Cúmplice da própria violência sofrida



"Uma mulher que apanha de seu companheiro é tão culpada quanto ele." Quase apanhei - de mulheres! - porque disse isso hoje. E, verdadeiramente, acho isso. Talvez defenda essa posição de minha ótica masculina e isso pode não ser entendido pelas mulheres, pois, para um homem é mais fácil se desvencilhar de uma situação de violência porque ele é mais racional, uma das poucas vantagens do perfil masculino. A sensibilidade feminina é e sempre será o atributo humano mais importante, mesmo que seja sentida e exercida por um homem.


Mas, vamos aos fatos. Todo homem de baixa ou nenhuma sensibilidade se sente dono da sua mulher. É assim que ele a chama: "minha mulher". Minha significa posse, dominação. Esse tipo de homem também dá outros sinais de sua rudeza, pois é incapaz de fazer carinhos, declamar palavras ternas e fazer amor. Ele faz sexo, ele trepa, ele come sua mulher - e outras que "derem sopa". E mais: acha que esse é o papel dele. Porém, ai dela se ele sequer imaginar que possa ter estado nos braços de outro. Nesse patamar, a violência eclode e a arma usual desse homem é a ameaça seguida da agressão - que pode ser física, moral ou psicológica.


Note bem: agressão precedida de ameaça. É quase sempre assim. A mulher que apanhou, certamente recebeu o aviso antes. O homem dá inúmeros avisos antes de bater - fisicamente ou não. E, ao receber a primeira porrada, o que a mulher faz? Fica magoada! E muitas vezes só isso! Quando muito, sai de casa por uns dias e, aos primeiros pedidos de perdão e promessas de que nada disso se repetirá, volta ao convívio do algoz. Que mensagem ela deu para o sujeito? A de que "bata, que eu não faço nada." Esse comportamento passivo cria um padrão de comportamento. Quando o homem não puder "meter a mão" no seu chefe ditador, vai extravasar em casa com a mulher. Quando seu time perder um jogo, a coisa se repetirá. Quando tomar umas e outras, tome porrada. E assim se estabelece a prática bilateral - pois nem de longe isso pode ser unilateral -: "você bate e eu apanho".


Algumas mulheres, raramente, tomam a atitude de prestar queixa policial e lavrar um BO. Mas, passadas as primeiras dores - físicas e emocionais - toma uma atitude descabida, para a qual tem uma dezena de desculpas esfarrapadas: retira a queixa! Basta, muitas vezes, duas palavrinhas de falso arrependimento masculino e a mulher perde a chance de por o algoz fora de seu alcance. As desculpas: "Ele é o pai dos meus filhos!", "Ele prometeu que nunca mais faria isso!", "Não tenho como me manter!", "Ele me ameaçou de morte!" - essa última tem mais chance de acontecer se nada for feito para contê-lo. Tudo desculpa, tristes desculpas!


Não sei porque muitas mulheres, vítimas de violência doméstica, são cúmplices dessa mesma violência. Apanhar e nenhum providência tomar é como adubar e regar uma semente assiduamente. Ela crescerá e frutificará. Não há outra alternativa. A tolerância à violência tem que ser zero. A primeira porrada pode não ser evitável, mas as seguintes sim. Podem e devem ser evitadas. Se esse homem não fosse incentivado a bater por causa de uma permissividade feminina excessiva, logo logo ele aprenderia: "Ou aprende a tratar bem ou nada de mulher!" Caso contrário, resta a opção de se relacionar com um homem; dando ou recebendo; comendo ou sendo comido!
Autor: Carlos Bayma


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