“O pão nosso de cada dia” e o caso “Isabela Nardone”



C
aro leitor, você conhece Diego Leonel da Silva? Acredito que não, aliás, tenho certeza que não. E Alexandre Nardone? Ah, esse você conhece!? Calma! Não fique preocupado e permita que eu me explique, pois a culpa, não só de você, mas da opinião pública em geral, de não conhecer o cidadão Diego, não é sua
Hoje, G1, IG, UOL, CBN, Record, “Band”, Jovem Pan, Radio Bandeirantes, Folha de São Paulo, “Estadão”, Agência estado, enfim, todos os grandes veículos de informação do Brasil, estão focados em um só tema, e um só grande acontecimento, o caso “Isabela”. A reconstituição do crime mobilizou dezenas de viaturas jornalísticas, centenas de profissionais da notícia e principalmente aguçou a curiosidade de milhões de brasileiros. A Rede Globo, não alheia ao fato e dependente de pontos de audiência, tão cobiçados e necessários na sua atual conjuntura, reservou vários de seus preciosos e caros minutos para a apresentação de informações “novas”, no entanto, irrelevantes, já que havia um julgamento prévio e os fatos apresentados pouco acrescentou a situação emblemática do pai de Isabela. Os mais prestigiados profissionais da imprensa brasileira dedicando o seu domingo a saciar a sede de uma população – a sede de informação.
Mas será que o que leva veículos e jornalistas a desbravar um tema tão desbastado é simplesmente a função de informar, de levar a notícia de forma objetiva e imparcial à casa de milhões de brasileiros, que juntos vivem e mesmo drama, sofrem as mesmas angustias e compartilham dos mesmos sentimentos e expectativas? É nítido e evidente que não.
Há de se dizer aqui que a imprensa brasileira, nesse caso, ao menos em parte, cumpriu com sua missão de informar com funcionalidade social. Basta, para isso, ver os debates surgidos em vários âmbitos sobre os mais complacentes e diferenciados temas que cercam o desenrolar do caso. Essas discussões, quando exauridas, levam a sociedade, a tomar medidas em várias vias que de alguma forma confortam, dão segurança e elucidam a todos sobre riscos, possibilidades e caminhos
Apesar disso, não podemos simplesmente analisar o caso por esse ângulo, como único e exclusivo anseio dos proprietários dos grandes veículos e renomados profissionais da mídia informativa. Para nós, envolvidos diretamente nos grandes acontecimentos que cercam todas as correntes filosóficas e camadas sociais, a notícia é muito mais do que nosso simples objeto de trabalho, é o nosso “pão de cada dia”. O que nos falta é uma reflexão, não dos resultados desse nosso trabalho, mas para que objetivo ele foi obtido, qual foi a “matéria” que nos rendeu esse pão. O caso “Isabela” é um retrato de que não estamos interagindo com as longínquas lacunas do caráter cientifico social que se propõe a concretizar o jornalismo. De momento, pode se dizer que nosso objetivo é simplesmente de transformar fatos em espetáculos e espetáculos em fonte econômica especulativa de acúmulo de capital. Especulativa sim, porque criamos tendências temporárias que no mínimo alavancam nossa audiência e prestígio.
A idéia que se sugere é que apontamos vários fatos, mas só nos aprofundamos naquele nos revertem resultados de forma concreta e imediata. Diego Leonel da Silva não ia nos render tanto quanto rende os “Nardones”.
Aí você me pergunta: Quem é Diego Leonel da Silva? Pois bem, Diego Leonel da Silva, 25, era ajudante geral e em 2004 foi preso acusado de matar sua filha de nove meses, sufocada em um guarda-roupa. Motivo: O bebê chorava muito durante uma partida de futebol em que o Brasil jogava na copa daquele ano. Diego foi preso, negou o crime e mesmo assim continua no CDP (Centro de Detenção Provisória) Danilo Pinheiro, em Sorocaba. A Diferença é que Diego era pobre, não tinha bons advogados, e seu pai, pedreiro, pediu justiça, contra o próprio filho. Mas ninguém se interessou quando o fato foi exposto ao público, nem nós.

Escrito em 2008
Autor: Marcel Scinocca


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