Estatutos morais
Fez-se desmascarada a professora quando uma aluna revelara, em tom amistoso e ingênuo, que tinha conhecimento de que a filha adolescente da mestra iria para o show e faltaria à aula no dia seguinte, tendo obtido tal informação através da amizade que mantinha com a filha da professora. Momento este em que o clima ficou realmente pesado, pois a professora se irritou com a corrigida da aluna, dizendo que sua vida pessoal não lhe desrespeitava, bem como a direção que imprimia na educação de sua filha. A aluna, que não esperava pela severa bronca, desabou em prantos inconsoláveis. Um ensurdecedor silêncio se abateu sobre a sala.
Essa história, vindo à minha mente para me roubar o sono alguns anos depois, me lembra um artigo que li do Frei Betto, que também já faz muito tempo. Mas me recordo que no artigo se falava sobre o fato de o homem estar vivendo sobre o manto de dois estatutos morais, um na vida privada e outro na vida pública.
É como a história do comerciante que faz acalorado discurso a favor da pena de morte quando percebe que um pivete magricela lhe furtou um pacote de bolacha, mas que na hora de fechar o balaço financeiro do comércio, sonega imposto, e acaba por sonegar ao pivete a oportunidade de freqüentar uma boa escola pública.
A tradução filosófica do que a aluna do segundo colegial falou pra professora de matemática, é que o homem não pode viver sobre a égide de dois estatutos morais, e se o fizer, será um hipócrita. O comportamento ético é um só, e é empregado igualmente em todos os campos da vida, seja pública ou privada. O comportamento moral não aceita ajustes de conveniência.
Autor: Carlos Henrique Franchin
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