DESATENÇÃO NO CONTROLE PERSISTE



Enquanto isso, Dengue, Leishmaniose, Malária, Chagas e outras doenças transmitidas por insetos patogênicos se alastram

Num país maravilhoso, onde tudo poderia ser perfeito (ou quase), acompanhamos, com tristeza, a cada ano epidemias eclodindo pelos estados brasileiros, provocando muitos óbitos e deixando graves seqüelas decorrentes das sucessivas infecções, abalando a saúde de muitos indivíduos de maneira irremediável.
Recordo uma família do sul, há uns 18 anos, que comprara uma área para se estabelecer no Mato Grosso e, passados alguns meses, voltaram ao Rio Grande do Sul. Quando os questionei, obtive a seguinte resposta: “Todos nós ficamos doentes, com uma doença transmitida por mosquitos, uma febre muito alta, pensamos que íamos morrer, por isso viemos embora...
Pois bem, depois de certo tempo vim ao Mato Grosso passear e gostei desta terra e de seu povo e decidi vir morar aqui...
O que eu ainda não sabia é que uma epidemia de dengue estava em andamento (a que houve em 1993/1994). Naturalmente fomos infectados juntamente com um elevado número de pessoas.
Uma das opções que havia era voltar correndo para o sul. A outra, a que escolhi, foi ficar e estudar, tentando encontrar uma solução para o problema.
Voltei a estudar. E muitas vezes aproveitei o silêncio de plantões nas madrugadas do Pronto Socorro para estudar!
(Ah, sim. Passei em concurso público para lá trabalhar.)
Pois foi assim. Estudando em velhos livros, que prestei vestibular na Universidade Federal de Mato Grosso e passei em 1º lugar (do que me orgulho, pois já era avó, em meio a tantos jovens, alguns vindos de cursinhos ou de escolas particulares).

No ano da conclusão do curso superior, já havia feito inscrição para a especialização em Entomologia Médica e, ao ser convocada para o ingresso no curso tive a desagradável surpresa: (coordenadoras e gestoras da secretaria de saúde) tentaram de todas as maneiras, impedir minha ida ao Rio de Janeiro, para o curso...
Ameaça de exoneração, corte de salário, tudo isso aconteceu!

“Não é porque o acesso à pesquisa, à continuidade dos estudos é restrito, que deixaremos de pesquisar e questionar.” (Beatriz Antonieta Lopes)

Questiono, mas já sei a resposta... Não existe interesse em acabar com a dengue ou com outras patologias vetoradas por insetos.
Isto representa dinheiro!
Uma verba considerável para o município, que se não existisse o problema, deixaria de vir; parece ser este o raciocínio de alguns.
Eu sei, pelo número de pessoas que se manifestam ao ler meus artigos, seja pessoalmente ou por e-mail, que estou no caminho certo e não desisto apesar da falta de apoio ou de incentivo.

“bastaria cumprir-se a lei”

De acordo com a drª. Lenir Santos, especialista em direito sanitário, em seu artigo no Globo (24/09/07), “se a Lei fosse cumprida (e ela existe para isto) muitos projetos seriam desnecessários”.
Explana ainda que “no nosso País não basta a Constituição, não basta a Lei. Criamos falsamente a necessidade de outra Lei para aplicar a já vigente”.
E a Constituição Federal, em seu Artigo 2º, preceitua que “A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.
§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.
§ 2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade.
E, para recordar, aí está um dos parágrafos do Artigo 5:

“§ 2º - Entende-se por vigilância epidemiológica um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos”.
O que percebi, ao longo desses 15 anos e, acentuadamente nos últimos 10 anos é a falta de ações corretas e efetivas no combate e erradicação destes vetores.
“Os bombeiros são chamados porque o circo pegou fogo. Eles chegam e vão dar uma palestra sobre como evitar o incêndio ou tratam de apagar o fogo?”
Está claro que neste contexto o que estou questionando é: Epidemias em andamento e o pessoal a distribuir panfleto, visitar casas para verificar larvas, inventando armadilhas para pegar mosquitos!
Conscientização ambiental é importante e muito, durante o ano todo, nas escolas, como faz a professora CATARINA GIACOIA DA COSTA na escola em Saquarema, e outras tantas professoras e professores pelo país afora...
Mas durante uma epidemia as ações devem ser rápidas no atendimento à população doente, que passa mal, sente dores terríveis, febre altíssima e medo, muito medo! Pronto Socorro e profissionais devem estar disponíveis e preparados para dar atenção ao paciente; os cuidados devem se iniciar na sala de espera, com hidratação e monitoramento, que pode e deve ser realizado por enfermeiros, enquanto se aguarda o atendimento médico.
Pobre e assustada população, que vê os filhos e a si mesma como vítimas do descaso, da omissão....
Mas ações concretas e imediatas devem ser tomadas, com a aplicação do U.B.V para a eliminação do inseto adulto, atitude esta que irá evitar o surgimento de mais ovos e mais mosquitos!
É o que se espera, finalmente
É, bastaria cumprir-se a lei...
Autor: Beatriz Antonieta Lopes


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