidado jornalismo e sua própria existência está baseada e materializada de forma completa,  e em fatores que se originam nas relações mantidas por todo um campo de acontecimentos que se compõem no próprio jornalismo. Mantendo desta forma uma relação onde o jornalismo é subjugado aos interesses do mundo que o rodeia.

Fatias de mercado e concorrência

Para compreender o que pode fazer um jornalista é preciso entender (...) a posição do órgão de imprensa que ele se encontra e qual sua própria posição no espaço de seu jornal ou de sua emissora (BOURDIEU, 1997, p.56).

Bourdieu aborda o campo como um:

(...) espaço social estruturado, um campo de forças – há dominantes e dominados, há relações constantes, permanentes, de desigualdade, que se exercem no interior desse espaço - que é também um campo de lutas para transformar ou conservar esse campo de forças. Cada um, no interior desse universo, empenha em sua concorrência com os outros a força (relativa) que detém e que define sua posição no campo e, em conseqüência, suas estratégias (BOURDIEU, 1997, p.57).

Este é composto por todo um universo de interesses e o próprio capital simbólico do profissional que esta transmitindo naquele determinado momento. Tal fato é notável pela influência e o poder de moldar e construir idéias, que se revelam na relação exercida sobre a massa televisiva que é conduzida e manipulada pelas idéias de maior capital simbólico.

Uma força de banalização

Os efeitos pela emergência tende a:  banalizar, uniformizar,conformar e despolitizar. Nos anos 50 a televisão se preocupava com documentários, estava mais direcionado para assuntos culturais. Já a televisão dos anos 90, busca audiência - trabalha com produtos brutos, exibe experiências reais do cotidiano do povo.

Luta por audiência.

A composição das noticias e fatos jornalísticos são meticulosamente manipulados e agrupados para a condução da massa, com objetivo de atingir o maior publico possível. Tendo assim,  a satisfação plena de suas expectativas mesmo que isso esteja refletido em um jornalismo  sensacionalista (estratégias utilizadas para se manter no campo). Estes fatores determinam uma relação de interdependência do jornalismo com todos os outros campos de produção cultural, social, política, cientifico e outros.

A influência da televisão no jornalismo

Para compreender tudo que é produzido e apresentado pelo jornalismo televisivo é preciso compreender os fatores que influenciam este campo( para atingir o melhor índice de audiência requeridos pela produção. O jornalista e os fatos jornalísticos se tornam reféns do sensacionalismo, cinismo, técnica no uso de palavras...).

Partindo deste pressuposto temos a noção clara das ações que constroem idéias baseadas no capital simbólico de quem detém os meios de produção (exemplo tv-globo). Baseada nesta lógica o poder simbólico, para aqueles que o detém se materializa em suas estratégias de ações, que direcionam o grupo conforme seus objetivos e necessidades.

A influência do jornalismo

Na concepção do autor o campo jornalístico está sobre a pressão da mídia e do poder econômico que define e influência todos os outros campos: literário, artístico, cientifico de forma a definir toda uma estrutura.

As propriedades do campo jornalístico se traduzem nas atividades desempenhadas pelos profissionais desta área, que obedecem a um padrão pré-estabelecido pelo mercado.

O campo jornalístico baseado em audiência acaba por influenciar outros campos, sendo uma intrusão á medida que divulga a informação e atua encima desta baseada em parâmetros sensacionalistas, tornando certos produtos intelectuais menos requintado ao nível do publico que se deseja atingir.

Nesta obra o autor verificou materialmente formas de agir e a metodologia utilizada no trabalho no jornalístico. Destacando a estrutura, que apesar de intangível se estabelece e produz seus efeitos sobre todos os campos científicos, a partir de um capital simbólico meramente refletido no poder estabelecido pela mídia. A preocupação central de Bourdieu neste trabalho é que a televisão enquanto meio de expressão do pensamento se transforme em um instrumento de opressão simbólica. 

BOURDIEU, Pierre, Sobre a televisão. Trad. Maria Lúcia Machado. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed. 1997.


Autor: Liana Deise Silva


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