'a Ilha Dos Amores'



Como nos diz Augusto Maurício em "O Solar D"El Rei" (1), "Num dia que não foi fixado, mas que há certeza de ter sido em fins do ano de 1808, partiu D. João da Ilha do Governador, onde estivera em rápida palestra com os padres beneditinos, com destino à Santa Ana de Macacú, na Província do Rio de Janeiro. Pretendia entregar-se no convento franciscano da localidade a mais um retiro espiritual, tão do seu agrado.

Ainda na Ilha do Governador, o príncipe fora advertido da temeridade da viagem naquele dia, pois o tempo apresentava-se ameaçador e não tardaria a desabar tremenda tempestade. D. João, porém , não se intimidou, pois confiava nos braços hercúleos dos seus 23 remadores algarvios que trouxera de Portugal e na capacidade de resistência do galeão real, para enfrentar a bravura do mar.

Porém, pouco depois de haver zarpado da Ilha do Governador, começou a chover copiosamente, a soprar um forte vento de sudoeste e a encapelar-se o mar, fazendo com que o leme manobrado por Francisco Laranja, não mais obedecesse com a docilidade costumeira aos esforços do profissional.

Enormes vagalhões iam e voltavam, batendo impetuosamente no casco do galeão real mas, pouco a pouco, a tempestade foi se amainando e o barco, no vai e vem do mar,  foi sendo arrastando, desgovernado, para uma praia próxima.

Estava D. João em Paquetá...

E quando o povo viu dar à praia a embarcação do Príncipe Regente, correu pressuroso a recebê-lo e uma das figuras mais destacadas do lugar, o negociante português Francisco Gonçalves da Fonseca, pôs logo à disposição do príncipe a sua casa, na Rua dos Muros, atual R. Príncipe Regente, aonde hoje se encontra a Biblioteca Regional de Paquetá.

Assim nasceu o amor de D. João por nossa Ilha e foi graças a esse episódio que durante muitos anos êle visitou Paquetá, hospedando-se sempre na casa do seu novo amigo Francisco Gonçalves da Fonseca".

Mas por que razão D. João VI chamava Paquetá de "A Ilha dos Amores" ? ...

A resposta talvez possa ser encontrada nas estrofes 68 a 95 de "Os Lusíadas", de Luís de Camões, no seu canto IX  ( 4.9.1 – A Ilha dos Amores ).

Nele o autor exalta as realizações dos navegadores portugueses que, depois de muitas peripécias, seguem para o Sul , na direção do Cabo da Boa Esperança, desejosos de voltar à pátria para relatar as ocorrências da viagem e é então que Vênus, a deusa da criatividade, imagina um meio de recompensá-los com um prêmio, por todas as dificuldades enfrentadas e, então, auxiliada por Cupido, seu filho, prepara-lhes uma ilha maravilhosa onde as ninfas esperam por eles, para amá-los...

É  "A Ilha dos Amores", nessa estória de Camões, que certamente era bem conhecida por D. João VI que, então , a compara com Paquetá, a que chama também de "A Ilha dos Amores", na provável esperança de que Vênus e Cupido também houvessem colocado aqui , à sua espera , algumas ninfas para amá-lo ...

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– "O Solar D"El Rei", de Augusto Maurício , Departamento de Imprensa Nacional , 1949 ,  RJ , pgs.34 e seguintes.


Autor: Marcelo Cardoso


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