Um novo ensino – Artur Victoria desenhou - o para o CLIP – Colegio Luso Internacional do Porto



Um novo ensino – Artur Victoria desenhou - o para o CLIP – Colegio Luso Internacional do Porto


O ensino na sala de aula tradicional apresenta, em muitos casos, sérios problemas.

Há professores altamente qualificados, mas que não sabem comunicar com os alunos.

Há outros que tem relações excelentes com os seus pupilos e sabem ensinar, mas que fraquejam academicamente.

Há ainda professores excelentes em todos os sentidos. A estrutura rígida da escola tradicional nã permite nem esforços conjuntos, nem possibilidade de diálogo efectivo.

A sala de aula é assim um lugar solitário, tanto para professores como para alunos, vendo cada qual no outro, em muitos casos, motivos de rivalidade. O currículo é o grande elo de ligação.

Mas o currículo, por sua vez, consiste numa série de cursos apresentados desconexadamente. O aluno passa duma disciplina para outra sem que, na miar parte das vezes, exista qualquer fio unificador. Os cursos duma mesma disciplina são escolhidos e aprendidos sem uma sequência lógica.

Promover uma discussão generalizada sobre estes assuntos não pode resultar. Quase todas as pessoas resistem tentativas de mudança. Educadores, mais do que ninguém.

O seu mundo é de tal maneira frágil que qualquer tentativa de intervenção nesse micro - cosmos que é a sala de aula, põe em funcionamento mecanismos de auto - defesa que podem ir da obstrução ao conflito formal e generalizado.

A análise do problema em plenário ou em grupos pequenos não pode resultar, nem ser tentada. É necessário mudar atitudes, e isso é muito difícil. Urge criar um motor, um grupo de professores activo e respeitado, que possa impulsionar o organismo inteiro. O uso como catalizador da necessidade sempre presente de desenvolvimento profissional.

A proposta da escola internacional que Artur Victoria criou para o Colégio Luso Internacional do Porto assenta em cinco princípios:


1 Ensino em equipe: O isolamento da sala de aula foi quebrado, e a desconexão do currículo eliminada. Uma equipe de quatro professores das disciplinas consideradas principais (língua e literatura, estudos sociais, ciências e matemática) encarrega - se do seu ensino a um grupo de vinte alunos. A sua acção individual e em grupo é coadjuvada na sala de aula por voluntários da comunidade, ou por alunos mais velhos, actuando como ajudantes. Duas horas semanais estão programadas para reuniões, onde os tópicos curriculares são discutidos, e o progresso de cada aluno analisado.


2 Educação cooperativa: uma metodologia velha com roupagem nova. A função magistral não é eliminada pelo trabalho em grupo, mas a tensão entre o professor e os alunos é grandemente atenuada. Esta metodologia é vulgarmente descrito pela metáfora: o aluno trabalha, o professor treina. (Em inglês soa melhor: the student as worker, the teacher as coach). O papel do professor é o de expor a matéria, organizar o ambiente da aula, e supervisar os alunos, individualmente e em grupo. Os alunos são responsabilizados pela sua própria educação. Agrupados heterogeneamente, eles são motivados a aprofundarem a matéria em questão, e são feitos responsáveis pelo progresso de cada um e do grupo.
O objectivo é o de criar uma mentalidade diferente: a de que todos somos responsáveis uns pelos outros; que responsabilidade social não depende de uma autoridade, nem de um governo todo-poderoso, nem de uma noção de estado impessoal e dominadora.
O objectivo pretendido é o de promover cooperação criadora, e de não cair no perigo óbvio que é o conformismo apático de grupo, com todas as suas características nefastas de grupismo e de” group think". Neste aspecto, a escola está muito aquém da empresa comercial e industrial, onde esquemas semelhantes, como os grupos de qualidade, há muito que são utilizados.


3. Educação multi-cultural: o estudo da sociedade humana em todas as suas formas e matizes, passando pela análise de quem somos como indíviduos e como grupo é feito metódica e sistematicamente. Para além do intercâmbio curricular entre os programas bilingue e monolingue, iniciaram-se já cursos específicos para o estudo de línguas e culturas diferentes. Através do programa de geminação de cidades, os alunos do curso de Estudos Japoneses passarão dez dias no Japão, como parte do currículo. Este programa piloto será alargado à Russia, Itália, Portugal, França, e países de língua espanhola.


4. Governo democrático: uma escola governada democraticamente organiza os seus componentes de tal maneira a haver uma contínua entreligação de esforços, uma distribuição de responsabilidades consoante as funções a exercer, a criação de estruturas que permitam o diálogo franco, a análise objectiva (aqui resultado da interacção de recursos, situações, e objectivos), a evolução contínua e programada. Os órgãos governativos desta escola, a que chamamos A Academia, são estruturados segundo a relação natural de cada um dos seus elementos para com a escola. Assim, há um Conselho de Alunos, um Conselho de Pais, e um Conselho de Professores. Delegados destes três conselhos, juntamente com a administração formam o Conselho Geral da Academia. Este conselho, por sua vez, está dividido em comissões responsáveis por diversas áreas curriculares e administrativas. Estes conselhos têm uma função consultativa.


5. As artes são indispensáveis para a compreensão de quem realmente somos como indivíduos membros duma cultura, por sua vez integrada em círculos culturais mais alargados. Através do estudo e da prática artísticas é possível descobrir, perceber, e sentir a verdadeira natureza da cultura com quem convivemos, quando as palavras falham e os conceitos não chegam.
Pretendemos formar homens e mulheres capazes de funcionarem num mundo que exige cooperação criadora, respeito mútuo, acima de tudo a capacidade, não tanto de saber coisas, mas de saber como aprender, de auto - educação, de investigação sistemática. O mundo da empresa e da função pública não precisa de autómatos treinados, mas de técnicos pensantes e competentes para actuarem independentemente segundo os objectivos acordados, e em qualquer altura.
Estamos num mundo em que a relação de pessoas e de povos se rege cada vez mais pelo conceito da reciprocidade. Esta noção não é, no entanto, fácil conceber-se hoje uma escola, um sistema de educação, uma metodologia monocultural, é conceber o absurdo: é querer parar a história do nosso desenvolvimento. A universalidade do ser humano, em todas as suas dimensões e com todos os seus atributos, é hoje mais do que um sonho visionário: começa a ser mesmo uma realidade.

Deste modo, a escola dos nossos dias, eminentemente internacional, tem uma missão profética: a de ser hoje o laboratório da realidade futura.

Educação internacional é de facto a nova fronteira do nosso desenvolvimento. Essa fronteira não pode, todavia, ser atingida pela mera conquista de situações novas, por avanços tecnológicos, por descobertas cientificas.

Estas só apontam para o verdadeiro marco limitador dessa fronteira: o conhecimento mais profundo da nossa natureza e do mundo, pois como disse o grande poeta modernista anglo-americano T. S. Eliot numa sintese maravilhosa:
We shall not cease from exploration And the end of alI our exploring Will be to arrive where we started And know the place for the first time.
Nós não cessaremos de explorar E o fim de toda a nossa exploração Será chegar aonde começámos E conhecer o lugar pela primeira vez.
Autor: Artur Victoria


Artigos Relacionados


Desafios Da Educação

O Ensino Da História No Ensino Médio

As Competências Para Ensinar

Ensino Da Lingua Padrão E As Novas Concepções No Processo Do Ensino-aprendizagem

Para Ensinar é Preciso Amor

A Tecnologia Na Educação Básica

A Falta De MotivaÇÃo Profissional Do Professor