EVIDENCIAÇÃO DE INDICADORES DE CAPITAL INTELECTUAL: UM ESTUDO DE CASO



EVIDENCIAÇÃO DE INDICADORES DE CAPITAL INTELECTUAL: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO EM UMA EMPRESA DE SOFTWARES


INTRODUÇÃO
Verifica-se há algum tempo, principalmente nas últimas décadas, um período de mudanças, tanto econômicas quanto tecnológicas, políticas e sociais no mundo dos negócios. Essas mudanças vêm, segundo Edvinsson e Malone (1998), Stewart (1998) e Crawford (1994), alterando a estrutura e os valores da sociedade e são advindas de uma nova era, denominada como a era do conhecimento ou ainda, sociedade do conhecimento.
Nesse contexto altamente competitivo onde a informação e o conhecimento humano se configuram como os principais fatores geradores de riquezas, a utilização eficiente e eficaz desses fatores, se confirmam como as armas competitivas da uma era globalizada, onde as organizações bem sucedidas tenderão a ser as que possuírem as melhores informações e as que controlarem de forma mais efetiva o seu Capital Intelectual. No entanto, é necessário compreender o Capital Intelectual, cuja apresentação nos balanços da maioria das organizações ainda não é evidenciado.
Neste sentido, esta pesquisa objetivou identificar indicadores de Capital Intelectual de uma empresa desenvolvedora de softwares com base nos cinco focos apontados por Edvinsson e Malone (1998), assim como elaborar um relatório de Capital Intelectual para a empresa.
A partir de então, foi realizado um estudo exploratório na empresa, a qual está no mercado a mais de quinze anos e atua no ramo de comércio e desenvolvimento de softwares de automação fiscal, financeira e contábil.
Em razão disso, este estudo propôs investigar o Capital Intelectual, considerado um dos maiores ativos das organizações da era do conhecimento, e aplicá-lo numa empresa cujo foco de atuação é a produção de sistemas de informática para a área de gestão organizacional.
Capital Intelectual
Nas últimas duas décadas algo novo e surpreendente vem surgindo e desafiando os profissionais da contabilidade: o Capital Intelectual, uma forma de capital que não é facilmente visualizado e incorporado ao valor de uma empresa, mas que no entanto, tem na informação e no conhecimento as armas mais competitivas da atualidade.
O tema Capital Intelectual, tem sido objeto de estudos e especulações devido a sua importância como vantagem competitiva na era da informação. Diante deste contexto, torna-se cada vez mais fundamental a busca de estratégias, métodos e técnicas capazes de dirigir de maneira efetiva, tornando competitivo e lucrativo todo o conhecimento que as organizações detêm. No entanto, uma das principais dificuldades está na mensuração do conhecimento ou mais especificamente do Capital Intelectual e nos resultados por ele gerado.
Sendo assim, é imprescindível que as empresas reconheçam, identifiquem, invistam, e mensurem a importância do homem, da sua capacidade e do uso da informação dentro da organização em que atua. É preciso mudar a imagem estática da informação transformando em imagem dinâmica, centrada na interpretação criativa dos dados pelo indivíduo (EDVINSSON e MALONE, 1998).
Sobre a ótica da contabilidade, o Capital Intelectual pode ser entendido como sendo o conjunto de todos os ativos intangíveis da empresa. Alguns autores como: Antunes (2000), Stewart (1998), Edvinsson e Malone (1998), configuram o Capital Intelectual como sendo todo ou praticamente todo o goodwill da empresa.
Tanto o goodwill quanto o Capital Intelectual fazem parte de um mesmo fenômeno, pois ambos identificam a existência de valores intangíveis nas organizações. A diferença está no reconhecimento desses ativos intangíveis, pois o goodwill reconhece a existência de valores intangíveis que modificam o valor das organizações, mas não identifica claramente esses valores. Já o Capital Intelectual busca através de indicadores, identificar e dar valor aos intangíveis.
Para Brooking apud Antunes (2000, p. 87) `` o Capital Intelectual começou quando o primeiro vendedor estabeleceu um bom relacionamento com seu cliente, o que se denominou Goodwill``. Para Edvinsson e Malone (1998, p. 11) `` o Capital Intelectual pode ser uma nova teoria, mas, na prática, está presente há anos como uma forma de bom senso``. Já para Stewart (1998), o Capital Intelectual é a soma do conhecimento, experiência e, informação de todos em uma organização, o que lhes proporcionará vantagem competitiva e geração de riquezas.
De forma geral, o Capital Intelectual corresponde ao conjunto de informações e conhecimentos encontrados nas organizações, que agregam valor à marca, ao produto e ou serviço mediante a aplicação da inteligência e não do capital financeiro ao empreendimento, fazendo com que o real valor das empresas seja muito maior do que os evidenciados em seus balanços.
De acordo com Edvinsson e Malone (1998) o Capital Intelectual é todo conhecimento que possa trazer vantagens competitivas para a empresa, sendo composto de duas partes: Capital Humano e Capital Estrutural, mais as relações com clientes, as quais podem ser melhor analisadas se divididas em focos: foco financeiro, foco no cliente, foco no processo, foco na renovação e desenvolvimento e foco humano.
O Capital Intelectual deve ser visto, não apenas como um instrumento para investidores e analistas, mas também como um instrumento gerencial de auxílio para a liderança da empresa (EDVINSSON e MALONE, 1998). Sendo assim, a gestão do Capital Intelectual só pode ser concretizada de forma eficaz se, o corpo gerencial da organização estiver comprometido com o processo de desenvolvimento e avaliação do Capital Intelectual e utilizar essas informações para repensar a organização da empresa, seus pontos fortes e fracos, passado, presente e futuro.
Identificação dos indicadores de capital intelectual da empresa foco de estudo
A empresa estudada está localizada na cidade de Ijuí, região do noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Foi fundada com o intuito de desenvolver sistemas informatizados para pequenas, médias e grandes empresas.
No decorrer do estudo de caso, foram identificados e selecionados 10 indicadores para cada foco, os quais foram entregues aos diretores e a contadora da empresa, a fim de emitir julgamento através de uma escala com cinco níveis de importância, onde: 1 = Ótimo; 2 = Muito Bom; 3 = Bom; 4 = Regular; e 5 = Ruim.
Os 10 indicadores para cada um dos cinco focos de Capital Intelectual foram selecionados pensando no grau de informações que estes pudessem gerar à empresa para eventuais tomadas de decisões e aos quais a organização tivesse facilidade em identificar.
Relatório de capital intelectual da empresa estudada
Para melhor visualizar a utilização dos indicadores dos cinco focos de Capital Intelectual propostos foi utilizado uma proposição de visualização de gráfico radar. “Os gráficos de radar permitem a criação de um quadro coerente de vários tipos heterogêneos de dados. Começam com um círculo, como uma tela de radar, cujo centro irradia tantas linhas quanto o número de itens que você deseja avaliar (STEWART. 1998, p. 218)”.
Por ser uma ferramenta de navegação simples e não menos eficiente, julgou-se oportuno a utilização desse tipo de gráfico para a visualização dos pontos fortes e fracos da empresa, bem como o caminho ou direção para onde a empresa deve prosseguir em seu processo de gestão organizacional e de seu Capital Intelectual.
A parte preenchida no gráfico demonstra o quanto a empresa precisa trabalhar seus indicadores para que eles se aproximem cada vez mais do centro do gráfico, ou seja, do ponto 0 (zero), fazendo com que o gráfico fique o menos preenchido possível.
Cada tabela dos focos apresentados é composta por dez indicadores sugeridos para a empresa estudada. A coluna dos pontos demonstra a média apurada para cada indicador segundo a pesquisa realizada junto aos diretores e a contadora da empresa, indo de zero a cinco.
A média dos pontos de cada indicador é encontrada somando-se os pontos das respostas e dividindo a soma pelo número de respostas.
Os resultados dessa pesquisa podem ser encontrados em uma edição completa desse artigo na Revista Eletrônica do CRCRS - nº2 - abril 2007.
Considerações finais
A evidenciação e a utilização de indicadores de Capital Intelectual tem suma importância nos dias atuais, principalmente para as organizações cujas atividades estão voltadas para a geração de conhecimentos. O modelo de relatório de Capital Intelectual elaborado para a empresa estudada, teve como base a metodologia de Edvinsson e Malone (1998), podendo ser aplicado e adaptado em outros tipos de organizações, voltadas ou não para o conhecimento, bastando apenas, adequar os indicadores a cada foco.
A globalização acelerada e a competitividade acirrada entre as empresas tem feito da informação e do conhecimento humano, fatores importantes e imprescindíveis de geração de riquezas. Sem a devida gestão do conhecimento e do Capital Intelectual, uma empresa voltada para o conhecimento não consegue prosperar efetivamente. A informação e o conhecimento são perdidos ou não se sabe o que fazer com eles, repetem-se tarefas, trabalhos são refeitos, há evasão de clientes, enfim, a empresa perde seu foco, qualidade, competitividade e receitas.
Nesse sentido, buscando amenizar e até mesmo sanar tais problemas, a contabilidade tem demonstrado nos últimos anos uma forte tendência em direcionar esforços no sentido de aprimorar conhecimentos relacionados ao estudo do Capital Intelectual, considerado um dos maiores ativos das organizações da era do conhecimento.
Baseado nessas premissas, a proposição deste trabalho foi a de conceituar e evidenciar indicadores de Capital Intelectual para a empresa foco de estudo, bem como elaborar um relatório capaz de demonstrar a situação da empresa no momento da elaboração do estudo, com relação aos indicadores dos Focos Financeiros, de Clientes, no Processo, de Renovação e Desenvolvimento, e Humano.
O trabalho realizado em campo revelou que o estudo de indicadores de Capital Intelectual pode auxiliar a empresa no seu processo de gestão organizacional, uma vez que aponta os pontos fortes e fracos de cada indicador dos cinco focos apresentados segundo a percepção de seus diretores e da contadora da empresa. Embora o estudo tenha sido direcionado apenas a essas pessoas, uma investigação aplicada também aos colaboradores da organização pode agregar informações importantes na análise do Capital Intelectual das organizações.
Os relatórios de Capital Intelectual, elaborados a partir de gráfico radar, podem ser usados como ferramenta gerencial para eventuais tomadas de decisões, baseados na evidenciação e controle de indicadores de Capital Intelectual da empresa.
Nessa perspectiva, a evidenciação e a utilização de indicadores de Capital Intelectual pode ser usada no sentido de identificar alternativas diferenciadas de estratégias, gerando informação exclusiva sobre o contexto empresarial da empresa foco de estudo. A continuidade e o correto uso dessa informação, podem criar vantagens competitivas para a empresa, no sentido de atenuar ou até mesmo eliminar os pontos fracos apresentados em cada indicador dos cinco focos estudados, bem como manter ou mesmo, melhorar os pontos fortes apresentados.

Felipe Jocemar Padilha
Contador – CRCRS nº 76.757, Pós- Graduando em Auditoria e Perícias Contábeis pela Unijuí. Atuou como consultor técnico em sistemas de automação para escritórios contábeis ministrando implantação e treinamento em sistemas contábeis gerenciais. Atualmente atua como Coordenador Contábil e Fiscal de um grande grupo do varejo. Esse artigo foi escrito com base em pesquisa acadêmica defendida em abril de 2006, sob orientação do professor Contador Giovani André Plentz, CRCRS nº 65.479, especialista em Contabilidade Gerencial e Mestre em desenvolvimento pela UNIJUÍ – Universidade do Noroeste do Estado
do Rio Grande do Sul.


BIBLIOGRAFIA
ANTUNES, Maria Thereza Pompa. Capital intelectual. São Paulo: Atlas, 2000. 139 p.
CRAWFORD, Richard. Na era do capital humano. Trad. Luciana Gouveia. São Paulo: Atlas, 1994. 186 p.
DAVENPORT, Thomas. H., PRUSAK, Laurence. Conhecimento empresarial: como as empresas gerenciam seu capital intelectual. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998. 237 p.
EDVINSSON, Leif; MALONE, Michael S. Capital Intelectual: Descobrindo o valor real de sua empresa pela identificação de seus valores internos. São Paulo: Makron Books, 1998. 214 p.
MARTINS, Vinícios Aversari. Contribuição à avaliação do goodwill: Depósitos estáveis, um ativo intangível. 2002. 277 f. Dissertação (Mestrado em Controladoria e Contabilidade) – Universidade de São Paulo, 2002.
MATHEUS, Leandro de Freitas. Uma análise da identificação e da gestão do capital intelectual nas usinas sucroalcooleiras e da prática dos princípios delineadores do conceito de avaliação de empresas na sua gestão econômico-financeira: um estudo exploratório em dez usinas paulistas. 2003. 154 f. Dissertação (Mestrado Engenharia de Produção)- Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.
NONAKA, Ikujiro; TAKEUCHI, Hirotaka. Criação de Conhecimento na empresa: como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. Rio de Janeiro: Campus, 1997. 358 p.
PLENTZ, Giovani André. Mensuração do capital intelectual: uma análise crítica sobre sua efetividade,2002. 94 f. Monografia (Especialização em Contabilidade Gerencial)-Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí, 2002.
STEWART, Thomas A. Capital intelectual, a nova vantagem competitiva das empresas. Tradução de Ana Beatriz Rodrigues, Priscilla Martins Celeste. 11. Ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998. 237 p.


Felipe Jocemar Padilha
Contador – Pós- Graduando em Auditoria e Perícias Contábeis pela Unijuí. Atuou como consultor técnico em sistemas de automação para escritórios contábeis ministrando implantação e treinamento em sistemas contábeis gerenciais. Atualmente atua como Coordenador Contábil e Fiscal de um grupo do varejo. Esse artigo foi escrito com base em pesquisa acadêmica defendida em abril de 2006, sob orientação do professor Contador Giovani André Plentz,especialista em Contabilidade Gerencial e Mestre em desenvolvimento pela UNIJUÍ – Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.
Autor: Felipe Jocemar Padilha


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