Precisamos rever o conceito de organização



Estamos submetidos aos imperativos da competitividade, produtividade, inovação e sustentabilidade. Não há maneira de evitar ou contornar o estabelecimento de um senso de urgência com relação a estes quatro pilares. Acontece que uma organização é um todo, redundante lembrar, mas importante enfatizar, que a denominação organização deriva exatamente deste fato.

Dentro deste raciocínio é bastante fácil perceber que nenhum dos quatro imperativos acima pode ser atendido por um único departamento ou área da empresa. Inovação não está a cargo apenas de P&D ou do Marketing, mas é preciso inovar na linha de produção (e isso inclui as contribuições do chão de fábrica), assim como é preciso inovar, fundamentalmente, o modelo mental da organização, que inclui, especialmente, a gestão de pessoas.

Da mesma forma, produtividade também engloba qualidade total, saúde e segurança no trabalho, bem como qualidade de vida no trabalho.

Por sua vez, competitividade e sustentabilidade dependem diretamente do verdadeiro diferencial competitivo que, por excelência, é a capacidade de aprender que a organização possui. Esta capacidade está totalmente integrada ao perfil dos profissionais que compõe o seu inventário de talentos.

Continuam me estranhando duas situações ainda muito freqüentes no mercado: eventos realizados pelas outras áreas que não envolvem o RH e, um RH que não se envolve com eventos de outras áreas - porque as duas coisas acontecem.

Ainda existe uma parcela do RH cristalizado na crença de que sua missão é treinar e desenvolver pessoas para questões específicas de competências técnico/comportamentais derivadas de demandas formalizadas pelos outros departamentos. O sofisma aqui está em acreditar que os demais departamentos saibam que tipo de ações de RH precisam em apoio às suas realizações e, sabendo, tenham condições de comunicá-las com objetividade, aceitando a participação efetiva do RH para a obtenção dos resultados!

Como pode haver uma semana interna de saúde e prevenção de acidentes sem uma participação intensiva do RH? Conscientizar e desenvolver senso crítico e comportamentos superiores com relação à gestão de riscos não seria pertinente ao treinamento e desenvolvimento de pessoas? No entanto, estes eventos em muitas empresas contam com um apoio mínimo do RH que muitas vezes não é sequer consultado para apresentar colaborações, apenas é convidado a participar da semana pelos membros da CIPA.

Este é apenas um exemplo em que os organizadores não procuram o RH e, igualmente o RH, não busca envolver-se tanto quanto poderia. Seria possível pensar em produtividade sem reduzir o número de abstenções e acidentes de trabalho? Efeitos semelhantes ocorrem nas convenções do marketing, da área comercial, etc. Em muitas delas o RH ainda é convidado como viabilizador operacional, quando poderia agregar imenso valor aos resultados buscados por estas convenções!

Você não acha estranho que, em muitas convenções, quando os membros da diretoria e gerência são convidados a falar e apresentar resultados, o tempo reservado ao RH na agenda do dia seja sempre menor que o de qualquer outra área? Não é estranho que sempre que a agenda do evento atrasa porque vários oradores ultrapassaram, de maneira não produtiva, seus tempos, sempre reduzam o tempo originariamente destinado à apresentação do RH?

Tudo isso prova que apesar dos muitos avanços na consciência administrativa e nas melhores práticas de gestão (incluindo gestão de pessoas), ainda há muitas pontas soltas. De um lado profissionais de outras áreas na ilusão de que as questões que estão tratando não são da pertinência do RH e, de outro, profissionais de RH que ilusoriamente acreditam que as questões destes outros departamentos não dizem respeito à sua área.

Precisamos rever o conceito de organização! E não podemos deixar que as pontas continuem soltas. É impossível estabelecer um senso de missão, um sonho coletivo, uma meta comum, se nem os líderes se comportam com este grau de união e comprometimento. Como falar de trabalho em equipe, transparência na comunicação, proatividade e sinergia se estas coisas não acontecem “top-down”?

Continuo e continuarei sempre um profundo apaixonado por RH e pelos profissionais que o compõe. Mas a nova cultura que as organizações tanto buscam para atingir a excelência, a alta performance e a sustentabilidade será sempre uma utopia enquanto os dois lados da questão não compreenderem que “tudo se resume a pessoas”, significa, necessariamente “tudo implica RH”.

É preciso conquistar as condições orçamentárias, estruturais e humanas necessárias para poder atender a este aumento de demanda pela participação estratégica da área em tudo o que diz respeito ao business e às pessoas que tornam o business uma realidade!

Carlos Hilsdorf
Considerado pelo mercado empresarial um dos 10 melhores palestrantes do Brasil. Economista, Pós-Graduado em Marketing pela FGV, consultor e pesquisador do comportamento humano. Palestrante do Congresso Mundial de Administração (Alemanha) e do Fórum Internacional de Administração (México). Autor do best seller Atitudes Vencedoras, apontado como uma das 5 melhores obras do gênero. Presença constante nos principais Congressos e Fóruns de Administração, RH, Liderança, Marketing e Vendas do país e da América Latina. Referência nacional em desenvolvimento humano.
www.carloshilsdorf.com.br
Autor: Carlos Hilsdorf


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