Mais coerção policial ou mais educação?



É unânime a noção de que as ruas e avenidas das cidades brasileiras são perigosas, com o risco iminente, probabilidade muito acima do aceitável, de um meliante chegar com uma faca ou um revólver para perto do pedestre ou do motorista pedindo celular, carteira e, no caso de mulheres, bolsa. Multiplicam-se pelas rodas de bar as lamúrias: “Queremos mais polícia!”, “Essa polícia não está funcionando direito!”, “Não tem polícia nas ruas!”, etc. Entretanto, menos frequentes são as vozes pedindo uma educação melhor, que previna a corrupção social de pessoas mais suscetíveis à sedução pela criminalidade. Fica então a questão: o que é melhor e mais necessário? Mais coerção e vigilância ou mais e melhor educação?

É verdade que ambos são muito necessários, imprescindíveis, embora a segunda seja mais essencial enquanto meio de dar perspectivas às pessoas de modo que elas não recorram ao crime como “opção”. As polícias pelo Brasil estão provendo uma segurança inferior àquela que seria admitida como parte integrante de uma sociedade minimamente segura. Valeria um aumento do policiamento, com rondas motorizadas e a pé e instalação de mais delegacias, ao menos nos bairros mais críticos, de taxas mais altas de assaltos, homicídios e outros crimes.

Polícia é muito, mas não é tudo. Numa situação como a das cidades brasileiras, a única forma de prover a redução da criminalidade a quase zero sem as populações mais vulneráveis ganharem acesso a educação qualificada e formativa seria pôr policiais em vigília permanente em nada menos que cada esquina de cada bairro, multiplicar por no mínimo 10 o número de viaturas, instalar câmeras em todos os lugares ao ar livre e mais algumas outras providências impensáveis. Em outras palavras, teríamos que entrar num estado permanente, que não poderia nunca ser diminuído, de vigilância pesadíssima, de coerção policial máxima.

Ainda assim, funcionaria como mero compressor de mentes corruptas. Pessoas que não vislumbraram por bem os benefícios de ser benignas e honestas permaneceriam com mente suscetível a roubar e matar. Sem poder descarregar seu mau caráter com uma arma nas ruas, furtaria e praticaria outras desonestidades, por exemplo, num emprego que arrumasse ou dentro da própria casa, fora do campo de visão policial.

Além disso, causas passionais, como fanatismo religioso, desequilíbrio psicológico e incapacidade de lidar com o fim de um relacionamento amoroso, desencadeariam crimes trágicos que nenhuma polícia poderia impedir ou reverter – os soldados poderiam apenas prender o criminoso. Mesmo que a “compressão” coerciva fosse permanente, não seríamos um povo em harmonia. Ao invés, pareceríamos uma sociedade que trata seus sintomas com remédios pesados mas não procura a cura definitiva de seu problema.

Por outro lado, uma educação respeitável, de pedagogia bem-elaborada, com infraestrutura decente e com professores bons e bem pagos, formaria cidadãos cientes de que a honestidade e o trabalho dedicado formam a única opção a garantir a dignificação humana e a prosperidade socioeconômica. Os jovens aprenderiam que o crime, além de não ser um meio válido de garantir o sustento, torna a pessoa indigna, moralmente inferior e desmerecedora do bom proveito da vida. Vejamos os países mais desenvolvidos: não precisaram de polícia pesada para deixar suas ruas tranquilas e sua sociedade em paz, mas sim de boas escolas.

Não adianta lamentarmos a falta de segurança e de força policial. Temos que cobrar, além e acima de um policiamento melhor, a dignificação da educação pública disponível para a população. Não é nada racional exigir um tratamento pesado – superpolícia – que adormeça os germes patológicos – bandidos – em vez da cura definitiva – escolas dignas com bom ensino – que os eliminará, acabará com a doença e impedirá que o corpo sofra com ela novamente.
Autor: Robson Fernando


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