A Reflexão Silenciosa Que Permeia “to The Lighthouse” De Virginia Woolf



A linguagem da novela também prioriza os aspectos submersos das palavras, pois o verdadeiro significado das sentenças não é o que foi dito nos diálogos, mas sim o que se interpreta por meio das frases ditas. Além disso, a reflexão silenciosa é de grande importância em todo o livro. O sentido relevante é aquele que aparece através da conotação e da combinação das palavras na sentença.

Lily, principalmente, é a personagem que indica claramente que as palavras em si, muitas vezes, não são suficientes para expressar os sentimentos. Quando ela quer falar a Carmichael "About life, about death, about Mrs Ramsay"[1] (WOOLF, 1927, p.202) ela não consegue expressar toda sua angústia: "For how could one express in words these emotions of body?"[2] (WOOLF, 1927, p.202).

Muitas vezes, a linguagem do silêncio conjuga-se à usual. Depois do jantar, na última cena da primeira parte, o desentendimento inicial a respeito do clima ainda não terminou. O casal Ramsay passa uma cena toda em frente um do outro sem trocarem sequer uma palavra significativa, apesar de um estar pensando em seus sentimentos sobre o outro. Mrs Ramsay precisa ouvir a voz áspera e reprovadora de seu marido confirmando que eles não vão ao farol. Ele não fala diretamente, mas o fato de afirmar que ela não terminará a meia até a noite funciona como um símbolo, considerando que esta é uma forma de linguagem cujo sentido convencional (direto) designa outro que está latente por meio de uma analogia. Mrs Ramsay entende muito bem e concorda com o marido consolidando a relação dos dois e resolvendo a disputa travada desde o início do livro.

Dessa forma, pode-se entender que não é preciso muitas palavras para comunicar os sentimentos, desde que se entendam todos os recursos da linguagem, no caso, muitos símbolos, como a meia que está sendo tricotada para o filho do faroleiro, comunicam tanto quanto e até mais que extensos diálogos. Em To The Lighthouse a linguagem deve ser entendida a partir de sua natureza poética por incorporar uma experiência e representá-la de maneira não-conceitual, ou seja, indizível. Quando Mrs Ramsay observa o farol, ela inicia um processo de perda do 'eu', em que não é necessário pensar, nem falar: "... to think; well not even to think. To be silent, to be alone"[3] (WOOLF, 1927, p.60). Percebe-se, então, a mistura de gêneros literários existentes na obra. O livro deve ser lido e analisado sob perspectiva poética, estilo em que normalmente encontra-se as características de linguagem citadas anteriormente, entremeada à reflexão filosófica.

Este processo de transição da visão analítica para a contemplativa, é uma característica mais efetiva em Mrs. Ramsay, já que ela, ao falar de algum assunto, não se preocupa em analisar, julgar e criticar, como se fosse um estudo. Pelo contrário, essa personagem mostra ao leitor por meio do fluxo de suas memórias e utilizando a reflexão silenciosa, apenas sua relação e impressão subjetiva sobre personagens e situações, como se mostrasse uma obra de arte para ser apreciada. O narrador também usa outros recursos lingüísticos, como aliteração, assonância e repetição de palavras, para indicar a introspecção nas outras personagens. Na passagem

and pausing there she looked out to meet that stroke of the Lighthouse, the long steady stroke, for watching them in this mood always at this hour one could not help attaching oneself to one thing especially of the things one saw; and this thing, the long steady stroke, was her stroke (WOOLF, 1927, p.73)[4]

a repetição das palavras "one" e "stroke" exercem um efeito hipnótico que simboliza a conjunção de Mrs. Ramsay, sentada em frente a janela, com o feixe do farol.




Autor: Juliana Pimenta Attie


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