As fogueiras juninas como inconvenientes ambientais



Tradição secular, a fogueira de São João está se aproximando da época em que será vista como um costume proibitivo e não-recomendável, se não já começou a ser vista assim. Assim como o balão poliédrico a fogo, tem inconvenientes importantes que fazem a continuidade de seu uso ser algo nocivo, dessa vez para o meio ambiente, vide desmatamento e poluição.

Em época de sonoros debates sobre preservação das florestas e proposições de diminuição máxima de emissões de gases de efeito-estufa e poluentes, os fogaréus juninos vêm sendo escancarados como elementos causadores de um impacto ambiental notável e evitável, o qual nunca foi quantificado em dados mas é fortemente perceptível antes e durante os dias de festejo.

Dados sobre quanto de madeira é retirado a cada ano de matas virgens, reflorestadas ou de plantação para a montagem de fogueiras no Nordeste são difíceis de ser encontrados, mas, percorrendo-se avenidas e estradas de muitas cidades nordestinas, pode-se ter uma ideia de que houve um significante estrago nos ecossistemas explorados para tal fim, em especial em áreas de Mata Atlântica – incluindo brejos de altitude – e de Caatinga.

As pilhas de lenha à venda para confecção de fogueiras são enormes e lembram predominantemente troncos e galhos de árvores de vegetação tropical ou semiárida. Como raramente há garantia de que vieram de manejo florestal, pode ser deduzido que a cada ano é feito um significativo dano, infelizmente jamais medido ou sequer estimado em números, nas matas nordestinas. Contudo, não há nenhuma lei, pelo menos em Pernambuco, regulamentando a extração de madeira para fins de comemoração das festas juninas.

Além do evidente desmatamento anual que o São João “provoca”, chama atenção também a poluição gerada. A queima da lenha gera uma relevante fumaça que, além de ameaçar a saúde de quem está próximo, suja substancialmente o ar. Uma única fogueira parece não fazê-lo tanto, mas, quando observamos, por exemplo, uma praça rodeada por seis fogueiras, o ar torna-se irrespirável e a fumaça em cima da área toma um aspecto quase espesso, lembrando um pequeno incêndio florestal.

Não é só o ar sujo que depõe contra a fogueira junina, mas também o clima terrestre como um todo. Talvez apenas um fogo pareça desprezível quando se considera a atmosfera do planeta, mas, quando somamos os milhares ou talvez milhões de fogueiras acesas no Nordeste na segunda metade de junho de um ano, percebemos a emissão de toneladas e toneladas de gases-estufa altamente poluentes, contribuindo para as perversas mudanças climáticas globais. Quando multiplicamos por 15 anos então, a “ajuda” dada ao efeito-estufa é bastante pomposa.

A consciência que reconhece os inconvenientes ambientais da fogueira, no entanto, ainda é incipiente na região e, conseqüentemente, a resistência cultural ao abandono desse costume ainda é grande, tanto quanto a intransigência perante os apelos de defensores animais sobre a crueldade contra animais presente nas vaquejadas.

Considerada essa realidade, o surgimento de uma campanha na mídia pela aposentadoria das fogueiras de São João, semelhante à feita contra os balões poliédricos que corriam o risco de causar incêndios, é esperado para os próximos anos. Fica aqui a recomendação de que comece o quanto antes, pelo menos de forma gradual, tendo tão logo um pontapé inicial com, por exemplo, Caruaru abandonando o costume em prol de um São João ecologicamente correto e ensinando às pessoas que a fogueira é um estorvo ambiental que não faz falta para os festejos.
Autor: Robson Fernando


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