Árvores



Marçal Rogério Rizzo

Começo o presente artigo querendo fugir da visão limitada que temos a respeito do contexto da urbanização. Hoje, a concentração urbana no Brasil encontra-se na casa dos 80% do total da população. Entretanto, essa ocupação vem, há décadas, ocorrendo de forma pouco planejada em meio a um gigantesco conjunto de interesses individualizados. Urbanizar não deveria ser entendido como apenas destruir e construir.

O uso e a ocupação desordenada do solo têm gerado vários problemas como enchentes, inundações, poluição, falta de água, bolhas de calor, congestionamentos, falta de áreas verdes entre tantos outros. A tendência de ocupar o espaço sem planejar tem nos levado ao verdadeiro caos ambiental urbano e o custo desse processo tem sido muito alto para toda a sociedade, basta pensarmos no recente caso das chuvas no Vale do Itajaí de Santa Catarina.

Antigamente, naquela área, havia matas, havia rios e córregos, havia bichos e, hoje, há muita lama e seres humanos desabrigados. Ali, houve uma ocupação desordenada da área. Lembro que não existe meio ambiente individual, ele é coletivo e seus efeitos ocorrem em cadeia atingindo a todos, sem exceção.

Agora, vindo para mais próximo de nós, ou seja, para nossa centenária Araçatuba (interior do Estado de São Paulo), continuo escrevendo indignado ao deparar-me com a manchete de capa desse mesmo veículo de informação que diz: “Veneno, sentença para árvore que incomoda” (Folha da Região - Araçatuba – edição de 10 de dezembro, A7).

Araçatuba possui raras áreas verdes, um único parque, um jardim zoológico, número limitado de praças, avenidas e ruas sem verde e, segundo levantamento da Prefeitura Municipal, um déficit de 70 mil árvores. Diante desse quadro sedento por árvores em uma cidade que parece “ferver” nos dias de verão, o ato mais lógico do cidadão araçatubense seria estar plantando árvores e não as envenenando como denuncia o presente jornal. Diga-se de passagem, belo ato da Folha da Região em publicar essa ação negativa como matéria de capa, pois todos devem atentar para a importância que a arborização ocupa dentro de um processo de urbanização.

A mesma matéria aponta que, em Araçatuba, “[...] nos últimos 30 dias um total de 120 árvores foram podadas ou cortadas de forma irregular”. Esse ato que aparentemente é inocente nos afeta como um todo. Você já pensou quanto vale uma árvore na área urbana? No ato de estacionar seu veículo, você procura uma sombra de árvore? E, quando está caminhando, vai buscando as sombras das árvores para se refrescar? Você já percebeu que, onde existem árvores, o clima é mais fresco e úmido?

As árvores para as cidades têm um valor imensurável, pois, assim como os animais, elas também transpiram e essa transpiração dos vegetais deixa o clima mais fresco e o ar mais úmido, havendo, assim, uma ligação direta das áreas verdes com a umidade do ar.

Em virtude das árvores transpirarem vapor d’água e direcionarem esse vapor para a atmosfera formam-se as nuvens e as chuvas que, por sua vez, refrescam o clima também. Esse processo é responsável por aumentar e equilibrar a umidade do ar. Dessa forma, em uma área onde não há áreas verdes, a sensação de calor é maior e, claro, a umidade do ar sempre está baixa. Para os seres humanos e animais, é necessário que haja uma determinada taxa de umidade do ar.

Pois bem, há períodos do ano em que a umidade do ar de Araçatuba é menor do que em regiões desérticas e ainda temos que conviver com pessoas irresponsáveis cortando, envenenando e podando de forma irregular árvores.

No momento em que a sociedade de Araçatuba materializar um projeto coletivo que envolva o verde, dando o verdadeiro valor que cada árvore possui, a centenária cidade terá mais qualidade de vida, já que estaremos substituindo o cinza enfumaçado pelo verde da natureza.

Autor: Marçal Rogério Rizzo é economista e professor universitário.

Artigo publicado originalmente no Jornal Folha da Região - Araçatuba (SP) - Caderno Cidades - P.E2. Edição de 19 de dezembro de 2008 - número 11402 Ano 37.
Autor: Marçal Rogério Rizzo


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