Os verdadeiros deuses, parte 2: divinos além do Olimpo



No Dia dos Professores passado (de 2008) prestei uma carinhosa homenagem a alguns dos meus inesquecíveis professores, mestres que edificaram partes do que sou hoje e serei no futuro. Como só reservei uma dedicação a quatro que considerei mais notáveis pelos jeitos extremamente carismáticos de ensinar, acredito ser uma injustiça deixar de fazer uma menção carinhosa a outros que, embora eu não considere de forma alguma “piores” que os do primeiro artigo, são por mim lembrados mais pela amizade, pelo carinho e por ensinamentos específicos de enorme importância, fatores não menos importantes do que formas carismáticas de se conquistar alunos por magnetismo em massa. Além de Falcão, Daniella, Mardock e Osvaldo, muitos outros também são muito dignos de admiração e respeito.

Primeiro, minha atual professora de inglês (considerando que no momento em que escrevo este texto eu estou no semestre 2008.2 do curso de inglês do Senac), Roberta Luigi. Seu jeito de reservar uma dose personalizada de carinho e alegria para cada um de seus alunos é muito amável, um ponto que eu pouco vi na maioria dos outros professores de minha história. Lembro também que ela estava se indagando no mesmo Dia dos Professores que ela não estava achando ideal o jeito como suas aulas estavam sendo dadas, parecia faltar alguma coisa. Seus alunos, para se ter uma idéia do carinho retribuído, não compartilharam dessa opinião e manifestaram unanimemente que suas aulas estavam muito boas, bem do jeito “se melhorar mais ainda, estraga”. Seu jeito britânico de dirigir a língua inglesa, em contraste com a maioria adepta do americano, pode soar estranho para alguns, mas adiciona um toque exótico e diferente, daquele tipo que atrai quem procura por algo não-convencional. Parece fazer uma dupla yin-yang com Dani, dadas as diferenças entre o estilo de cada uma das duas, e, tanto quanto ela, consegue despertar o carinho e a estima de seus alunos.

Outra que merece um imenso e forte “abraço por escrito” é Marília Lyra, uma jovem e devotada professora de Gestão Ambiental. Eu sinceramente não esperava que alguém com a energia e juventude dela passasse por um ambiente “empoeirado” como o Cefet-PE de Recife. Sendo a professora que mais esteve ao nosso lado, por ter sido aquela que mais disciplinas ministrou para minha turma, senti várias vezes a impressão de que ela via com atenção um potencial em mim no caminho de se tornar um gestor ambiental competente – embora no final do curso eu tenha mudado quase totalmente minha orientação profissional –, tanto era a especialidade com que ela me via. O que dizer das caronas também, que ela carinhosamente oferecia a mim com seu marido? Um ponto máximo, que fez ela merecer mais ainda e com toda a honra um lugar em meu panteão de professores inesquecíveis, foi a sua emoção na Aula da Saudade de minha turma. Ela caiu em lágrimas enquanto discursava para nós, numa demonstração de que todos ali eram igualmente especiais. Alguém pode me dizer como é que eu posso transmitir apenas por palavras aqui neste texto meu êxtase e gratidão por ter tido uma professora como Marília, ainda mais depois de sua emoção naquele discurso?

Edilene, minha orientadora de monografia, também merece um lugar neste coração de estudante. Muito paciente e dedicada, foi uma pena que só deu aulas numa única disciplina, e logo nas manhãs de sábado. Por essa limitação ela não é tão lembrada como Marília e outros mais constantes no curso, mas merece meus “aplausos por escrito”. E ainda merecerá muito agradecimento depois que minha monografia estiver concluída, apresentada e premiada com uma boa nota final. E também Marcelo Alexandre, vulgo “Cuestões”, que primou pela amistosidade para com os alunos e, sempre com sorriso no rosto, desenrolou assuntos complicados da área de gestão ambiental empresarial, comunicação ambiental e economia. Também chegou a ser orientador meu num primeiro fracassado projeto de monografia, e sei que devo bastante a ele, sendo este espaço o mínimo que posso fazer nessa retribuição.

O que dizer também de mestres que me conquistaram pela amizade? Ênio, o inesquecível “professor do cachorro”, que marcou minha adolescência com seu jeito dedicado, amigo e às vezes engraçado de ensinar biologia para o ensino médio. Agamenon, também do ensino médio, que tratava seus alunos como filhos e adotava um jeito de ensinar um “português fácil”. Queiroz, o professor de educação física que também atuava como guru espiritual e filosófico para meu grupo de amigos no Cefet do começo dos anos 2000. Carlos Alberto, professor de meu quarto período de Gestão Ambiental, que manifestou uma reverência por mim por, segundo ele, minhas perguntas que desafiavam seu conhecimento e crenças, e me foi um bom alguém com quem bater papo sobre questões intelectuais. E vários outros que, me perdoem por não terem sido citados, também puseram seus tijolos em meu ser e viver.

Também preciso expressar minha gratidão pelos injustiçados, aqueles para quem não dei o devido valor em suas épocas por não ter gostado de suas maneiras de ensinar mas hoje respeito como merecem. Jessé, que em poucas palavras explicou a invasão do ambiente geográfico pernambucano pelo homem e me deu, quase sem querer, um toque para começar a estudar Marx e seu materialismo histórico e dialético. Ester, que eu chamava no terceiro ano do ensino médio de “megera” mas foi decisiva em eu aprender a fazer redação – sem ela, eu teria demorado bem mais para fazer redações de vestibular boas. Jonatas, que tentou me ensinar Fundamentos de Sociologia na minha breve e psicologicamente tempestuosa passagem pelo curso de Jornalismo – que eu abandonei em apenas dois meses – e, mesmo que houvesse me dado vontade de falar na época mil besteiras contra seu jeito de explicar assuntos sociológicos, alicerçou meu gosto por sociologia alguns anos depois, já que peguei emprestado seus textos de xerox em 2008. Também creio que devo desculpas a outros que, por eu não ter prestado atenção em nenhuma de suas aulas, não chegaram a ver seus conhecimentos transmitidos para mim nos últimos anos.

Me dá vontade de dizer que alguns destes professores merecem mais reverência do que outros citados no outro artigo, pela amplificada aura de amizade que, ao contrário daqueles, demonstram gostar de ter seus antigos alunos como discípulos e confidentes. Mas não me sinto bem em fazer isso que é similar a uma comparação. Sabe de uma coisa? Todos merecem um abraço carinhoso, queiram ou não me tratar de forma emérita.

Renovo meu muito obrigado para todos esses meus “deuses”, que me abençoaram ao longo desses anos, e, para fechar esta segunda dedicatória, ponho aqui uma versão estudantil ao agradecimento ideal que Michael Moore pôs em seu livro Stupid White Men, o qual possui um capítulo falando da educação nos EUA (convido você a ler esse livro caso queira conhecer o agradecimento na versão do pai):

“Professor(a), muito obrigado por devotar sua vida a mim. Existe QUALQUER COISA que possa fazer para ajudá-lo? Há ALGO de que você necessite? Estou aqui para te ajudar. Por quê? Porque você está ajudando a mim – MEU SER – a aprender e a crescer. Você não somente será amplamente responsável por minha capacidade de ganhar a vida, mas sua influência determina muito a maneira como eu vejo o mundo, o que sei das outras pessoas desse mundo e como vou me sentir acerca de mim mesmo. Quero acreditar que posso tentar fazer qualquer coisa – que nenhuma porta está fechada e que nenhum sonho é inatingível. Confio a você o que há de mais valioso em minha vida três ou quatro horas por dia. Você é, portanto, uma das pessoas mais importantes da minha vida! Muito obrigado.”
Autor: Robson Fernando


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