Crise Global ou um Novo Paradigma?



Crise Global ou um Novo Paradigma?

Os dicionários nos dizem que a palavra crise pode significar: momento crítico; situação aflitiva; conjuntura perigosa, anormalidade, gravidade; etc. No âmbito médico, temos uma abordagem ou pouco diferente: momento de mudança decisiva na condição de uma doença, tomando o rumo da melhora ou do desenlace fatal.

Fugindo do meio comum da análise das causas – exaustivamente escarafunchadas pelos renomados analistas de economia – basta-nos reconhecer que a chamada Crise Global, gerou (e continua gerando...) enorme impacto sobre os fundamentos políticos e financeiros dos países mais desenvolvidos e, de forma generalizada, sobre as estruturas e os resultados das principais empresas no mundo.

Todos, sem exceção, direta ou indiretamente, sofrem as conseqüências constritivas do mercado, envolvendo, inclusive, ícones considerados intocáveis.

A atenção do mundo segue bombardeada pelas manchetes dos jornais e revistas especializadas, trazendo aos holofotes todos os movimentos, reuniões e opiniões dos principais personagens das esferas políticas e financeiras. O mundo fala em crise.

O assunto é esse, assim como a culpa de tudo que acontece de errado. Mesmo aquelas empresas, que lutavam contra as suas próprias incompetências, agora têm novo agente expiatório.

Cabe-nos, portanto, a profunda observação de tudo isso, a fim de que possamos buscar novas percepções e conclusões com vistas ao futuro.

Em minha opinião, a descrição que melhor expressa o sentido desse impacto é aquela utilizada no meio médico: “mudança decisiva”.

Essa mudança é inexorável: os fundamentos da economia mundial jamais serão os mesmos (replicando, como uma metralhadora, sobre resto do mundo!); a indústria automotiva vive e projeta momentos de profundas transformações; o mercado financeiro tenta colar as partes da grande quebra; o grande precipício vivido pelas bolsas de valores no mundo exigirá grandes esforços na recuperação da confiança dos investidores; os índices de empregabilidade sofrerão, ainda, longo período de grandes instabilidades até que possam retornar a uma eventual normalidade; e por aí vai...

É evidente que todos esses impactos representam grande revés ao momento de crescimento e desenvolvimento vivido pela economia mundial até então. Porém, não é difícil imaginar as conseqüências adicionais que derivarão de todo esse imbróglio. Afinal, todos conhecem a teoria do efeito dominó...

Os princípios e fundamentos políticos e financeiros seguirão novos caminhos, procedimentos e regras; a indústria automobilística mundial não será mais a mesma; os rombos nos balanços das empresas e bancos drenarão bilhões de dólares em iniciativas de ajuda por parte dos governos; enfim, tudo isso acabará gerando efeitos e comportamentos nunca antes experimentados nessas amplitudes e extensões.

Voltemos, então, ao nosso foco principal – “mudança decisiva”.

Um paciente, após um sério acidente ou ocorrência aguda de uma doença (enfarto, por exemplo), jamais será o mesmo. Quer seja pelas possíveis seqüelas, quer seja pelo pavor do ocorrido, os padrões de comportamento serão outros.

Desta forma, pela simples comparação, podemos, seguramente, concluir que os padrões de comportamento das empresas e das pessoas serão outros, que não os anteriores.

No mundo dos negócios, ainda que em momentos de sólida estabilidade, tênues mudanças nos princípios refletem enormes transformações nas demandas por produtos e serviços. É tempo, portanto, de buscarmos a interpretação e a projeção desses novos padrões, a fim de que novas tendências e oportunidades de negócios sejam identificadas.

O modelo clássico do alto impacto é aquele que retrata um momento de impacto brusco em um primeiro instante, seguido de um período de completa perda dos termos comparativos e das referências anteriores, surgindo um terceiro instante de reconstrução aleatória, atendendo as premissas e as necessidades básicas das novas demandas de continuidade.

Complicado? Não! Trata-se apenas de compreender que depois da queda de um grande meteoro no planeta – gerando os impactos imagináveis – o mundo ficará atônito e perdido por algum tempo, seguindo um período de inação, potencialmente longo, aguardando o que vai acontecer. É a perda das referências conhecidas!

A diferença entre a luta para consertar os problemas conhecidos com as velhas reações do passado e a identificação das novas tendências e oportunidades é, certamente, a atitude de lançar a inteligência e a estratégia com vistas ao mercado pós-impacto, ou seja, pós “mudança decisiva”.

O próximo passo distinguirá as empresas que seguirão na cruel batalha pela sobrevivência, daquelas que construirão seus novos mercados de atuação, pela correta leitura e interpretação dos novos comportamentos, traduzindo-os em demandas e, daí, em novos negócios.

O processo natural dita que os modelos e os padrões de comportamento seguem em constantes transformações adaptativas aos novos ambientes. No mundo evolutivo dos negócios, esse princípio não poderia ser diferente.

Roberto A. Trinconi
EdgerSense Consulting
Autor: Roberto A. Trinconi


Artigos Relacionados


Oportunidades Ou Ameaças?

A Crise Americana E O Impacto Nas Pequenas E Médias Empresas Brasileiras

Sociologia Aplicada Ao Cotidiano Das Nações

Conceito De Inteligencia Competitiva

Investidores Internacionais Estão De Olho Nos Imóveis Do Brasil

Estudo Da EvoluÇÃo Do Mercado SiderÚrgico Em Economias De Crise

O Planejamento Estratégico E As Conseqüências Do Inesperado