UM ACIDENTE, UMA VIDA,UM VEÍCULO, DOIS OLHARES DIFERENTES,TRÊS BOAS LIÇÕES
Passado aquele vento de ira e agressão verbal, me aproximei do menino e procurei ver como ele estava, percebi que o mesmo não machucara muito, mas a bicicleta ficou totalmente estragada, pra ser mais preciso, em forma de arco. Logo após foram chegando mais pessoas, algumas eram testemunhas oculares e outras foram atraidas pelo barulho. Em primeiro momento acionamos a policia e ficamos aguardando a sua chegada.
Não demorou muito tempo, chegaram ali alguns jovens e começaram indagar sobre o ocorido e logo sairam. Minutos depois voltaram e junto estava o individuo que causou o acidente. Num gesto de grosseria, apoiado pelos colegas, mais uma vez ele se exaltou, xingou e culpou o menino sobre o ocorrido e só não o espancou porque estavamos por perto. Depois que ele desabafou toda a sua ira, comecei então a falar com eles. Parecia que ele e os demais do grupo estavam cegos, viam apenas os estragos causados no veiculo, não conseguiam ver a vida daquele menino. Quando os interrompi e comecei a lhes falar que ali havia um ser humano e este merecia respeito e que houve injustiça na forma como tratara a vítima, foi como se aquele sujeito levasse um soco. Percebi que houve um impacto, ele passou temer a justiça pois a policia estava prestes a chegar. Então começou a pedir acordo propondo pagar os prejuizos para que não fosse feito a ocorrência. Havia ali dois grupos, de um lado estava um grupo de populares presente pedindo que fosse feito justiça e que ele pagasse pelo agravo contra a vida do menino e do outro lado um grupo de jovens, que não presenciaram o fato, mas culpavam a vítima e defendiam os danos causados ao veiculo. Todos ali sabiam que ele era o errado, pois havia entrado na esquina em alta velocidade sem dar sinal de alerta e não esperou o ciclista passar. Ele ficou zangado, pertubado, fez ameaças e além de tudo evadiu-se do local sem prestar socorro à vitima. Havia uma tensão muito grande, dois gupos, dois olhares diferentes, um defendia a vida e outro o poder aquisitivo. Estava nas nossas mãos entrega-lo, ou livra-lo da justiça. A vítima trabalhava durante o dia em um bairro distante de onde ocorreu o acidente e saia do trabalho direto para a escola. Naquele horário ele vinha da aula, exausto e com fome - depois de termos resolvido o problema ele nos contou. Devido ao cançaso e a demora da polícia me disse que queria fazer um acordo com aquele jovem. Chamei os dois e juntamente com os populares, ficou então concordado entre as partes que ele levaria a bicicleta do menino à uma oficina e mandaria reforma-la.
Imediatamente, sem reclamar ele pegou a bicicletae levou-a para sua casa. E todos os presentes foram saindo cada qual à sua morada.
Mais ou menos duas horas depois os policiais chegaram ao local, dissemos à eles que as partes fizeram um acordo e já haviam ido embora. Alguns populares ficaram insatisfeitos, não queriam que aquilo terminasse ali daquela forma, queriam que fosse resolvido judicialmente e que o rapaz pagasse pelo agravo e desrespeito a vida, de acordo com a lei. Sei que poderiamos fazer isso, mas a parte agravada foi quem pediu para fazer o acordo, eu também não queria que terminasse assim, mas sei que o susto que aquele sujeito levou o fez durmir pensando minuciosamente nas suas ações. E com certeza naquela noite ele aprendeu três boas lições; a primeira, o valor da vida, a segunda, o valor do perdão e a terceira, dirigir com mais atenção.
Autor: Evanio Araujo
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