Progressão Continuada Ou Promoção Automática?



PROGRESSÃO CONTINUADA OU PROMOÇÃO AUTOMÁTICA? CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ALUNOS QUE CONCLUEM O ENSINO FUNDAMENTAL I SEM ESTAR ALFABETIZADO.

Vamos iniciar esse artigo procurando refletir sobre o que está acontecendo nas escolas públicas atualmente, o aluno tem garantido por lei direito a duzentos dias letivos (200), ele também tem garantido por lei direito a educação gratuita e de qualidade, todos têm conhecimento desses direitos e não é novidade para ninguém, porém já faz algum tempo que a contradição entre discurso e prática fica evidente até para os leigos, ou para as pessoas que não fazem parte do mundo escolar, de fato a sociedade questiona o regime de progressão continuada implantado nas escolas públicas e que nada tem deprogressivo, na verdade se mostra como um sistema regressivo, autoritário que descumpre a lei pois não valida aquilo que é assegurado: Qualidade de Ensino. Já faz algum tempo que questiono esse regime autoritário que de inclusivo passou a exclusivo, pois os alunos são promovidos mesmo não aprendendo e quando chegam no Ensino Fundamental II, mal lendo e escrevendo simplesmente ficam assistindo às aulas sem nada compreender, e o professor tem a responsabilidade de ensinar o conteúdo para vários alunos e não tem como alfabetizar alunos que já deveriam estar alfabetizados, isso é inclusão e igualdade de oportunidades?

Se a Progressão Continuada desse aos alunos oportunidades iguais de aprender teríamos tantos alunos com dificuldades na leitura e escrita concluindo o Ensino Fundamental I? Professores questionam essa prática, mas são obrigados a mascarar problemas, reduzir o números de reprovados, pois como já disse tudo é imposto, não existe uma reflexão com relação as conseqüências que isso trás para os alunos, como fica um adolescente que sabe não ter aprendido mas se vê igualmente promovido, mas diferentemente dos demais não sabe ler e escrever. Considero importante os estudos feitos por Emília Ferreiro na área da alfabetização, e a Psicogênese da Língua escrita sem dúvida é o marco divisor para a educação e para a alfabetização, porém não acho justo o que fazem com os alunos que ainda não dominam o código da língua escrita, aprovam para o ano seguinte e dizem assim: "esse alunos está silábico-alfabético e logo se tornará alfabético"... No final do Ensino Fundamental I? Isso é grave e não pode ser tratado simplesmente como um nível de escrita, precisamos pensar que esse aluno passou pelo menos oitocentos (800) dias letivos na escola somando os quatro anos iniciais e não aprendeu a ler, não se trata de dar respostas a uma sondagem escrita, mas sim de investigarmos o que aconteceu durante esse tempo todo que esse aluno passou pela escola e não aprendeu.

Professores, gestores, coordenadores a sociedade em geral precisa refletir sobre as conseqüências desse problema a curto e longo prazo, pois indiferente dos interesses políticos e econômicos que estão por trás desses desmandos em nome de uma falsa inclusão, temos que pensar no aluno, não como discurso mas na prática, pois somos responsáveis pelos nossos atos, e somos cúmplices de algo que não funciona tão bem como deveria. A Progressão Continuada da forma como vem sendo feita desde a sua implantação não cumpre com o intuito explícito em seu próprio nome "Progressão Continuada", isso porque o aluno é aprovado automaticamente mesmo sem ter aprendido e dessa forma não progride e sim regride. Cabe ressaltar que os alunos com dificuldades de aprendizagem recebem um reforço escolar de qualidade discutível muitas vezes ministrados em salas superlotadas ou por um professor inexperiente, quando deveria ser o contrário, pois alunos com dificuldades de aprendizagem demandam atenção especial e um olhar apurado, de um profissional experiente para intervir individualmente ou em pequenos grupos.

De acordo com Patto (2005), "A democratização do ensino requer muito mais do que "pôr toda criançada na escola", para que ela obtenha, não importa como, o diploma no prazo previsto".

De fato não é possível pensar numa escola que garante o diploma mas não garante a aprendizagem, de que adianta ter um diploma mas não ter o domínio da leitura e escrita. Não defendo a volta de reprovação como solução, mas proponho que façamos de fato alguma coisa concreta, que não se restrinja a manifestos escritos como esse e tantos outros, mas sim que possamos transformar o fazer docente, para transformarmos o sistema e a estrutura de maneira consciente. A tarefa não é fácil, demanda muita coragem e acima de tudo vontade de modificar esse sistema injusto e que transformou a educação pública numa enganação, não devemos mais aceitar sem questionar, façamos isso nas escolas, nas reuniões pedagógicas, nos congressos, pois se não começarmos um grande plano de mudança estaremos coniventes e passivos diante do erro.

" A melhor maneira que a gente tem de fazer possível amanhã alguma coisa que não é possível de ser feita hoje, é fazer hoje aquilo que hoje pode ser feito. Mas se eu não fizer hoje o que hoje não pode ser feito e tentar fazer hoje o que hoje não pode ser feito, dificilmente eu faço amanhã o que hoje também não pude fazer". (Paulo Freire)

Para finalizar gostaria de lembrar o mestre Paulo Freire que idealizou a Progressão Continuada mas não a promoção automática com seu caráter mascarado, pelo contrário Paulo Freire idealizou o bom ensino, a leitura de mundo, a educação como meio para a libertação, o respeito aquele que está sendo alfabetizado e a garantia de que ler é direito de todos. Infelizmente suas idéias foram distorcidas e que vemos é uma educação pública em crise e a Progressão Continuada se transformou em promoção automática.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos.São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2003

FERREIRA, Sebastião. A progressão continuada nas escolas estaduais e a exclusão silenciosa. São Paulo: Scortecci, 2006

NASCIMENTO, Gilberto. Ofracasso de todos nós. A que ponto chegamos. Revista Educação. São Paulo, Ano 27, nº 231, julho de 2000.

PATTO, Maria Helena Souza. Exercícios de Indignação: escritos de educação e psicologia. São Paulo. Casa do Psicólogo. 2005.


Autor: Angelica Lourenço Pinto


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