Consideração sobre a coragem e o amor



Tenho observado que há, nos tempos atuais, uma confusão muito grande acerca de conceitos importantes que merecem um melhor esclarecimento. O que hoje as pessoas chamam de coragem é covardia, e o que chamam de covardia, na verdade, é coragem. A crença das pessoas sobre o que é o amor também tem sofrido algumas deturpações. Mas na realidade isso tudo faz parte de um grande esquema de inversão de valores, tendência manifestamente predominante em sociedades que cultuam o poder e o dinheiro.

Tem-se entendido que o homem corajoso é aquele que enfrenta situações de violência, e que a essa violência responde também com violência. O considerado valente é, portanto, aquele que reage com violência, física ou verbal, às situações de adversidades com que lidamos diariamente. No imaginário fantasioso popular a idéia de um homem corajoso tem a ver com um homem de estrutura física avantajada, de feição sisuda, que senta de perna aberta, cospe no chão enquanto anda, trata mal sua mulher, etc.

Isso tudo na verdade é covardia, não coragem. Corajoso é o homem que responde com amor à violência, que consegue ter consideração e compaixão por aquele que, de alguma forma, lhe ofende. A coragem tem algo a ver com ficar contra todos pra ficar ao lado do certo. Corajoso é o homem que consegue ser doce e cortes ante às adversidades do cotidiano. A idéia que faço de homem corajoso é Jesus Cristo, e nesse caso não precisa nem falar a razão, pois todos conhecemos sua história. Outro exemplo é Gandhi, que em sua luta contra o Império Britânico não buscou matar seu inimigo, mas buscou matar no inimigo a vontade de matar; em sua desobediência civil, quando o guarda do Império lhe dava uma cacetada, Gandhi respondia com um olhar de doçura e compaixão, quando o guarda dava-lhe outra pancada, revidava com outro olhar repleto de compreensão e amor. Veja que esse homem era tão forte que as pancadas não acertavam nada além de seu corpo físico, não alcançando sua alma, e era corajoso porque não lutava com vistas a interesses seus, e sim interesses de uma nação.

Aliais, o amor. Amar é uma difícil tarefa, que pouco tem a ver com o que existe com um casal de namorados. Amar é um ato de coragem. A vontade que uma pessoa sente de ficar junta de outra, de abraçá-la e beijá-la, de com ela fazer sexo e se divertir em um parque ou shopping, a isso não se dá o nome amor. Amor é outra coisa. Esse sentimento que ocorre normalmente entre um casal de namorados chama-se paixão. A paixão é basicamente uma vontade que se deságua em outra pessoa. É, portanto, egoísta em sua essência. Já o amor pressupõe doação de si mesmo. Quem ama se doa. É o que ocorre normalmente com a maternidade. Disse Jesus, o homem que teve a Coragem de Amar a Humanidade: Amar é dar a vida. Isso não significa que quem ama morre para a outra pessoa, como se a morte lhe servisse de algo. Amar é dar a vida, não a morte. Isso significa que amar é abrir mão de si mesmo em razão do outro.

É isso.
Autor: Carlos Henrique Franchin


Artigos Relacionados


A Coragem E O Medo

Ausência Ferida

Te Amar

VocÊ Sabe O Que É Amar Sem Ser Amado

Loucura

O Amor

Amar, ExercÍcio De PaciÊncia