O Jogo Da Narração Em To The Lighthouse



A narrativa, construída sob o fluxo de consciência, por meio do emprego do monólogo interior indireto, revela o que acontece na mente das personagens, o que acaba por envolver o leitor que, a partir das interligações dos pensamentos, constrói o sentido. O monólogo interior indireto permite que as perspectivas de todas as personagens e suas lutas internas sejam apresentadas pela voz narrativa em terceira pessoa. Há o uso de um elemento de incoerência intencional, visto que os significados são propositalmente vagos e sem explicação, tal como os pensamentos do inconsciente.

Durante a leitura de To The Lighthouse tem-se a impressão de que, a cada momento, é um personagem que está colocando os seus sentimentos e pontos de vista no texto, ainda que não haja parênteses ou outro sinal gráfico que designe a voz de algum personagem. Porém, o que realmente acontece é que o narrador possui uma voz que é ao mesmo tempo onisciente, mas compartilha das incertezas das personagens.

A esse recurso dá-se o nome de pluralidade dos sujeitos, segundo Auerbach (1971). A voz narrativa parece pertencer a personagens diferentes durante o curso da narrativa. Dessa forma, a realidade autêntica e objetiva é mostrada a partir de diversas impressões subjetivas. Esse processo de multiplicidade da consciência começou a ser empregado a partir da Primeira Guerra Mundial, quando o homem iniciou uma ampliação de suas perspectivas, pensamentos e conhecimentos.

Um exemplo é quando o narrador descreve os sentimentos de James em relação ao pai quando este diz que o tempo não estará bom. A forma como se apresenta as vontades de James naquele momento parece vir da própria fala do garoto, embora ele não tenha dito nada a ninguém: "Had there been an axe handy, a poker, or any weapon that would have gashed in his father's breast and killed him, there and then, James would have seized it"[1] (WOOLF, 1927, p.6)

A voz narrativa não tem um papel inocente no texto. Da mesma forma que não é a entidade detentora de todo o conhecimento sobre as personagens e os acontecimentos. Ela deseja guiar o leitor ao entendimento de uma verdade complexa descoberta por James no caminho do farol: "Nothing was simple one thing"[2] (WOOLF, 1927, p.211).

Os conflitos interiores são trabalhados e só são resolvidos no final da narrativa. Os dois pontos mais importantes da obra são a pintura de Lily e a chegada de Mr. Ramsay ao farol. Somente depois do falecimento de Mrs. Ramsay, ela é compreendida e Lily tem a revelação que possibilita o término do quadro de Mrs. Ramsay. Mr. Ramsay se redime de sua rispidez com a esposa, realizando o desejo da mulher de levar o filho James até o farol e percebendo que, apenas na ausência, pôde entender a verdadeira importância da esposa. O enredo se estrutura em torno desses dois objetivos que representam a oposição de vida e morte que constrói o livro.

Referências:

AEURBACH, E. A meia marrom. Mimesis – a representação da realidade na literatura ocidental. São Paulo: Perspectiva, 1971.

BISHOP, E. Macmillian Modern Novelists – Virginia Woolf. Hampshire: Macmillian,1991.

HUMPHREY, R. Stream of Consciousness in the Modern Novel. Berkeley, University of California Press, 1968.

LEVENSON, M. The Cambridge Companion to Modernism. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.

WOOLF, V. Modern fiction. In: The Common Reader, First Series. London: Hogarth Press, 1925.

WOOLF, V. To the Lighthouse. London: Penguin Books, 1927.




Autor: Juliana Pimenta Attie


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