Turismo e Desenvolvimento Local



TURISMO E DESENVOLVIMENTO LOCAL

A expansão do fenômeno turístico e o rápido decorrer da atividade, nas mais distintas latitudes do mundo nas últimas décadas, tem sido objeto de estudo, por diversos experts da área. Um dos motivos pelo qual o turismo tem se expandido tanto, é por causa da globalização, já que para ela as fronteiras são quase inexistentes. Também isso se deve ao aumento de tempo livre por causa das reformas trabalhistas, que tendem a reduzir as jornadas de trabalho, promovendo algo que hoje se pode traduzir como sociedade do bem- estar.

A grandiosa evolução quantitativa se deve a mobilidade de pessoas e recursos, o que permite afirmar com muita consciência que o turismo tem uma grande capacidade para dar condições ao desenvolvimento social e econômico nos destinos. Poucos subsetores da economia possuem essa versatilidade e flexibilidade para adaptarem-se as condições próprias de cada localidade, e, é exatamente por isso que discorrer sobre turismo e desenvolvimento local tem sido cada vez mais habitual.

Para chegar à compreensão sobre os possíveis impactos positivos gerados pelo turismo é preciso levar em consideração uma série de fatores e não somente reproduzir números. Com isso, é preciso entender o sentido da palavra desenvolvimento.

Por muito tempo, se pensava em desenvolvimento, avaliando somente a o crescimento econômico e a riqueza material, esquecendo que o mesmo, tem que provocar mudanças que não sejam somente superficiais, mas que perpassem questões sociais de maneira profunda, pois para que ele ocorra, é preciso que, também seja feito distribuição de riquezas nas diversas áreas, como saúde, educação, cultura, habitação e infra-estrutura. O desenvolvimento não deve somente estar ligado à economia, mas deve abranger aspectos qualitativos e estar centrado nos grupos humanos. O Estado deve ser o principal promotor desse processo.

Coriolano (2003a) diz que, para que o desenvolvimento tenha um caráter mais abrangente, e de sentido social, é preciso que se mensurem questões como: índice de realização dos desejos, educação, solidariedade, realização humana, muito embora essa seja uma tarefa difícil, pelo fato do método cientifico clássico não considerar a subjetividade.
Ela ainda afirma, que:
O desenvolvimento, para ser definido como social precisa estar voltado para as necessidades humanas, tornar as pessoas auto-independentes e habilitadas para o trabalho e para a vida comunitária. Implica o desenvolvimento dos indivíduos como pessoa e como grupo, organizados como sociedade civil para se tornarem protagonista de seu desenvolvimento e do desenvolvimento de seu lugar...


Castro apud Adas (1998, p.90), diz que: “crescer é uma coisa; desenvolver, outra. Crescer é em linhas gerais fácil. Desenvolver equilibradamente, difícil”. Diante desta perspectiva, se pode afirmar que poucos são os países que conseguem essa confluência, e que a maior parte do mundo de alguma maneira se encontra em processo de desenvolvimento, por não ter alcançado esse nível de equilíbrio, pois na maioria das vezes existe um grande descompasso entre, ser rico economicamente e socialmente desenvolvido.

Segundo Coriolano (2003b, p.162):

Entende-se por desenvolvimento um processo de produção de riqueza com partilha e distribuição de equidade, conforme as necessidades das pessoas, ou seja, com justiça. O desenvolvimento não se refere apenas à economia, ao contrário a economia deve ser tomada em função do desenvolvimento.


Partindo do pressuposto que o turismo é uma atividade que ocorre em escala global e local, assim como o desenvolvimento para ser alcançado deve ter a mesma ênfase, é preciso estar atento as conjunturas sociais e econômicas de cada lugar e fazer uma análise minuciosa para detectar todos os elementos que podem transformar a atividade, em algo que traga de fato o desenvolvimento.

A importância que o turismo tem para a geração de receitas de um país é indubitável, mas, algo que tem sido alvo de questionamento, é se a atividade turística, através de todos os números expressados por meio de dados de instituições responsáveis e pelos governos, proporciona um crescimento que atinja as mais variadas camadas da sociedade, fazendo com essas divisas circulem de maneira eqüitativa, não esquecendo os impactos ecológicos, sociais, culturais que devem ser valorados no resultado final.

Segundo Hidalgo (1996) o saldo final, que vai poder verificar se o turismo tem causado impactos positivos, ou seja, levado de fato um território ao crescimento econômico acompanhado de melhoria de vida, vai depender muito do grau de desenvolvimento que cada lugar possui. No caso dos países desenvolvidos já existe uma infra-estrutura social, comercial e normativa que proporciona um contexto mais favorável para a atividade turística o que por vez nos países em desenvolvimento, o turismo que chega para estabelecer essa infra-estrutura, além de que o progresso está quase sempre impulsionado pelos critérios financeiros dos promotores da área e das empresas multinacionais e precisam ser alcançados em curto prazo, é nesse contexto está a dialética da atividade turística.

É evidente que a atividade turística tem uma importância econômica muito grande, mas deixar de pensar no turismo como algo que faz parte de um fenômeno social, político e ambiental é esquecer a sua multisetorialidade o que pode causar sérios problemas para articulação dessa atividade de extrema complexidade. Por isso, para que o turismo possa proporcionar impactos positivos expressivos, é importante que haja um olhar voltado para os territórios aonde essa atividade vai ser desenvolvida, e que dentro desses espaços a população pobre seja beneficiada.

Falar de turismo relacionado com as necessidades dos pobres é algo muito complexo, uma vez que no país em desenvolvimento, e como qualquer outro país que segue a lógica capitalista, o capital não se submete ao ser humano e sim o ser humano ao capital. Mediante essa conjuntura, onde as relações, comunidade local versus turismo são geralmente conflituosas, pelo fato da atividade turística, nesses países, possuir um caráter de extensão colonialista é quase impossível afirmar que os modelos de turismo já convencionados, exercem muitas influências positivas para essas populações. Na maioria das vezes, o turismo se desenvolve em áreas fragilizadas, dentro de um contexto de pobreza e esquecimento, e as comunidades locais ficam remetidas como sempre a marginalização e como donas do território acabam vivendo de acordo como o que estabelece a atividade turística e não a comunidade local estabelece como quer essa atividade turística. Krippendorf (1989, p.99), por sua vez, afirma que “quanto menor for o "desenvolvimento" da região receptora, maior será a intensidade dos efeitos negativos socioculturais do fluxo turístico sobre a população local”.

O turismo com ênfase no desenvolvimento local, precisa estar voltado para as peculiaridades do território e da comunidade autóctone. Buarque (2002.p.25), salienta que:

O desenvolvimento local é um processo endógeno de mudanças, que leva ao dinamismo econômico e a melhoria de qualidade de vida da população em pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos. Para ser consistente e sustentável, o desenvolvimento local deve mobilizar e explorar as potencialidades locais, contribuindo para elevar as oportunidades sociais e a viabilidade competitiva da economia local; ao mesmo tempo deve assegurar a conservação dos recursos naturais locais, que são a base das suas potencialidades e condições para a qualidade de vida local. Esse empreendimento endógeno normalmente demanda um movimento de organização e mobilização da sociedade local, explorando as suas capacidades e potencialidade própria, de modo a criar raízes efetivas na matriz socio-econômica e cultural da localidade.

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Neste panorama é relevante mencionar que cada planejador local, deve executar o seu próprio modelo de turismo, que esteja compatível com suas peculiaridades ambientais, para que se possa viabilizar o desenvolvimento e não copiar modelos de desenvolvimento turístico que não tenham haver com a realidade local e destrua a harmonia do meio ambiente, devastando a cultura do lugar, esgotando os recursos naturais e não compartindo as divisas de maneira igualitária, ou seja, provocando um colapso social. Por tanto, talvez, mais que qualquer outra atividade econômica, o turismo, combina dinamicamente recursos endógenos e exógenos, que bem correlacionados, propõem todo um volume de benefícios sociais, econômicos, ambientais e culturais, em suma, leva ao desenvolvimento local.


BIBLIOGRAFIA


ADAS, Melhem. Panorama geográfico do Brasil: Contradições, impasses e desafios. 3. ed. São Paulo: Moderna,1998. p.190.

BUARQUE, S.C.. Construindo o desenvolvimento local sustentável. Rio de Janeiro: Gramond, 2004. 180 p.

CORIOLANO, Luzia Neide, M.T. Disponível em: http://www.naya.org.ar/turismo/congreso2003/ponencias/ O Desenvolvimento voltado às condições humanas e o turismo comunitário. 2003a.

_________, Luzia Neide M.T Disponível em http://www.pasosonline.org/Publicados/1203/PS040603.pdf.Coriolano. Os limites do desenvolvimento e do turismo. 2003b.

HIDALGO,M. Turismo en paises perifericos: efectos sobre la relacion real de intercambio. V Jornadas de economía crítica. Santiago, 1996.

KRIPPENDORF, Jost. Sociologia do turismo. Para uma nova compreensão do lazer e das viagens. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1989.p.98
Autor: Michele


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