Inquisição e Mentalidade



Devemos entender o estabelecimento da Inquisição, não como um desvio histórico, mas como uma conseqüência lógica de seu tempo. Da mesma forma que a mentalidade predominante no nosso tempo não permitiria a existência de um órgão jurídico-religioso inquisitorial, o contexto no qual o "Santo" Ofício da Inquisição existiu permitiu a sua atuação. Portanto, acredito que é inútil que os católicos ou não-católicos fiquem se justificando ou defendendo-se de fatos que aconteceram em outros tempos, com outras pessoas, cuja mentalidade era muito diferente da nossa e cujo contexto social apresentava uma realidade singular.Existiu basicamente dois tipos de Inquisição: a eclesiástica ( estabelecida e controlada pela Igreja na idade média) e a estatal ( restabelecida pela Igreja na Idade Moderna a pedido de alguns monarcas europeus e controladas pelo governo real).

A primeira época de atuação da Inquisição ( século XIV) se deu porque a Igreja estava ameaçada por um povoado (os albigenses) dito "herege" no sul da França. Para não perder parte de seu poder, que na Idade Média era tanto político como religioso, a igreja através do tribunal da Inquisição sentenciou-os à morte. Não houve muita contestação na época. Não porque o povo fosse ruim, mas porque a mentalidade religiosa era muito profunda e era controlada pela Igreja, dizemos que ela "detinha o monopólio do saber". O povo entendia que a vontade da Santa Madre Igreja era a vontade de Deus. Entendeu a questão da mentalidade?A segunda atuação da Inquisição foi na Idade Moderna (século XVI). Em Portugal e Espanha estava havendo uma crise político-econômico-religiosa entre judeus e cristãos e por razões diversas, os monarcas destes reinos optaram por pedir ao papa a atuação da Inquisição em seus territórios, desde que fosse também controlada por eles. E assim foi feito. Para se ter idéia o primeiro inquisidor-mor de Portugal era o irmão do rei. O Vaticano muito pouco teve a ver com esta Inquisição moderna, que tinha mais fins político-econômicos do que religiosos.

Não sou religioso,nem considero que um ser humano tem o direito de tirar a vida de outro, principalmente por motivos religiosos, mas acho que o cristianismo sai ileso desses fatos históricos na medida em que as pessoas adquirirem mais conhecimento da História e puderem diferenciar as mentalidades predominantes em épocas tão diferentes da nossa.
Autor: Maiko Cesar Menassa Silva


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